Sakamoto: Bolsonaro age como vítima e faz 'mimimi' após resposta da Anvisa
O colunista do UOL Leonardo Sakamoto disse hoje, durante o UOL News, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se fez de "vítima" ao responder indiretamente à nota de Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), divulgada no último sábado (leia ao final do texto).
Ontem, Bolsonaro negou que teria acusado Barra Torres de corrupção, definiu a nota do chefe da Anvisa como "agressiva" e disse ter se surpreendido com seu posicionamento.
"Quando ele [presidente] faz uma acusação leviana à Anvisa e ao seu diretor-presidente de forma sub-reptícia, mas que estava muito claro a quem se direcionava e esse diretor responde — de forma muito elegante — ao presidente, mesmo que tenha sido aliado, o que Bolsonaro faz? Se vitimiza, faz 'mimimi', diz que não é com ele, fala 'meu Deus, ele está sendo agressivo'. Pelo amor de Deus, componha-se homem. O presidente passa um recibo de vergonha alheia gigantesca neste processo."
Para Sakamoto, mesmo Bolsonaro sendo o "político mais agressivo do país", ele ainda classificou a nota do diretor-presidente da Anvisa dessa forma.
"Tão bonzinho o presidente da República né? O presidente é o político mais agressivo do país. Ele é responsável por mais de 40% dos ataques a toda a imprensa. Ele é responsável por formular e divulgar boa parte das fakes news, das mentiras e da desinformação que cria problema na vacinação e que ajudou a sabotar o combate à covid-19", opinou.
O colunista declarou ainda que neste momento o chefe do Executivo deveria escolher se deseja responder à nota de Barra Torres reafirmando as suas declarações ou retirando o que disse anteriormente.
"Bolsonaro age como uma criança muito pequena que, diante do fato de ter sido pega fazendo porcaria e não tem provas na mão para justificar, ele faz 'mimimi' e diz: 'meu Deus, estão me atacando, estão me criticando', para ver se consegue uma empatia com o público dele, com aqueles 15% que acreditam em tudo que ele fala", concluiu.
Leia, na íntegra, a nota divulgada por Antonio Barra Torres:
Em relação ao recente questionamento do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 5 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor presidente, como oficial-general da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, senhor presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.
Como cristão, senhor presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza, senhor presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senhor presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.