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Criticado, Bolsonaro mantém férias e delega a ministros visitas à Bahia

Lucas Valença e Fabrício de Castro

Do UOL, em Brasília

29/12/2021 11h51

Criticado por manter as férias em São Francisco do Sul (SC) durante as enchentes na Bahia que deixaram ao menos 21 mortos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou a seus ministros a responsabilidade pelas contenções dos danos no estado.

Políticos baianos criticam contudo o volume de recursos liberados pelo governo federal para o enfrentamento do desastre. Evitando deixar as férias, previstas para se estender até 4 de janeiro, Bolsonaro tem sofrido críticas nas redes sociais e de opositores, que veem "falta de empatia" do presidente ante a tragédia.

Com 21 mortos e 358 pessoas feridas em decorrência das chuvas, a Bahia contabiliza mais de 77 mil pessoas que foram obrigadas a deixarem suas casas —34 mil delas estão desabrigadas. O último balanço da Defesa Civil, divulgado ontem, diz que 470 mil pessoas foram afetadas em 136 cidades —os municípios declararam situação de emergência, o que representa cerca de 30% do estado.

O UOL procurou a Presidência da República sobre as críticas, mas sua assessoria de imprensa não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Pelas redes sociais, Bolsonaro publicou na manhã de hoje um vídeo de 11 segundos que mostra uma entrega de suprimentos (veja abaixo). Na descrição da publicação, o presidente escreveu "continuamos na Bahia".

Nas redes sociais, a hashtag "BolsonaroVagabundo" figurou hoje nos trending topics do Twitter por sua ausência na Bahia.

Durante a ausência do presidente no sul da Bahia, foram ao estado os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, da Cidadania, João Roma, e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

O ministro da Cidadania, João Roma, afirmou hoje que o país passa por um momento de "muita tensão na Bahia". Durante evento no Ministério da Saúde com a presença de Queiroga, Roma disse que retornará ao estado ainda hoje. Ontem, ele e outros ministros sobrevoaram regiões da Bahia atingidas pelas fortes chuvas.

"Muitas pessoas estão vivendo situação de desespero. Isso naturalmente vai resultar um reforço, uma sobrecarga na saúde", afirmou Roma. O ministrou pontuou ainda que muitas regiões do estado continuam sem energia elétrica, água potável e sinal de telefone.

Durante o evento, Roma afirmou ainda que tem mantido contato frequente com o ministro da Saúde. "Hoje ele me mandou mensagem às 5h da manhã", disse, sem especificar o assunto tratado.

Em sua fala, Queiroga lembrou que o governo editou portaria liberando R$ 12 milhões em recursos para a Bahia —ele não esclareceu contudo o que será feito com essa verba tampouco deu detalhes sobre a liberação.

Nem Queiroga nem Roma falaram sobre a possibilidade de Bolsonaro visitar as regiões atingidas pelas chuvas.

Críticas na Bahia

Após uma coletiva de imprensa concedida ontem pelos ministros, o senador Jaques Wagner (PT), ex-governador da Bahia, disse que a "solidariedade" prestada pelos representantes federais é "insuficiente" porque é acompanhada de poucos recursos.

Ontem, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), também classificou como "insuficientes" os recursos disponibilizados pela União para amenizar o sofrimento dos desalojados e promover a reconstrução da infraestrutura local.

"Não é possível recuperar as estradas federais com R$ 80 milhões para o Nordeste, R$ 80 milhões não dá para recuperar as estradas da Bahia", declarou Costa em visita a Ilhéus (BA) ao se referir à Medida Provisória do governo federal que liberava R$ 80 milhões para todo o Nordeste.

Além desses recursos, o presidente emitiu uma outra MP que destina R$ 200 milhões para a recuperação de rodovias e estradas no estado da Bahia, mas também do Amazonas, de Minas Gerais e de São Paulo. Do valor total, R$ 80 milhões serão destinados à Bahia.

O senador baiano Otto Alencar (PSD), ex-integrante da CPI da Covid, afirmou em entrevista ao UOL News ontem que "Bolsonaro tem amnésia dissociativa" e que, por isso, estaria "fugindo dos problemas".

"Não é coisa para quem é presidente da República, com responsabilidade, deixar de estar presente no estado, tomando providência junto com o governador", afirmou.