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Renan é pressionado a entregar relatório da CPI da Covid na semana que vem

19.ago.2021 - O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, durante sessão da comissão - Pedro França/Agência Senado
19.ago.2021 - O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, durante sessão da comissão Imagem: Pedro França/Agência Senado

Lucas Valença

Do UOL, em Brasília

27/09/2021 04h00

Após anunciar que adiará a entrega do relatório final da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem sido aconselhado por colegas a colocar em votação o documento já na semana que vem. Regimentalmente, o colegiado poderá funcionar até o início de novembro.

A nova data tem sido pressionada em especial pelo presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM). O senador vem sofrendo retaliações pelo Palácio do Planalto, que rejeitou emendas a municípios ligados ao parlamentar e fortaleceu o atual governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), desafeto político de Aziz.

Fontes ligadas ao Planalto e a Aziz informaram à reportagem que há uma forte articulação do governo, por meio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), para tentar enfraquecer o chamado G-7, grupo que reúne senadores de oposição e os considerados "independentes" e que tem maioria no colegiado.

Além de pressionar o presidente da comissão, inclusive em reuniões ocorridas na residência de Aziz, Nogueira, que já foi integrante da CPI, tem tentado convencer o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) a se tornar "mais independente" e a não chancelar todas as decisões dos colegas do G-7.

Depoimento de Queiroga

O principal motivo para o atraso do fim da CPI é a oitiva de Marcelo Queiroga. Assim como o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan considera imprescindível convocar pela terceira vez o ministro da Saúde.

"Nós não podemos encerrar —e olha que eu quero encerrar, eu já estava com o relatório pronto para apresentar nesta quinta-feira— antes de ouvir o ministro Queiroga", disse o senador alagoano na quarta (22), antes do depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Jr.

Para que a oitiva de Queiroga ocorra, porém, é necessário esperar que ele termine a quarentena que cumpre em um hotel em Nova York após testar positivo para a covid-19. O retorno ao Brasil só deve ocorrer no meio da próxima semana.

O encerramento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito deve ocorrer com um evento já previsto e que terá a coordenação do gabinete de Renan.

Evento de encerramento

O ato está previsto para ocorrer antes votação do relatório final da CPI. A solenidade deverá ser realizada no auditório do Senado, mas ainda precisa da anuência do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Pensado por pessoas próximas ao parlamentar, a ideia é convidar parentes de vítimas da covid-19 de cada estado, que farão pequenos discursos, de um a dois minutos, enquanto os números de mortos e de contaminados pelo novo coronavírus serão apresentados.

A seleção dos familiares também seria feita de forma criteriosa. Integrantes da comissão planejam trazer parentes de vítimas conhecidas. Dentre os possíveis convidados estariam a atriz Glória Menezes, viúva do ator Tarcísio Meira, e Déa Lúcia Amaral, mãe do ator Paulo Gustavo, também morto pela doença.

O custeio das passagens aéreas aos familiares das vítimas, segundo informou um senador da cúpula da CPI, ficaria a cargo do próprio Senado.

O relatório

A intenção é levar o relatório para apreciação dos senadores da CPI após o evento, caso ele ocorra no período da manhã, ou no dia seguinte à cerimônia.

Como revelado pelo UOL, o texto-base já possui mais de mil páginas escritas, contabilizados os anexos, trazendo uma coletânea de documentos e de trechos dos principais depoimentos coletados pela comissão.

Alguns dos capítulos já elaborados dizem respeito à "comprovação" do chamado "gabinete paralelo da saúde", tendo em um dos tópicos a afirmação de que quem se opôs ao grupo acabou tendo que deixar o Ministério da Saúde.

Como exemplo, o relatório indica os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich como médicos que atuaram contra o gabinete.

Também há capítulos que tratam do aplicativo "TrateCov", apontado como falho e que teria sido utilizado a crise sanitária de Manaus no começo do ano como um "experimento", e da produção de cloroquina pelo Exército.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.