MP: Delegado tentou forjar prisão de Paes às vésperas da eleição de 2020
Investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) descobriram que um delegado acusado de extorsão tentou montar um falso flagrante contra o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), às vésperas do segundo turno da eleição de 2020. As informações foram reveladas pelo "Fantástico, da TV Globo, e confirmadas pelo UOL.
De acordo com denúncia feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), o delegado Maurício Demétrio Afonso Alves usou um advogado para repassar uma falsa denúncia à Polícia Federal. Paes usou seu perfil no Twitter para atacar Demétrio e afirmou que ele tinha a esposa empregada na gestão de Marcelo Crivella (PRB) —adversário de Paes no segundo turno da última eleição.
"Mais um vagabundo travestido de "Estado" e defensor da lei. O outro vcs já sabem quem é e foi mais bem sucedido em 2018. Esse não conseguiu. O outro era "brother" do ex-juiz 171. Esse safado tinha a mulher nomeada na prefeitura do Bispo Crivela", disparou Paes.
No dia 23 de novembro de 202 Demétrio fez com que o advogado Thalles Wildhagen Camargo procurasse o delegado da Polícia Federal Victor Cesar Carvalho dos Santos, seu primo, para denunciar que Paes supostamente receberia um malote com grande quantidade de dinheiro vivo no dia seguinte.
Contudo, os promotores descobriram em um dos 12 aparelhos celulares apreendidos com Demétrio que ele próprio havia tirado a foto que usou para tentar incriminar Paes.
"As provas produzidas evidenciam que, EM OUTRO GRAVÍSSIMO EPISÓDIO, MAURICIO DEMETRIO SE MOVIMENTOU PARA FORJAR A PRISÃO DO ENTÃO CANDIDATO A PREFEITO DO RIO DE JANEIRO, EDUARDO PAES", diz trecho da denúncia do Gaeco.
Os smartphones foram apreendidos em junho, quando o delegado da Polícia Civil do Rio foi preso por extorquir comerciantes de um importante polo têxtil em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Os promotores recuperaram a conversa de Demetrio com Thalles, que, segundo o MP, teria sido manipulado pelo delegado para que a denúncia forjada chegasse até seu primo. Demetrio envia a imagem do malote de dinheiro para o advogado. Após insistir para que ele enviasse logo a imagem para o primo delegado da PF, Demetrio afirma: "É a vera a parada".
A narrativa inventada por Demetrio dava conta de que Paes receberia um malote de dinheiro em via pública durante um ato de campanha. Em depoimento aos promotores, o delegado federal Victor Cesar Carvalho dos Santos revela que uma operação chegou a ser montada para prender Paes em flagrante, mas voltou atrás quando descobriu que o delegado preso era a fonte.
"O Thalles não me falou que era ele. Quando comecei a apertar o Thales... "Pô, cara, eu preciso de informação... eu não posso deixar o pessoal, na rua, perdido. Vai pra onde?". (...) Comecei a pressionar. Aí ele: "Pô. É o Mauricio Demétrio!" - Aí pensei: "Pô, tá de sacanagem, irmão? Alguma sacanagem ele tem aí... não sei qual é o interesse dele. Mas vindo de Mauricio Demétrio, não pode ser coisa boa"
Durante os esforços para forjar a prisão de Paes, Mauricio Demétrio chegou a mandar dois policiais civis de sua confiança seguirem e monitorarem Paes durante suas agendas de campanha.
Montagem de dossiês
Além da tentativa de criar uma denúncia contra Paes, o delegado também é acusado pelo MP-RJ de tentar forjar um flagrante contra policiais da Corregedoria da Polícia Civil que o investigavam.
Na ocasião, ele tentou plantar drogas no carro dos agentes para incriminá-los.
Quando foi alvo de uma operação do MP em junho, Demétrio foi preso de posse de R$ 240 mil em dinheiro vivo e três carros blindados de luxo.
O delegado ainda é apontado como articulador de um esquema de montagem de dossiês com base em acesso abusivo a dados sigilosos da Polícia Civil. Para isso, contava com a colaboração do policial civil Adriano da Rosa, preso na semana passada.
O MP afirma que o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio Luiz Zveiter, sua mulher Gabriela Brito Zveiter e Glauco Costa Santana, filho da promotora Gláucia Santana, estão entre os alvos dos dossiês.
Vida de luxo
Segundo o MP, o delegado usava os ganhos ilegais que obtinha com esquemas de extorsão para manter uma vida de luxo, com viagens internacionais e aluguel de mansões e carros importados.
Em uma das conversas interceptadas pelo Gaeco nos telefones dele, Demétrio negocia o aluguel de um superesportivo da marca Bentley, uma das mais caras do mundo, por US$ 3,3 mil (R$ 18,6 mil na cotação de 27 de dezembro).
Em outra conversa, ele negocia o aluguel de um carro blindado com escolta armada durante uma viagem a São Paulo por R$ 34,3 mil. Há ainda menções a remessas de dezenas de milhares de reais para quitar viagens em dinheiro vivo: "Amanhã papai leva 75", diz ele em uma das conversas. Para os promotores, é uma forma cifrada de se comprometer com um pagamento de R$ 75 mil.
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