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Bolsonaro tem pior governo, mas não porque PT tenha sido bom, diz Villa

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

31/08/2021 14h35Atualizada em 31/08/2021 14h35

Na avaliação do historiador e colunista do UOL Marco Antonio Villa, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz o pior governo do Brasil. Mas não se trata de dizer, defende ele, que "o outro [do PT] era melhor".

"[A gestão Bolsonaro] é pior em relação ao que foi o governo PT, e isso é inegável. O que Bolsonaro faz é coisa criminosa", disse Villa, que é professor aposentado da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Ele é o convidado de hoje no programa "Jornalistas e Etc.", apresentado pela colunista Thaís Oyama. Você pode assistir a todos os programas do UOL no Canal UOL.

O historiador afirmou na entrevista que durante o governo do PT existiam blogs financiados pelo participado para disseminar informações. "A tragédia hoje é tão grande que a gente esquece o passado recente", disse ao relembrar de blogueiros que recebiam "salários fabulosos" do PT.

O historiador apontou ainda que Bolsonaro conseguiu escalar a máquina de notícias falsas no Brasil. "Isso já existia na Guerra de Canudos, mas não, evidentemente, nas proporções e efeitos políticos que vemos agora", explicou. Por isso, para Villa, o atual chefe do Executivo é o "maior inimigo da história da imprensa brasileira".

As recentes manifestações antidemocráticas de Bolsonaro e de seus apoiadores também foram abordadas pelo historiador. Para Villa, o presidente será "vítima do próprio golpe" e o Brasil pode viver um novo 1955. Na época, o país chegou a ter três presidentes diferentes em uma semana (Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos).

O ponto final da história dele [Bolsonaro] é a cadeia. Os crimes que cometeu no exercício da Presidência e os crimes que cometeu antes de assumir o cargo, quando ele voltar a ser um cidadão comum vai ser uma avalanche de processo. Vai terminar em Bangu 8, onde encontrará grandes amigos"
Marco Antonio Villa, historiador e colunista do UOL

Por outro lado, Villa também alerta para o custo desse episódio para o país. "O legado de Bolsonaro será um país com famílias destruídas, mais de 600 mil mortos [de covid-19], um país dividido, desmoralizado internacionalmente, a infraestrutura destruída", afirma.

Além disso, o historiador aponta que será necessário o Brasil entender onde errou para não ter "nunca mais um Bolsonaro como presidente da República".

Assédio judicial

O historiador citou também processos de que foi alvo nos governos do PT e, agora, de bolsonaristas. A diferença, no momento, é que defensores do atual presidente se articulam para construir o que é chamado de "assédio judicial".

"Mais de duas dúzias de ações com o mesmo perfil", afirma. Segundo Villa, militantes chegam a construir uma espécie de cartilha e abrem o processo contra ele em diferentes cidades.

Até o momento, o professor aposentado afirma que não perdeu nenhuma ação — ou, como brinca ele, "seu advogado ganhou". "Brasil é um país que que não gosta de crítica, o poder não gosta de crítica e o poder sempre teve uma relação com a imprensa de violência", diz o historiador, relembrando jornalistas que foram mortos durante o momento da independência do país.

'Com PT no poder, universidades perderam seu senso crítico'

Na avaliação de Villa, as universidades, especialmente as públicas, têm desempenhado um "papel ruim frente à crise política brasileira" e uma das justificativas dadas pelo historiador é que, durante o governo do PT, as instituições sofreram uma "instrumentalização".

"Elas perderam o seu sentido crítico. Evidentemente, no caso das federais, se ampliou recursos, o número de cursos, mas por outro lado acabou sendo, não sei se de forma consciente ou não, cooptada pelo PT", disse.

Ele afirmou não ter sido boicotado por colegas durante seus 20 anos como funcionário da UFSCar, mas disse que sua visão era vista como "estranha".

Sinto uma passividade, infelizmente eu sei que muitos vão me criticar, mas é isso. Onde estão os departamentos de ciências humanas, e são tantos, no momento mais crítico da história do Brasil republicano? Onde eles estão? Onde eles estão no embate público? Eles não estão"
Marco Antonio Villa, historiador e colunista do UOL