Médicos da Prevent Senior eram orientados a trabalhar doentes, diz advogada
A advogada Bruna Morato, que representa o grupo de médicos que denunciou a Prevent Senior, afirmou hoje que os profissionais de saúde eram orientados a trabalhar mesmo após testar positivo para covid-19. Ela presta depoimento hoje na CPI da Covid.
As informações que me foram transmitidas é que sim... Médicos e enfermeiros trabalharam infectados. A orientação era diante, acredito eu, da escassez do corpo clínico."
Advogada Bruna Morato na CPI da Covid
Questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a advogada confirmou que a orientação partiu da diretoria da Prevent Senior. Bruna Morato também citou o caso do médico Anthony Wong, que trabalhava na Prevent Senior, defendia o tratamento precoce e morreu por covid-19.
"Ele foi admitido em uma unidade cardiológica, colocando em risco a vida daquelas pessoas que estavam com ele na UTI sem isolamento de covid."
Em seu depoimento, Brua Morato também disse que "inúmeros profissionais foram coagidos" por se recusarem a seguir o protocolo da Prevent Senior, que indicava medicamentos sem eficácia comprovada aos pacientes.
"Alguns foi chamada a atenção, e era um modo muito complicado porque eles eram repreendidos na frente dos colegas. Outros profissionais foram demitidos. E existia um castigo estipulado dentro da rede, que era a redução de plantões. Se você não demonstrasse lealdade aos preceitos da empresa e obediência àqueles protocolos que lhe eram apresentados, você sofria punições."
Além da política interna de "coerção", Bruna Morato afirmou que os médicos acabavam receitando o chamado "kit covid" por medo de sofrerem retaliação. A depoente também revelou aos senadores da CPI que teve o seu escritório invadido, em São Paulo, em uma situação definida por ela como "muito estranha".
Denúncias contra a Prevent Senior
A Prevent Senior, que já é alvo de investigações no Ministério Público, na Polícia Civil e na CPI da Covid, é acusada de supostamente pressionar seus médicos conveniados a tratar pacientes com substâncias do "kit covid", como hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a covid-19.
A empresa também é suspeita de ter conduzido um estudo sobre a hidroxicloroquina no tratamento da doença sem avisar pacientes nem seus parentes. Tal estudo teria omitido mortes de pacientes, influenciando o resultado para dar a impressão de que o medicamento seria eficaz.
O procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, criou uma espécie de força-tarefa para investigar as denúncias contra a Prevent Senior.
Diante das acusações, a empresa vem argumentando que não havia orientação direta para uso da hidroxicloroquina ou cloroquina porque os médicos são livres para prescrever o medicamento que julgarem mais adequado para cada paciente. A empresa também nega que tenha adulterado qualquer estudo clínico.
Há suspeita de que pacientes que morreram em decorrência da covid tiveram seus atestados de óbito emitidos sem referência à doença causada pelo coronavírus, como Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O que diz a Prevent Senior
Procurada pelo UOL, a Prevent Senior afirmou hoje que o depoimento da advogada Bruna Morato à comissão "confirma que se tratam de acusações infundadas, que têm como base mensagens truncadas ou editadas vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações". Disse ainda que "estranha o fato" de ela manter os autores da acusações sob anonimato e que não teve acesso aos autos da CPI para fazer sua ampla defesa.
A Prevent afirmou que a advogada já havia levado o "mesmo teor dessas imputações" à empresa antes da CPI para tentar fechar um acordo para não levar o caso à comissão.
À reportagem, Bruna confirmou a tentativa de acordo. Segundo ela, o acordo procurado não envolvia dinheiro. Segundo ela, a intenção era que a empresa reconhecesse dois pontos relativos a ações tomadas, como o estímulo ao chamado kit covid, e ajudasse os profissionais em eventuais processos que sofressem por conta do trabalho realizado na rede. Ou seja, os médicos também querem se defender de eventuais acusações de má conduta ética.
Na nota de hoje, a Prevent voltou também a dizer que sempre respeitou a autonomia dos médicos, "nunca demitindo profissionais por causa de suas convicções técnicas".
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