69 deputados que aprovaram voto impresso em 2015 mudaram de opinião em 2021
Cerca da metade dos deputados federais mais antigos, que deliberaram sobre o voto impresso neste ano e também em 2015, mudou de opinião sobre o tema, aponta levantamento do UOL feito com base em registros do Congresso.
Naquele ano, a proposta foi colocada em votação em duas oportunidades, em junho e em novembro, sendo aprovada em ambas. Mas, em 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou a alteração inconstitucional. Em resposta, em 2019, a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para tentar emplacar o voto impresso outra vez. A proposta foi rejeitada na semana passada.
Ao todo, 69 dos 147 parlamentares que participaram da sessão de novembro de 2015 e da de 2021 agora deixaram de apoiar a implementação do voto impresso. O número representa 47% dos deputados que participaram das votações da última legislatura e da atual. Presente há seis anos, Arthur Lira (PP-AL) não votou neste ano por ser presidente da Câmara.
O índice sobe para 59% quando se compara o resultado atual com outra votação sobre o tema ocorrida em junho de 2015. Dentre os 162 deputados que participaram das duas sessões, 95 trocaram de opinião para rejeitar o voto impresso na semana passada.
Os deputados e o voto impresso
Sem essas mudanças de voto, o placar da votação da PEC de Bia Kicis teria sido mais apertado, já que faltaram 79 apoios para aprovação da proposta. Procuradas, a deputada e sua assessoria não responderam ao UOL.
Vários deputados do PT, como o ex-líder do partido Carlos Zarattini (SP), se posicionaram a favor de imprimir o voto quando votaram sobre o tema em 2015. Já agora, toda a bancada petista votou contra. Zarattini disse ao UOL que o ambiente político mudou.
Essa proposta hoje tem o objetivo de tumultuar o processo eleitoral e não de buscar um aperfeiçoamento"
Carlos Zarattini, ex-líder do PT e ex-apoiador do voto impresso
Antes da votação deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que as eleições de 2022 poderiam não ocorrer caso o voto impresso não fosse adotado.
No próprio dia da análise da matéria na Câmara, veículos militares desfilaram na Esplanada dos Ministérios, passando em frente ao Congresso. O evento, inédito, foi visto pela oposição como tentativa do Poder Executivo de intimidar o Legislativo.
Época foi marcada por denúncia não comprovada
Assim como este ano, 2015 também foi marcado por acusações de fraudes na votação presidencial. Naquela época, as denúncias vinham do PSDB, partido derrotado nas urnas eletrônicas por Dilma Rousseff (PT), reeleita para seu segundo mandato. As suspeitas não foram comprovadas e o próprio PSDB reconheceu que não houve fraude.
Faltavam três anos para as próximas eleições presidenciais, nas quais Dilma não poderia mais concorrer.
Em junho de 2015, os deputados aprovaram o voto impresso, com 433 votos a favor. A votação ocorreu no âmbito de uma emenda à PEC da reforma política. O texto previa que a mudança só seria implementada a partir das eleições presidenciais de 2018 —três anos depois.
Já na semana passada, 162 parlamentares que estavam naquela sessão participaram da análise da PEC de Bia Kicis, da base de Bolsonaro. Dentre eles, 95 —ou 59% do grupo— passaram de favoráveis a opositores do voto impresso.
Desta vez, a votação previa que o voto impresso fosse adotado já nas eleições de 2022 —considerado um prazo muito apertado para uma alteração desta magnitude. A adoção da biometria, por exemplo, começou a ser introduzida nas eleições de 2008. Espera-se que todos os eleitores possam votar com a biometria apenas em 2026.
Dilma e o PT eram a favor do voto impresso
Os tempos eram outros em junho de 2015. Todos os partidos e o próprio governo Dilma orientaram os deputados a aprovarem o voto impresso.
Agora, na era Bolsonaro, apenas três partidos, PSL, PRB (Republicanos) e Podemos, além da liderança do governo, orientaram a favor da impressão do voto.
Comparando-se a votação de hoje com a de junho de 2015, o PT foi o partido que mais mudou de opinião. A sigla oposicionista teve 28 parlamentares —dentre os 29 que também participaram da votação deste ano— trocando de lado.
Hoje, o PT é o principal adversário do bolsonarismo. Pesquisas de opinião apontam que, se as eleições fossem hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceria uma disputa contra Bolsonaro. Foi nesse clima de baixa popularidade que Bolsonaro passou a levantar a bandeira da impressão dos votos em 2022.
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, também votou a favor do voto impresso em 2015, e contra este ano.
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