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Filiação de Moro ao União Brasil é descartada; questões regionais pesaram

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

10/02/2022 04h00

A possibilidade de o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro trocar o Podemos pelo União Brasil está descartada, segundo interlocutores do pré-candidato a presidente. Moro deu garantia às lideranças do Podemos que ficará no partido, pelo qual disputará a Presidência, segundo fontes do UOL. O ex-juiz, inclusive, irá protagonizar os anúncios da propaganda partidária do Podemos.

A chance de uma aliança com o União Brasil, porém, ainda é avaliada, mas pode enfrentar alguma dificuldade em razão de questões regionais, avaliam. Procurado por meio de sua assessoria, o ex-juiz não quis comentar.

Uma das razões para descartar a troca é a resistência de membros do novo partido, formado a partir da fusão entre PSL e Democratas. Alguns entendem que a presença de Moro no União Brasil poderia prejudicar seus candidatos, seja ao Legislativo ou ao Executivo, como a do presidente do Democratas, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, pré-candidato ao governo baiano.

Objetivos

Além disso, interlocutores do União Brasil dizem que ficou muito estreita a porta para entrada de Moro porque existem conflitos regionais dentro do novo partido, o que atrapalharia alianças, importantes para um dos objetivos para a eleição: lançar muitos candidatos a governos estaduais —a expectativa é por dez postulantes. E, entre as prováveis alianças em alguns estados, há políticos que foram alvo da Lava Jato, julgada por Moro, lembram interlocutores do novo partido.

Alguns aliados de Moro, porém, não descartam que a possibilidade de filiação possa mudar a depender de como esteja o cenário até a janela partidária. Contudo, no cenário de hoje, essa hipótese é mais do que remota justamente por esse desejo das lideranças regionais de não quererem candidato fixo para presidente, mas um "palanque aberto".

O esvaziamento do apoio a uma filiação de Moro, motivado mais pela ala do Democratas, é também para não afetar um outro objetivo do União Brasil: compor uma grande bancada na Câmara dos Deputados —sem ficar amarrado a nenhuma candidatura presidencial. Hoje, somados, PSL e Democratas possuem 81 parlamentares. A fusão entre os partidos foi aprovada na terça (8) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Próximo a Moro, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) disse ao UOL que "não se fala nessa hipótese há bom tempo". "Parece-me descartada. Moro me parece decidido a não mudar de partido", completa Dias, reforçando que "a decisão é solitária, e só dele". Lideranças do Podemos, porém, ao dizerem que a hipótese já está descartada pontuam que, no União Brasil, que ainda está em formação, ele não teria a garantia de ser candidato, algo já acertado com seu atual partido.

Disputa de forças

Os maiores apoiadores de um acerto com Moro no União Brasil são do PSL, origem do presidente do novo partido: o deputado federal Luciano Bivar. ACM Neto será secretário-geral. O conflito estaria gerado em razão das características de cada partido. No PSL, as decisões são mais centradas no grupo de Bivar e, no Democratas, em debates entre as lideranças.

Apesar de hoje o PSL ter mais deputados, a ala do Democratas espera que o partido parceiro sofra uma "lipoaspiração", como disse um interlocutor, a partir da abertura da janela partidária, com a saída de bolsonaristas rumo ao PL ou outras siglas receptivas a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a movimentação, a expectativa é que os membros do Democratas se sobressaiam na composição do União Brasil.

Outro ponto é que as decisões colegiadas no União Brasil precisarão de maioria dos votos, o que dificultaria um movimento a favor da ida de Moro para o partido. Mas seria possível o partido ter uma aliança ocupando a posição de vice de Moro, desde que haja liberação para os estados apoiarem outras candidaturas ao Planalto. Além do ex-ministro, também são avaliadas alianças do União Brasil com as pré-candidaturas de João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB).

Para o senador Alvaro Dias, "a coligação sim, é um desejo do Podemos". Dias é presidente do diretório estadual do partido. O Podemos, aliás, está confiante na possibilidade de uma federação com o Cidadania. O União Brasil, por sua vez, fala em federação com o MDB.

Caso haja uma aliança para o União Brasil ocupar a posição de vice, Moro seria beneficiado com mais tempo no horário eleitoral, além da possibilidade de ter acesso a mais verba para sua campanha. Enquanto o Podemos tem um fundo eleitoral de cerca de R$ 189 milhões, o União Brasil se aproxima de quatro vezes este valor, na casa dos R$ 800 milhões. A campanha de Moro deve receber entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões, segundo estimativas iniciais.

Na pesquisa eleitoral da Quaest Consultoria, divulgada na quarta (9), Moro aparece em terceiro lugar, empatado com Ciro Gomes (PDT), com 7% das intenções de voto no cenário que apresenta mais candidatos. A liderança é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 45%, seguido por Jair Bolsonaro (PL), com 23%.