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Prevent Senior tinha 'segurança' de que não seria fiscalizada, diz advogada

Sara Baptista e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

28/09/2021 15h42Atualizada em 28/09/2021 16h37

A advogada Bruna Morato, representante de grupo de médicos e ex-médicos da Prevent Senior que denunciaram a empresa, afirmou hoje, na CPI da Covid, que a operadora de saúde acreditava que não seria fiscalizada pelo governo federal após "pacto" com supostos integrantes do chamado gabinete paralelo e, por isso, continuou fornecendo medicamentos do kit covid para pacientes.

"A Prevent Senior tinha segurança de que não seria fiscalizada pelo Ministério da Saúde ou por outros órgãos vinculados ao Ministério da Saúde. Inclusive foi essa segurança que fez nascer neles de iniciar um protocolo experimental cientes de que não seriam devidamente investigados ou averiguados", disse Bruna aos senadores.

Segunda a advogada, os médicos lhe relataram que existia interesse do Ministério da Economia para que o comércio e a indústria do país não parassem a fim de não haver um "abalo econômico muito grande". Por isso, formularam um "plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo".

Bruna relatou que, no início do ano passado, diretores da Prevent Senior também estavam preocupados após críticas do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta com relação à proliferação do vírus dentro da empresa e, por isso, tentavam se aproximar do governo federal.

"Durante essa aproximação, ele [diretor-executivo Pedro Batista Júnior] buscou o apoio, parece que tinha um médico, que era primo ou sobrinho do ministro Mandetta. Essa aproximação não teria dado certo", afirmou a advogada.

Após essa primeira tentativa, os diretores da Prevent Senior teriam então contatado o gabinete paralelo, grupo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre assuntos relacionados à covid-19 à revelia das orientações oficiais do Ministério da Saúde.

"Qual era essa estratégia? Através do aconselhamento de médicos... Esses médicos eu posso citar também de forma nominal, porque me foi dada essa explicação: o Dr. Anthony Wong, toxicologista responsável por desenvolver um conjunto medicamentoso atóxico; a Dra. Nise Yamaguchi, especialista em imunologia, a qual deveria disseminar informações a respeito da resposta imunológica das pessoas; o virologista Paolo Zanotto, para que ele falasse a respeito do vírus e tratasse a respeito dessa situação de forma mais abrangente, evocando notícias. E a Prevent Senior iria entrar para colaborar com essas pessoas. É como se fosse uma troca, a qual nós chamamos na denúncia de pacto, porque assim me foi dito. Alguns médicos descreveram como aliança; outros médicos descreveram como pacto", declarou Bruna.

A CPI investiga o envolvimento de Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto no gabinete paralelo praticamente desde o início dos trabalhos. Em depoimento à comissão, a médica negou qualquer participação no grupo.

Anthony Wong morreu em 15 de janeiro deste ano, após ficar internado em um dos hospitais da Prevent Senior desde dezembro de 2020. Ele foi internado com sintomas de covid-19, segundo prontuário médico em reportagem da revista Piauí. Contudo, de acordo com a reportagem, a morte em decorrência do coronavírus teria sido ocultada.

Procurada, a Prevent disse as acusações apresentadas contra a empresa na CPI são "mentirosas" e afirma que o mesmo ter do depoimento da advogada havia sido levada à empresa, antes da CPI e que ela tentou fechar um acordo para não levar o caso à comissão.

"O depoimento da advogada à CPI hoje confirma que se trata de acusações infundadas, que têm como base mensagens truncadas ou editadas vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações. A Prevent Senior estranha o fato de a advogada manter no anonimato os supostos médicos autores da acusação. A empresa ainda não teve acesso aos autos da CPI para fazer sua ampla defesa."

O que diz a Prevent Senior

Procurada pelo UOL, a Prevent Senior afirmou que o depoimento da advogada Bruna Morato à comissão "confirma que se tratam de acusações infundadas, que têm como base mensagens truncadas ou editadas vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações".

Disse ainda que "estranha o fato" de ela manter os autores da acusações sob anonimato e que não teve acesso aos autos da CPI para fazer sua ampla defesa.

A Prevent afirmou que a advogada já havia levado o "mesmo teor dessas imputações" à empresa antes da CPI para tentar fechar um acordo para não levar o caso à comissão.

À reportagem, Bruna confirmou a tentativa de acordo. Segundo ela, o acordo procurado não envolvia dinheiro. Segundo ela, a intenção era que a empresa reconhecesse dois pontos relativos a ações tomadas, como o estímulo ao chamado kit covid, e ajudasse os profissionais em eventuais processos que sofressem por conta do trabalho realizado na rede. Ou seja, os médicos também querem se defender de eventuais acusações de má conduta ética.

Na nota de hoje, a Prevent voltou também a dizer que sempre respeitou a autonomia dos médicos, "nunca demitindo profissionais por causa de suas convicções técnicas".

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.