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PT reavalia pedido de CPI contra Moro e deve apostar em apuração do TCU

O ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro - Agência Brasil
O ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça Sergio Moro Imagem: Agência Brasil

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

28/01/2022 19h13Atualizada em 28/01/2022 19h15

A bancada do PT na Câmara dos Deputados reavalia se vai mesmo pedir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar suposto conflito de interesse no período em que o ex-juiz da Lava Jato e pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro, trabalhou como consultor na empresa Alvarez & Marsal.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) é um dos principais defensores do pedido de CPI, mas nem todos no PT veem a medida com bons olhos. A reportagem apurou que, atualmente, a bancada já vê a insistência em instalar uma CPI como "segundo momento". A preferência é "seguir o caminho das instituições" e focar no acompanhamento do trabalho realizado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) sobre o caso.

Ainda assim, petistas viram a divulgação de valores por parte de Moro hoje como uma espécie de vitória. O ex-juiz e ex-ministro disse ter recebido o montante de US$ 45 mil (ou R$ 243 mil, na cotação atual) mensais pelos serviços prestados, fora bonificação de US$ 150 mil (ou R$ 812 mil). Ao todo, Moro disse ter recebido R$ 3,728 milhões (na cotação atual) em trabalhos prestados para a consultoria em doze meses.

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) - Beto Barata/Agência Senado - Beto Barata/Agência Senado
4.mai.2016 - O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP)
Imagem: Beto Barata/Agência Senado

Em dezembro, o ministro do TCU Bruno Dantas determinou que a empresa norte-americana revele quanto pagou a Moro depois que ele deixou o cargo, em outubro. Nesta semana, o Ministério Público junto ao tribunal encaminhou um pedido para que Dantas retire o sigilo que impede a divulgação do salário de Moro no período em que atuou na Alvarez & Marsal.

A Alvarez & Marsal é especializada em recuperações financeiras de empresas e há suspeita de conflito de interesses, já que a consultoria tem como clientes empresas que foram alvo da Lava Jato. Por exemplo, a Odebrecht. A companhia contratou Moro após sua saída do Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL).

Bruno Dantas - Everton Soares/UOL - Everton Soares/UOL
13.fev.2020 - O ministro do TCU Bruno Dantas
Imagem: Everton Soares/UOL

Compartilhamento de informações

Deputados petistas esperam que o TCU compartilhe informações e querem saber, por exemplo, não somente os valores recebidos por Moro, mas também as atividades exercidas pelo ex-juiz, se a remuneração é compatível com a média de mercado, o quanto ele recebeu nos Estados Unidos e se mantém conta corrente no país.

Se não conseguirem todas as informações desejadas, uma possibilidade aventada é pedir informações por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) e pedir ajuda ao Parlamento norte-americano ou a outras instituições no país.

Um deputado ouvido pelo UOL ressaltou que as informações poderiam demorar a chegar por meio de uma comissão parlamentar de inquérito, e que tende a ser mais ágil conversar com as instituições a par do tema.

O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), e Paulo Teixeira pediram reunião no TCU com o subprocurador Lucas Furtado —que deve acontecer na semana que vem.

Eventual CPI

Outro ponto é que a bancada do PT na Câmara pediu um parecer da assessoria jurídica interna sobre a viabilidade legal da eventual CPI. O documento deve ser analisado pelos parlamentares nos próximos dias.

Somente após todas essas informações reunidas é que a bancada deve tomar um posicionamento mais concreto perante o pedido de CPI.

Em entrevista ao UOL News, a presidente do partido e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), disse não ver necessidade de CPI "para a gente chegar a essas informações".

 Gleisi - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Marcelo Camargo/Agência Brasil
"Não vejo necessidade de CPI para a gente chegar a essas informações", disse Gleisi
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Parte dos petistas avalia ainda que a CPI poderia ser um "tiro no pé" por relembrar investigações da Operação Lava Jato que atingiram diretamente integrantes do partido, com destaque ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que articula a candidatura para tentar voltar ao Planalto nas eleições de outubro.

Misturar-se com partidos do centrão numa CPI que acabaria tratando da Lava Jato também não é interessante para o PT, consideram alguns petistas.