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De saída do PSDB, Alckmin quer frente ampla em SP e foca no trabalhismo

Ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), de saída do partido - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
Ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), de saída do partido Imagem: GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

20/09/2021 12h31

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) está formando uma frente ampla em São Paulo para voltar ao Palácio dos Bandeirantes, sede da administração estadual. De saída do PSDB, ele tem reunido aliados de fora do partido e se aproximado do discurso trabalhista.

Em disputa não declarada com o governador João Doria (PSDB), Alckmin decidiu não concorrer nas prévias dos tucanos para o governo do estado, cujas inscrições se encerram hoje (20). O vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), é o candidato de Doria. Alckmin deve, então, anunciar a saída do partido nos próximos dias.

Frente ampla em São Paulo

Alckmin já deixou claro que deverá deixar o PSDB, partido que ajudou a fundar em 1988. Em São Paulo, suas relações com Doria estão estremecidas desde 2018, quando o então candidato ao governo paulista aderiu publicamente à campanha de Jair Bolsonaro (sem partido), com o BolsoDoria.

A situação ficou ainda mais delicada quando Doria decidiu trazer Garcia do DEM para o PSDB, em maio deste ano, para alçá-lo como seu sucessor ao governo paulista. Alckmin, que já ocupou o Palácio dos Bandeirantes por quatro mandatos, se considerava sucessor natural e ficou irritado com o movimento.

Desde então, tem declarado que não vai disputar as prévias estaduais com Garcia e tem se reunido com grupos de aliados. A expectativa é que o ex-governador vá para o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, aliado de longa data, com quem tem participado de eventos, mas o ex-governador quer mesmo montar uma frente ampla.

Alckmin tem se aproximado cada vez mais de outros dois antigos aliados: o PSB, de Márcio França, que foi seu vice-governador, e o Solidariedade, de Paulinho da Força, além de flertar com PDT e Avante. Aldo Rebelo também lhe deu apoio.

Entre pessoas próximas no PSDB, a avaliação é de que os dois lados ganham. Em uma aba, Alckmin ganha uma aliança forte para deixar o partido que governa São Paulo desde 1995 (o que deve ocorrer ainda neste mês); na outra, as siglas veem no ex-governador um nome com força eleitoral no estado e possibilidade agregadora de diferentes legendas.

No DataFolha divulgado neste fim de semana, Alckmin aparece em primeiro lugar na corrida estadual, com 26% dos votos. No cenário em que Garcia aparece como candidato tucano, o vice-governador tem apenas 5% das intenções.

O ex-governador também tem folga dentro do partido em relação ao recém-chegado. Segundo a pesquisa, ele tem 48% das intenções de votos de simpatizantes tucanos enquanto Garcia tem apenas 9%.

Palanque com Ciro Gomes

A possibilidade de ter um palanque com Alckmin ao governo e Ciro Gomes (PDT) à presidência seduz ambos os lados, que têm se voltado cada vez mais ao discurso do centro. Essa possibilidade, no entanto, resvala nos planos nacionais dos partidos.

O PDT tem como objetivo principal deslanchar o nome de Ciro para a "terceira via" nacional e tem no PSB um aliado em diversos estados, como São Paulo e Pernambuco.

Em outros locais, por sua vez, o partido está mais próximo do PT, como no Rio de Janeiro e no Maranhão.

Próximo ao discurso trabalhista

Alckmin também tem repaginado o seu discurso. Em diversos encontros com sindicatos e grupos de trabalhadores, o ex-governador tem se aproximado cada vez mais da narrativa trabalhista, acenando até para a centro-esquerda.

Enquanto alguns aliados, como França, focam as críticas em Doria, Alckmin tem voltado seus comentários ao governo federal. Raramente fala do PT, adversário histórico.

"Num momento como este, quando se quer tirar direitos dos trabalhadores, mais do que nunca a organização dos trabalhadores é necessária. Por isso, fortalecer os sindicatos é essencial. Não só para os trabalhadores, mas para toda a sociedade", declarou Alckmin em um encontro no Sindicato dos Padeiros de São Paulo na última sexta.

Ele acompanhou a reeleição do presidente Chiquinho Pereira, que recentemente se filiou ao PSB e pretende se lançar a deputado federal. Alckmin estava presente no evento, em agosto, com Kassab e França.

De olho nos descontentes com Bolsonaro e Doria, o grupo avalia que é pelo centro, no interior, e pela centro-esquerda, na capital, que Alckmin poderá chegar ao quinto mandato como governador de São Paulo.