Bolsonaro fala em 'último recado' a voto impresso e mostra supostos laudos
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a defender o voto impresso nas eleições de 2022 e disse que poderia comparecer a uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, para dar o que chamou de "último recado" em favor da proposta.
Em conversa com apoiadores na manhã de hoje, Bolsonaro também apresentou dois supostos relatórios da Polícia Federal que atestariam a possibilidade de fraude nas eleições e fez novas críticas ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso. O UOL entrou em contato com a PF e aguarda posicionamento.
Um dos documentos, que Bolsonaro afirma ser de 2016, diz que não seria possível auditar o voto do eleitor com o extrato emitido pela urna eletrônica após o encerramento da votação. O outro, que seria de 2018, recomendaria, segundo o presidente, a adoção do voto impresso para fins de auditoria.
"Vocês acreditam no relatório da PF ou na palavra do ministro Barroso?", disse Bolsonaro aos apoiadores na saída do Palácio do Alvorada. A conversa foi transmitida ao vivo pelo perfil do presidente no Facebook.
Senhor Barroso, a tua palavra não vale absolutamente nada (...). Não serão admitidas eleições duvidosas no ano que vem. O Brasil vai ter eleições o ano que vem, mas eleições limpas, democráticas. Quem ganhar, vai assumir em 2023.
Jair Bolsonaro, Presidente da República
Os documentos apresentados hoje por Bolsonaro não foram mencionados na "live" da última quinta-feira (29), na qual o presidente apenas reciclou teorias e fatos já desmentidos para alegar fraude nas eleições.
O UOL entrou em contato com a Polícia Federal para confirmar a autoria dos relatórios e aguarda retorno. A reportagem também entrou em contato com o TSE para pedir posicionamento sobre as declarações de Bolsonaro.
'Último recado' por voto impresso
Bolsonaro disse ainda que pode ir a uma manifestação em São Paulo para mandar o que chamou de "último recado" sobre o voto impresso. Sem ser claro na ameaça, o presidente disse que vai "fazer que a vontade popular seja cumprida" caso chegue à conclusão de "que o povo está comigo".
No entanto, Bolsonaro não disse o que pretende fazer caso chegue a essa conclusão, nem no que se baseia para avaliar que povo defende o voto impresso.
"Se o Barroso continuar sendo insensível, como parece que está sendo insensível com um processo contra mim, se o povo assim desejar, porque eu devo lealdade ao povo brasileiro, [faremos] uma concentração na [Avenida] Paulista para darmos o último recado para aqueles que ousam açoitar a democracia", disse.
Ele ainda repetiu que 'joga dentro das quatro linhas das Constituição" antes de voltar a alfinetar o presidente do TSE. "Mas o Barroso tenho certeza que joga fora. Eu não vou deixar de cumprir meu dever de presidente da República."
Briga é com Barroso, não com TSE, diz Bolsonaro
O presidente também afirmou aos apoiadores que sua briga não é com o TSE ou com o STF (Supremo Tribunal Federal), mas especificamente com o ministro Barroso.
Ontem, o plenário do TSE aprovou a abertura de inquérito para investigar Bolsonaro por divulgar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. O tribunal também enviou notícia-crime ao STF para incluir o presidente no inquérito das Fake News.
"O que eu falo não é ataque ao TSE ou ao STF, é uma luta direta com uma pessoa apenas, Luís Roberto Barroso, que se arvora como dono da verdade, com uma pessoa que não pode ser criticada", declarou. "Não é caso de mostrar quem é mais macho. Aqui não abro de mão de mostrar quem respeitar ou não a Constituição."
Nunca houve fraude comprovada nas eleições
Apesar das recentes críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas, nunca houve fraude comprovada nas eleições desde que elas foram adotadas —parcialmente em 1996 e 1998 e integralmente a partir de 2000.
A constatação não é apenas do TSE, que organiza as eleições, mas também de investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e de estudos matemáticos e estatísticos independentes. Mesmo especialistas em segurança que defendem a adoção do voto impresso e o aprimoramento do voto eletrônico reconheceram ao UOL que ataques bem-sucedidos às urnas brasileiras são improváveis e dependeriam de uma combinação muito específica de fatores para ocorrerem.
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