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Sob holofote da CPI, senadores despontam como pré-candidatos para 2022

Apostando em holofote de CPI, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Simone Tebet (MDB-MS) despontam como presidenciáveis em 2022 - Arte/UOL
Apostando em holofote de CPI, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Simone Tebet (MDB-MS) despontam como presidenciáveis em 2022 Imagem: Arte/UOL

Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

19/09/2021 04h00

Apostando nos holofotes que a CPI da Covid oferece dia a dia desde 27 de abril, ao menos três senadores de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido) buscam potencializar as pretensões eleitorais na corrida ao Planalto do ano que vem.

São eles Alessandro Vieira (SE), senador no exercício de seu primeiro mandato e que já lançou pré-candidatura pelo Cidadania; o veterano Tasso Jereissati (CE), que concorre às prévias dentro do PSDB; e Simone Tebet (MS), tida como opção de liderança feminina e renovação dentro do MDB.

Os dois primeiros são membros da Comissão Parlamentar de Inquérito. A senadora tem espaço no colegiado por meio da bancada feminina, que ela comanda na Casa após reclamações de que nenhuma senadora havia sido alçada à composição da CPI.

Dentre os três, Alessandro e Simone são tidos como os mais presidenciáveis. Não por acaso, também estão entre os que mais aparecem na CPI. Além de raramente faltarem às reuniões, fazem questão de falar ao microfone e de aproveitar momentos de protagonismo inclusive nos bastidores.

Coube a Simone, por exemplo, os questionamentos que levaram o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), em depoimento à CPI, a divulgar o nome do "fulano" que havia, segundo ele, sido mencionado pelo presidente Bolsonaro como responsável por um esquema dentro do Ministério da Saúde para agilizar a importação da vacina indiana Covaxin.

Após horas tentando se esquivar das indagações dos senadores, o deputado acabou enfim revelando o nome do líder do governo Ricardo Barros (PP-PR). Isso ocorreu depois de Simone pressionar o depoente já no fim da oitiva.

Segundo os senadores, ela foi uma das principais responsáveis por organizar a apuração do caso Covaxin/Precisa Medicamentos nos últimos meses. Ainda, Simone apontou série de possíveis irregularidades em documentos apresentados ao Ministério da Saúde, por exemplo.

Alessandro Vieira é delegado da Polícia Civil e, por vezes, parece tratar depoentes como suspeitos. Até o momento, porém, a comissão não tem provas concretas de envolvimento de Barros em corrupção no Ministério da Saúde, que comandou sob Michel Temer (MDB).

Terceira via sem candidato natural

Apesar de os três senadores serem cotados como presidenciáveis impulsionados pela projeção dada pela CPI, o futuro reserva desafios. Mesmo que consigam superá-los, no máximo, somente um deles deverá estar na corrida presidencial para valer — e olhe lá.

Isso porque o espaço da dita terceira via entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve ser o principal oponente do presidente nas urnas, está completamente em aberto, com excesso de nomes e falta de consenso.

As articulações para o ano que vem já começaram, mas os próprios políticos reconhecem ser cedo para cravar coligações e apontar um nome alternativo com força para deslanchar. Não há um candidato natural de terceira via. No momento, a pesquisa Datafolha mais recente aponta Ciro Gomes (PDT) como o terceiro mais bem colocado, com cerca de 10% das intenções de voto nos cenários apresentados.

Em simulação com cenário ampliado, Simone aparece com 2% das intenções e Vieira, com menos de 1%. Tasso não foi considerado pela pesquisa.

Eles não mudam o cenário de preferência por Bolsonaro ou Lula da maioria dos casos. Contudo, um ponto positivo a ser explorado por Simone e Alessandro, avaliam interlocutores políticos, é que contam com menor rejeição (14%) do que adversários. Bolsonaro tem rejeição de 59% da população hoje, enquanto Lula tem 38% e Ciro, 30%.

Outro senador que tem o nome ventilado ao Planalto é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

A pesquisa Datafolha foi realizada entre 13 a 15 de setembro de 2021 com 3667 entrevistas em todo o Brasil, distribuídas em 190 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

O ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lideram pesquisas de intenção de voto - Amanda Perobelli/Reuters e Marcos Corrêa/Presidência da República - Amanda Perobelli/Reuters e Marcos Corrêa/Presidência da República
O ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) lideram pesquisas de intenção de voto
Imagem: Amanda Perobelli/Reuters e Marcos Corrêa/Presidência da República

Desafios pelo caminho

Simone Tebet, primeiro, terá de convencer o próprio MDB a apoiá-la até o fim, o que não conseguiu nas duas vezes em que se candidatou à Presidência do Senado.

Parlamentares do MDB reconhecem que o partido sofre série de divisões internas e ainda não escolheu qual caminho trilhar exatamente em 2022. A expectativa é que tenha candidatura própria ou apoie um nome de centro.

O nome de Simone é colocado num primeiro momento como opção a ser analisado para unir os partidos em torno de uma chamada terceira via. Não é que ela seja a candidata emedebista "para o que der e vier", nas palavras de um interlocutor. De toda forma, considera, seu nome contribui para dar mais relevância ao partido nas negociações e passar imagem de renovação da sigla. Além de valorizar o passe da senadora.

Se o MDB decidir não seguir com a candidatura de Simone, a expectativa é de que ela busque se reeleger ao Senado — seu mandato termina em fevereiro de 2023. Segundo pesquisas encomendadas pelo partido, apurou a reportagem, ela e a atual ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), são as candidatas mais fortes à Casa pelo Mato Grosso do Sul.

Para o governo do estado, o MDB estuda lançar o veterano André Puccinelli, de quem Simone já foi vice-governadora.

Alessandro Vieira aproveitou a temperatura da CPI para se oficializar como pré-candidato pelo Cidadania no início do mês. Ele foi eleito em 2018 na esteira de movimentos anticorrupção e a favor da Operação Lava Jato, que já não têm o mesmo peso ante o eleitorado que já tiveram em outros pleitos.

Um fator de dificuldade é que o senador vem de um partido pequeno, sem tantos recursos financeiros e rede de apoio substancial definida para fazê-lo um candidato, a não ser que cresça considerável e organicamente nas pesquisas de intenção de voto.

Ao contrário dos outros dois colegas senadores, seu mandato na Casa vai até 2027. Portanto, se realmente insistir na candidatura à Presidência da República e esta não der certo, poderá continuar como senador.

Tasso tem perfil distinto de principais adversários

Com mandatos eletivos desde a década de 80, Tasso Jereissati apresentou seu nome nas prévias do PSDB em oposição às chapas encabeçadas pelos governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.

O perfil do senador, experiente na vida pública, é distinto do de seus principais concorrentes internos (Doria e Leite), vistos como parte de um processo de renovação tucana. No atual cenário do partido, ele estaria em desvantagem em relação aos dois.

Ao contrário dos demais postulantes ao Planalto, Tasso não tem investido tanto em falas públicas como pré-candidato. Ele não participou de protesto contra Bolsonaro na Avenida Paulista em 12 de setembro, por exemplo, ao contrário de Doria, Simone e Alessandro. Leite foi às ruas em Porto Alegre.

O governador de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, são tidos como os principais nomes do PSDB ao Planalto para o ano que vem - Marcello Fim/Ofotográfico/Folhapress - Marcello Fim/Ofotográfico/Folhapress
O governador de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, são tidos como os principais nomes do PSDB ao Planalto para o ano que vem
Imagem: Marcello Fim/Ofotográfico/Folhapress

O nome de Tasso foi colocado na disputa, segundo interlocutores, por pressão interna da ala veterana da sigla — os chamados "cabeças brancas" — e aliados próximos. O congressista não teria real interesse em enfrentamentos, e os lados familiar e empresarial pesam na decisão. Seu mandato como senador termina no início de 2023.

Nos bastidores do PSDB ainda há expectativa de que Tasso abra mão da pré-candidatura para apoiar Leite. Na última semana, Tasso almoçou com Leite e o presidente do partido, Bruno Araújo, em Brasília. As eleições internas do PSDB para definir seus candidatos estão marcadas para 21 de novembro.

Senadores da CPI buscam reeleição ou cargo de governador

A CPI da Covid não deu mais projeção apenas aos três senadores tidos como presidenciáveis. Os demais membros da comissão e os outros senadores que marcam presença nas reuniões também ganharam mais espaço de mídia e, consequentemente, de possibilidades de fala com o eleitorado.

Por isso, a comissão é vista como um palanque para tentar garantir a reeleição ao Senado no ano que vem ou alçar voos diferentes, como o governo do respectivo estado.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), por exemplo, deixa claro buscar atrair um eleitorado antibolsonarista para si. Assim como o colega pelo Amazonas Eduardo Braga (MDB-AM) —com menos destaque na CPI —, ele faz acenos a potenciais eleitores ao destacar a crise sanitária vivida pelo estado no início do ano nas apurações de irregularidades estaduais com recursos federais.

Um dos líderes da tropa de choque de Bolsonaro na CPI, Marcos Rogério (DEM-RO) não confirma publicamente, mas pode tentar ser o próximo governador de Rondônia.

Líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF) não é membro da comissão. Porém, tem se mostrado ativo em levantar eventuais irregularidades que possam prejudicar a imagem do rival e atual governador da capital federal, Ibaneis Rocha (MDB).

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.