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Aziz critica Bolsonaro por desfile de tanques: 'Ameaça de um fraco'

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

10/08/2021 10h12Atualizada em 10/08/2021 13h58

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), abriu a audiência de hoje com um discurso repleto de críticas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o desfile militar realizado em Brasília.

As Forças Armadas promoveram nesta manhã uma exibição pública de tanques de guerra e outros equipamentos bélicos. "Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção, inclusive desta CPI, e pela incompetência administrativa que provoca mortes, fome e desemprego em meio a uma pandemia ainda sem controle", disse Aziz.

Ontem, Bolsonaro usou as redes sociais para convidar autoridades para o desfile. Nenhuma compareceu. Os blindados passaram nesta manhã pelo Palácio do Planalto, e o chefe do Executivo acompanhou ao lado de comandantes militares, entre os quais o ministro da Defesa, general Walter de Souza Braga Netto.

Os tanques percorreram as vias da Esplanada dos Ministérios e também circularam pelos arredores da praça dos Três Poderes, onde estão localizadas as sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal —instituições às quais Bolsonaro tem feito críticas sistemáticas em razão de disputas políticas e/ou divergências de pensamento.

Fotos do desfile de tanques e blindados por Brasília

O ato tem sido visto por adversários de Bolsonaro como uma ameaça velada de ruptura institucional, pois ocorre no dia em que o Congresso Nacional deve confirmar a derrota em plenário da PEC (Projeto de Emenda à Constituição) que sugere a validação por meio impresso do voto na urna eletrônica. O presidente é entusiasta e defensor do projeto.

Aziz classificou o evento militar como uma "cena patética" "que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu".

"Todo homem público, além de cumprir suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu", disse o chefe da CPI da Covid, pouco antes do início da oitiva com o tenente-coronel Hélcio Bruno de Almeida. O depoente seria um dos intermediários na negociação entre a Davati e o Ministério da Saúde para compra de vacinas.

"O Brasil vive o maior período democrático de sua história. Desde 1985, temos eleições livres, instituições fortes e independência dos Poderes. Bolsonaro não tem o direito de usar a máquina pública para ameaçar a própria democracia que o elegeu".

O parlamentar citou a provável derrota da mobilização pró-voto impresso, capitaneada por Bolsonaro e aliados na Câmara dos Deputados, e disse que "a democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas".

"Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia —as instituições, com o Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. (...) Agressões à Constituição não são legítimas. Defender golpe não é aceitável. E defender o fim da democracia precisa ser punido com o rigor da lei."

"O presidente cria uma encenação, uma coreografia, para mostrar que tem o controle das Forças Armadas e pode fazer o que quiser com o país. É um absurdo inaceitável. Não é um teatro sem consequências, mas um ataque formal à democracia que precisa ser repudiado."

O discurso de Omar Aziz foi endossado pelos colegas da CPI da Covid e até mesmo senadores governistas manifestaram apoio.

Operação Formosa

O desfile de hoje faz parte de um evento que ocorre todos os anos, a Operação Formosa, mas esta é a primeira vez que os veículos militares passam por Brasília e são festejados pelo presidente da República. Também é a primeira vez que Exército e Aeronáutica participam da cerimônia, realizada desde 1988.

A Operação Formosa é realizada pela Marinha e consistia, até o ano passado, em um deslocamento iniciado no Rio de Janeiro em direção ao Campo de Instrução de Formosa, em Goiás. A área de cerrado pertence ao Exército e é cedida à Marinha por ser a única do país em que é possível realizar esse treinamento com uso de munição real.

Segundo as Forças Armadas, o principal objetivo é treinar militares da Força de Fuzileiros da Esquadra, sediada no Rio. Apesar da pandemia, a operação será maior do que nos anos anteriores. Em 2019, foram 1.900 militares, em 2018, 1.600. Em 2020, porém, apenas 500 militares participaram.

Na abertura da CPI da Covid, Aziz disse considerar que "o papel das Forças Armadas é defender a democracia, não ameaçá-la".

"Desfiles como esse serviriam para mostrar força para conter inimigos externos que ameaçassem nossa soberania, o que não é o caso. As Forças Armadas jamais podem ser usadas para intimidar sua população, seus adversários, atacar a oposição legitimamente constituída. Não há nenhuma previsão constitucional para isso."