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Coligação partidária é 'estelionato eleitoral', diz Jaques Wagner

Colaboração para o UOL

12/08/2021 11h28Atualizada em 12/08/2021 12h26

Para o senador Jaques Wagner (PT-BA), a possibilidade de retomada das coligações partidárias nas próximas eleições é algo "muito ruim". Isso porque, na avaliação dele, esse modelo representa uma espécie de estelionato, em que o eleitorado acaba sendo "enganado". Ele participou hoje do UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral e pelo colunista Kennedy Alencar.

A coligação, na minha opinião, acaba sendo um estelionato eleitoral. A gente se junta só para a eleição. Então estamos enganando a torcida, o eleitorado. Você junta de A a Z, elege, e depois cada um toma seu rumo.

Após um acordo que rejeitou o modelo do chamado "distritão" a partir das próximas eleições, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na noite de ontem, o texto-base da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de reforma eleitoral, que prevê o retorno das coligações partidárias em eleições para deputados e vereadores a partir do ano que vem.

A reforma eleitoral foi colocada para votação às pressas pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). A atitude foi contestada pela oposição, que, inicialmente tentou obstruir a sessão, pedindo a retirada da PEC de pauta, por exemplo.

Ao UOL Entrevista, Wagner afirmou que, "entre o péssimo e o ruim", os deputados "escolheram ficar com o ruim" —mesmo assim, segundo ele, "faltou criatividade" por parte dos parlamentares para lidar com o tema.

Wagner disse ainda que, no Senado, tentará viabilizar o conceito de federação partidária, que também prevê a união de partidos durante o período eleitoral, mas estabelece maiores compromissos para essa parceria.

"Poderia viabilizar a preocupação de partidos menores, que não conseguem se eleger, montar chapa sozinhos. Mas, na federação, é mantida a fidelidade até a próxima eleição", afirmou o senador.

Bolsonaro 'vive de conflito'

Ex-ministro da Defesa nos governos do PT, Wagner ainda comentou a realização de um desfile militar no Palácio do Planalto na última terça-feira (10).

Acompanhado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o evento inédito aconteceu no mesmo dia em que estava marcada a votação da PEC do voto impresso —pauta utilizada pelo bolsonarismo para alavancar discursos golpistas— no plenário da Câmara dos Deputados.

"Ele fez o jogo de cena, que é a única coisa que tem para fazer", disse o senador. "Não acredito em golpe de estado. Não tem nem cenário internacional para golpe de estado. Não vejo a possibilidade de as Forças Armadas entrarem em uma aventura dessas, capitaneada por uma pessoa despreparada", afirmou ainda.

Para Wagner, Bolsonaro "quer criar confusão" porque "vive de conflito". Segundo ele, os questionamentos feitos por Bolsonaro e seus apoiadores ao voto eletrônico fazem parte dessa tentativa. "Fora do conflito, ele não produz nada. Então, tem que arrumar um conflito toda semana", disse.

'Lula é uma pessoa de centro'

O senador, que trabalha na construção de eventuais alianças do PT com outros partidos para as eleições de 2022, disse acreditar em uma união de siglas contra a candidatura de Bolsonaro à reeleição. Para ele, no entanto, é mais provável que essa aliança aconteça no segundo turno.

Wagner disse ainda acreditar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato à Presidência pelo partido, seja uma pessoa de "centro, centro-esquerda".

Lula não foi formado dentro da esquerda. Gosto de dizer que ele é humanista, [uma pessoa que está] buscando justiça social. Nunca fez um governo contra as empresas. Está em defesa dos direitos dos trabalhadores. De certa forma, [é] uma pessoa de centro.

Para ele, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que tem feito críticas contundentes a Lula e ao PT, está "no caminho errado". Em entrevista ao programa "Conversa com Bial", da Rede Globo, Ciro declarou nesta terça-feira (10) que Lula considera "que o crime compensa".

"Continuo respeitando o Ciro, todos sabem disso, acho que é um quadro nacional importante", disse Wagner. "Mas é gozado, quando chega o período eleitoral as pessoas perdem um pouco a cabeça e tomam caminhos para tentar prosperar eleitoralmente. Acho que o Ciro está fazendo isso. [Ele] passa do ponto, acusa levianamente Lula", afirmou.

Com isso, na avaliação do senador, "ao invés de ganhar espaço, ele [Ciro] perde cada vez mais".