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Diretor de farmacêutica diz que vacina é melhor maneira para vencer a covid

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

11/08/2021 15h43Atualizada em 11/08/2021 19h35

Executivo da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista afirmou hoje na CPI da Covid que a vacinação contra a covid-19 é a melhor maneira para que toda a população possa superar a pandemia do novo coronavírus.

"Somos os primeiros a incentivar o nosso corpo de funcionários a também proceder à vacinação, porque achamos que essa é a melhor maneira de a gente superar, o mais rápido possível, essa tragédia da pandemia", declarou.

A Vitamedic gastou cerca de R$ 717 mil para patrocinar a publicação em jornais de um "manifesto" do grupo "Médicos Pela Vida", composto por profissionais de saúde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defendia o chamado "tratamento precoce" com o uso de medicamentos que formam o kit covid, como cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D.

Estes remédios não têm eficácia comprovada para o tratamento da covid-19.

A ação e o valor foram informados ppr Batista, designado pela Vitamedic para depor hoje em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito, no Senado.

A Vitamedic está entre as principais farmacêuticas que vendem ivermectina no Brasil. A empresa entrou na mira do colegiado depois de confirmar, por meio de documentos, que a venda de caixas de ivermectina (um dos remédios do kit covid) cresceu 1.230% em 2020 na comparação com o ano anterior.

O Médicos pela Vida ganhou projeção entre os bolsonaristas depois de participar de uma audiência no Palácio do Planalto em 8 de setembro do ano passado. Uma das linhas de investigação da CPI da Covid indica que o grupo atuou informalmente, por intermédio do deputado Osmar Terra (MDB-RS), em assessoramento eventual ao chamado "gabinete paralelo".

De acordo com a testemunha, a Vitamedic foi procurada pelos médicos entusiastas dos mesmos medicamentos que, mesmo sem eficácia comprovada no tratamento do coronavírus, são incentivados por Bolsonaro e outros governistas (a exemplo da cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outros).

O objetivo do contato teria sido para custear a publicação de um "manifesto" em defesa do "kit covid".

"Eles [Médicos pela Vida] pediram o patrocínio e a Vitamedic assim o fez", afirmou Batista ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O executivo destacou que a empresa não buscou informações acerca do "mérito" do dito "manifesto". Pressionado pelos membros do colegiado, ele disse que, independentemente da "opinião" dos médicos parceiros, já havia uma forte demanda de mercado. A publicação ocorreu em fevereiro deste ano.

"Não entramos no mérito do conteúdo", observou o depoente.

Batista buscou defender que o conteúdo do manifesto não era somente sobre a ivermectina.

"Ele fala de corticoides e produtos para melhorar a imunidade, produtos anticoagulantes, tem uma série itens aí. Ele não é um manifesto em favor da ivermectina, eu queria deixar claro isto, que ele é um documento, inclusive, cujo conteúdo é de inteira responsabilidade dos próprios médicos e não da nossa empresa."

Jailton Batista negou que tenha articulado a propaganda da ivermectina com o presidente Bolsonaro.

Em abril desse ano, o MPF (Ministério Público Federal) ajuizou uma ação civil pública no Rio Grande do Sul contra o grupo Médicos pela Vida em razão da publicação do manifesto. O órgão considerou à época que a veiculação do documento —cujo conteúdo contraria o resultado de estudos científicos— causava "dano potencial à saúde e dano moral coletivo".

Entre outras medidas, a ação civil pede o pagamento de indenização no valor sugerido de R$ 10 milhões, como forma de reparação. O processo está em andamento.

O MPF também solicitou à Justiça que Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) seja condenada a adotar todas as providências de polícia administrativa em relação às peças publicitárias de autoria do Médicos pela Vida.

Na CPI, senadores da oposição criticaram duramente a atitude da Vitamedic por, mesmo que indiretamente, estimular o uso de um remédio sem eficácia comprovada em meio à gravidade da pandemia.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que vai pedir que a CPI encaminhe uma denúncia contra a Vitamedic e seus representantes por uma série de supostos crimes a partir do financiamento do manifesto, como curandeirismo, advocacia administrativa, corrupção ativa e passiva, e publicidade enganosa.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.