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Jornal: 'Valdemar cumpriu certinho comigo', diz deputado em gravação da PF

Deputado Josimar Maranhãozinho: "Valdemar cumpriu certinho comigo" - Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Deputado Josimar Maranhãozinho: "Valdemar cumpriu certinho comigo" Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Do UOL, em São Paulo

07/12/2021 08h57

O deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA), flagrado com maços de dinheiro, disse, em um vídeo gravado pela PF (Polícia Federal) em seu escritório, que Valdemar cumpriu um acordo e deu R$ 9 milhões durante as eleições municipais de 2020. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo.

Segundo a investigação, o Valdemar a que o parlamentar se refere seria Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido ao qual o presidente Jair Bolsonaro se filiou na semana passada.

A gravação, conforme o jornal, foi feita por meio de uma câmera escondida e faz parte de uma ação controlada da PF e autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se o parlamentar desviou verba de emenda parlamentar.

Em uma das gravações, realizada em 27 de outubro de 2020, uma pessoa não identificada questiona Maranhãozinho se a campanha está pronta. Ele, então, responde: "Valdemar cumpriu certinho comigo (...) Sim, 9 milhões ele me deu".

No ano passado, Maranhãozinho já era deputado federal e não concorreu a nenhum cargo, mas, como presidente do diretório do PL no Maranhão, apoiava prefeitos da legenda no estado.

Procurado pelo jornal, o deputado não explicou a origem do dinheiro nem negou a referência a Valdemar.

Em nota enviada por sua defesa, Maranhãozinho disse que "os vídeos foram criminosamente vazados, sendo que, neste caso, foram pinçados trechos para distorcer a verdade dos fatos" e afirmou estar à disposição dos órgãos de investigação.

O UOL também procurou o deputado por e-mail e por telefone em seu gabinete, mas ainda não teve retorno.

Também procurado por O Globo, Valdemar Costa Neto alegou que os recursos foram destinados ao parlamentar porque ele preside a sigla no Maranhão e é responsável por distribuir recursos do fundo eleitoral aos prefeitos.

Segundo o jornal, Costa Neto "encaminhou à reportagem uma planilha que relaciona as transferências do partido às campanhas dos candidatos do Maranhão em 2020. O documento aponta repasses que totalizam R$ 13,5 milhões".

No entanto, conforme a reportagem, o arquivo aponta que apenas R$ 4,9 milhões haviam sido transferidos até 27 de outubro, quando o parlamentar foi flagrado pela câmera da PF dizendo que teria recebido R$ 9 milhões de Valdemar. O UOL também procurou Valdemar, por meio da assessoria do PL, e aguarda retorno.

'A caixa secou'

No vídeo gravado pelas autoridades na mesma data, Maranhãozinho e um interlocutor falam sobre a organização das finanças da campanha e o deputado pede que o aliado não gaste dinheiro com "besteira".

Ao ouvir o alerta do parlamentar, a pessoa, que não foi identificada, conta que guardou dinheiro em uma caixa no quarto do pai, mas que a caixa "secou".

"Cheguei lá em casa para encontrar 480 mil [inteligível]. Estava no quarto de meu pai numa caixa. Ele toda hora pega. Quando foi ontem, foi ontem.. eu falei pai, vim aqui pegar aqui. Ele falou, meu filho a caixa secou aqui", afirmou a pessoa, dando risada.

'Tem que pagar por fora mesmo'

Em outra gravação, em 21 de outubro, um assessor questiona Maranhãozinho sobre como resolver uma questão de marketing de uma campanha. Ele, então, responde:

"Eu tenho...eu tenho...em espécie, agora, eu tenho duzentos. Aí, eu posso viabilizar pra ver se eu consigo sacar. Porque não dá para usar nota, aí, então, tem que pagar por fora mesmo."

Segundo O Globo, "a PF destaca que esse trecho do vídeo reúne 'indícios' de que aquela não foi a primeira entrega de valores em espécie feita por Maranhãozinho".

Procurado pelo jornal a respeito das gravações, o gabinete dele justificou que as imagens retratam a "atividade empresarial na pecuária com compra e venda de gado e equipamentos" e que o deputado é alvo de "perseguição política".

Busca e apreensão

A Polícia Federal cumpriu na última quarta-feira mandados de busca e apreensão em quatro municípios do Maranhão, em investigação sobre desvio de verbas de prefeituras relacionadas a emendas parlamentares, cujo alvo foi Maranhãozinho.

A autorização partiu da ministra Rosa Weber, do STF, que também é relatora de ações que pedem o fim das emendas de relator-geral, base do orçamento secreto.

De acordo com investigações da PF, a relação de parentesco e ligações pessoais de Maranhãozinho com prefeitos e secretários municipais fazem parte do modus operandi para desvio de dinheiro em áreas como saúde e infraestrutura. A operação de quarta-feira, segundo pessoas envolvidas com o caso, está relacionada à infraestrutura.

Há pelo menos dois inquéritos sigilosos abertos no STF para apurar o esquema, batizado de "feirão das emendas" por deputados e assessores. A suspeita é de que parlamentares cobram comissão para indicar recursos do Orçamento a uma determinada prefeitura. O dinheiro seria pago por empresas interessadas nas obras e serviços ou pelo próprio agente público.

No caso de Maranhãozinho, ele já havia sido alvo da Operação Descalabro, deflagrada em dezembro. Na ocasião, a PF apontou que ele indicou um total de R$ 15 milhões em emendas para fundos de saúde controlados por prefeituras maranhenses, que, por sua vez, firmaram contratos fictícios com empresas de fachada em nome de laranjas. O destinatário final do dinheiro, de acordo com a investigação, seria o próprio deputado.

"Posteriormente essas empresas efetuaram saques em espécie e o dinheiro era entregue ao deputado, no seu escritório regional parlamentar em São Luís", afirma relatório da PF sobre a operação de dezembro.

Como desdobramento da Operação Descalabro, um novo inquérito foi aberto, em maio. Desta vez, além de Maranhãozinho, mais dois deputados e um senador são alvo. Os nomes dos outros parlamentares não foram revelados.

Em outubro, o ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, admitiu, em audiência na Câmara, "não ter dúvida" de que há corrupção envolvendo recursos federais indicados por parlamentares via emendas. Ao ser questionado sobre o orçamento secreto, esquema montado pelo governo de Jair Bolsonaro para aumentar sua base eleitoral no Congresso, Rosário afirmou que sua pasta e a PF investigavam a venda de emendas e que, "em breve", deveria haver novidades.

* Com Estadão Conteúdo