'Maldoso quem fala que estou de férias', diz Bolsonaro após viagem a SC
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje que é "maldoso" afirmar que ele estava de férias durante os dias em que passou com a família no litoral de Santa Catarina e negou que tenha politizado sua recente hospitalização, resultado de uma complicação da facada que recebeu na campanha eleitoral de 2018.
Sua viagem acabou interrompida em razão de um problema intestinal decorrente do atentado. Ele precisou viajar às pressas para São Paulo na madrugada de segunda-feira (3), onde foi internado para fazer exames, e teve alta hoje.
"Presidente não tem férias"
Em entrevista coletiva ao lado da equipe médica que o atendeu, Bolsonaro afirmou após receber alta que "um presidente não tem férias". Antes do Natal, ele também passou alguns dias no Guarujá (SP).
"É maldoso quem fala que eu estou de férias. Eu dou minhas fugidas de jet ski, dou lá uns cavalos de pau lá no Beto Carreiro, agora recebi uma intimação aqui do [médico Antônio] Macedo, pois iria saltar em fevereiro, mas ele falou 'não vai saltar mais'. Iria saltar dentro da água. Objetivo? Promover nosso KC390 [modelo de avião da Embraer]
Presidente Jair Bolsonaro, em coletiva de imprensa
A folga do presidente no litoral catarinense estava prevista para terminar na segunda-feira (3). No Sul, o mandatário promoveu aglomerações ao cumprimentar apoiadores, andou de moto aquática, foi a uma pizzaria e a um parque de diversões.
Durante a viagem, ele disse à imprensa que era "raro" tirar uma folga com a esposa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, e com a filha mais nova, Laura, 11.
"Aqui é coisa rara. Minha esposa está comigo, minha filha também. Coisa rara porque elas têm as atividades delas e é difícil a gente tirar uma folga como estou tirando agora", afirmou na terça-feira (28) ao ser questionado sobre a agenda para os dias seguintes.
Naquele mesmo dia, o presidente disse a apoiadores que esperava "não ter que retornar antes" do previsto para Brasília. Ele foi criticado nas redes sociais por tirar dias de folga e praticar atividades de lazer enquanto fortes chuvas atingiam mais de cem cidades da Bahia — o presidente seguiu no cargo neste período de folga. Os temporais deixaram 26 mortos.
Bolsonaro mandou seus ministros até a região afetada. Hoje, ele disse que "acompanhou" o caso e lembrou que editou uma MP (Medida Provisória) para liberar R$ 200 milhões para reconstrução de rodovias danificadas pelas chuvas intensas nos estados do Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Pará e São Paulo.
"Acompanhei o caso na Bahia. Dia 12 estive sobrevoando o estado, acompanhei o caso agora. O que nos fizemos? Além de mandar quatro ministros para lá sobre o comando do João Roma (Cidadania) e do Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), foi a Damares (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) e também o Queiroga (Saúde), destinamos R$ 200 milhões para a obras emergenciais de reconstrução de vias, em grande parte na Bahia. Também destinamos recursos de R$ 700 milhões através do Ministério da Cidadania", listou.
Bolsonaro também disse que, durante o período em Santa Catarina, editou uma MP para permitir a renegociação de dívidas com o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e sancionou o projeto que prorroga por mais dois anos, até 31 de dezembro de 2023, a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia que utilizam mais empregos.
"Fizemos coisas fantásticas ao longo desses dias, que dificilmente outro governo estaria fazendo", frisou o mandatário.
Não foi "facada fake"
Alvo de críticas de opositores por divulgar imagens do hospital durante toda a internação, Bolsonaro foi questionado na coletiva sobre o uso político em ano eleitoral da facada recebida em 2018.
O presidente respondeu negando que tenha sido uma "facada fake" e que a pergunta era um insulto a Macedo, seu médico desde o atentado, e aos especialistas que o atenderam na Santa Casa de Juiz de Fora (MG) logo após o crime.
"As imagens mostram a faca entrando e o brilho dela, inclusive, quando sai. Falar que é uma faca fake?", questionou o presidente.
Efeito político? Eu não queria estar aqui. Estava previsto na terça-feira [4] retornar a Brasília. Estou me vitimizando? Está de brincadeira comigo. Dr. Macedo tem sua honra e eu a minha. Temos muito a zelar
Macedo disse em seguida que "a faca cortou dois vasos do mesentério dele" e que a "facada ficou a um centímetro da veia cava inferior".
"Ficamos a noite inteira na UTI naquele 6 de setembro", afirmou. "Dizer que isso não foi uma doença, uma agressão ou tentativa de homicídio..."
Bolsonaro aproveitou para tratar da investigação do caso, cujo autor foi Adélio Bispo de Oliveira. Ele disse que "está muito parecido com o [caso] Celso Daniel", em referência ao ex-prefeito petista de Santo André assassinado em 2002.
"Não está difícil de desvendar esse caso. Vai chegar em gente importante com toda certeza. Não foi da cabeça dele [Adélio] que ele fez aquilo. Não há dúvida da tentativa de homicídio. Eu queria estar jogando futebol, apesar da idade. Queria estar fazendo mais coisa. Não faço", concluiu.
'Curado e pronto para o trabalho', diz médico
O chefe do Executivo federal foi internado na madrugada de segunda-feira (3), com quadro de obstrução intestinal, após passar mal no domingo (2) depois do almoço, em São Francisco do Sul (SC).
O cirurgião Antônio Luiz Macedo, médico responsável pelo atendimento do presidente, afirmou hoje que o mandatário está "curado e pronto para o trabalho". O médico garantiu que Bolsonaro se recuperou bem após a internação.
"Ele como tem uma saúde, graças a Deus, muito boa, recupera rapidamente, tanto que no dia que eu cheguei, o intestino estava começando a funcionar. No dia seguinte, já estava funcionando bem e agora o presidente está normal", disse o cirurgião, acrescentando que a obstrução intestinal é consequência da facada que Bolsonaro sofreu em um atentado durante a campanha eleitoral de 2018 e das cirurgias subsequentes.
Macedo finalizou que Bolsonaro "tem uma saúde muito boa", mas que precisará passar por uma "dieta especial por uma semana" e está proibido de realizar exercícios físicos rigorosos. Apenas caminhadas estão autorizadas pela equipe médica.
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