Senador diz que farmacêutica financiar manifesto pró-kit covid é 'cringe'
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou hoje ao diretor da farmacêutica Vitamedic, Jailton Batista, na CPI da Covid, que o fato de a empresa ter patrocinado a publicação em jornais de um "manifesto" em favor do chamado kit covid é "cringe".
O termo se tornou recorrente nas redes sociais nos últimos meses como uma gíria da geração Z (de nascidos entre o final dos anos 1990 e o ano 2000) para se referir a quem nasceu entre a década de 1980 e o fim da de 1990, os chamados millennials.
Vamos modernizar um pouquinho e falar a linguagem da internet. O que você e sua empresa fazem é cringe. Sabe o que é cringe? Algo vergonhoso. O que a Vitamedic fez com o Brasil é cringe. Como eu disse lá em Sergipe, isso é lorota."
Rogério Carvalho, senador (PT-SE)
A publicação a que o parlamentar se refere foi organizada pelo grupo "Médicos Pela Vida", composto por profissionais de saúde apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alinhados ideologicamente com o governo. O valor foi pago pela Vitamedic.
O termo "cringe", usado por Rogério Carvalho também é usado para designar algo que é digno de "vergonha alheia". O chamado "kit covid" é formado por medicamentos que não têm eficácia comprovada no tratamento contra a covid-19, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.
Sem entrar no "mérito"
A Vitamedic está entre as principais farmacêuticas que vendem ivermectina no Brasil. A empresa entrou na mira do colegiado depois de confirmar, por meio de documentos, que a venda de caixas de ivermectina cresceu 1.230% em 2020 na comparação com o ano anterior.
Questionado pelos senadores na CPI da Covid sobre o patrocínio ao manifesto, o executivo argumentou que a empresa não buscou informações acerca do "mérito" do dito "manifesto". Pressionado pelos membros do colegiado, disse que, independentemente da "opinião" dos médicos parceiros, já havia uma forte demanda de mercado. A publicação ocorreu em fevereiro deste ano.
Em abril desse ano, o MPF (Ministério Público Federal) ajuizou uma ação civil pública no Rio Grande do Sul contra o grupo Médicos pela Vida em razão da publicação do manifesto. O órgão considerou à época que a veiculação do documento —cujo conteúdo contraria o resultado de estudos científicos— causava "dano potencial à saúde e dano moral coletivo".
Entre outras medidas, a ação civil pede o pagamento de indenização no valor sugerido de R$ 10 milhões, como forma de reparação. O processo está em andamento.
O MPF também solicitou à Justiça que Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) seja condenada a adotar todas as providências de polícia administrativa em relação às peças publicitárias de autoria do Médicos pela Vida.
Rogério Carvalho ainda chamou Bolsonaro de "charlatão" por estimular remédios para os quais não há eficácia comprovada no tratamento contra a covid-19.
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