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Sakamoto: Bolsonaro age como vítima e faz 'mimimi' após resposta da Anvisa

Do UOL, em São Paulo

11/01/2022 13h06Atualizada em 11/01/2022 16h11

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto disse hoje, durante o UOL News, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se fez de "vítima" ao responder indiretamente à nota de Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), divulgada no último sábado (leia ao final do texto).

Ontem, Bolsonaro negou que teria acusado Barra Torres de corrupção, definiu a nota do chefe da Anvisa como "agressiva" e disse ter se surpreendido com seu posicionamento.

"Quando ele [presidente] faz uma acusação leviana à Anvisa e ao seu diretor-presidente de forma sub-reptícia, mas que estava muito claro a quem se direcionava e esse diretor responde — de forma muito elegante — ao presidente, mesmo que tenha sido aliado, o que Bolsonaro faz? Se vitimiza, faz 'mimimi', diz que não é com ele, fala 'meu Deus, ele está sendo agressivo'. Pelo amor de Deus, componha-se homem. O presidente passa um recibo de vergonha alheia gigantesca neste processo."

Para Sakamoto, mesmo Bolsonaro sendo o "político mais agressivo do país", ele ainda classificou a nota do diretor-presidente da Anvisa dessa forma.

"Tão bonzinho o presidente da República né? O presidente é o político mais agressivo do país. Ele é responsável por mais de 40% dos ataques a toda a imprensa. Ele é responsável por formular e divulgar boa parte das fakes news, das mentiras e da desinformação que cria problema na vacinação e que ajudou a sabotar o combate à covid-19", opinou.

O colunista declarou ainda que neste momento o chefe do Executivo deveria escolher se deseja responder à nota de Barra Torres reafirmando as suas declarações ou retirando o que disse anteriormente.

"Bolsonaro age como uma criança muito pequena que, diante do fato de ter sido pega fazendo porcaria e não tem provas na mão para justificar, ele faz 'mimimi' e diz: 'meu Deus, estão me atacando, estão me criticando', para ver se consegue uma empatia com o público dele, com aqueles 15% que acreditam em tudo que ele fala", concluiu.

Leia, na íntegra, a nota divulgada por Antonio Barra Torres:

Em relação ao recente questionamento do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 5 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor presidente, como oficial-general da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, senhor presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil