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Magnotta: Bolsonaro desejar paz mundial soa mais como discurso de miss

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/02/2022 09h11

As justificativas dadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para sua viagem à Rússia soam mais como um discurso de miss do que declarações de um chefe de Estado, analisou a colunista do UOL Fernanda Magnotta, durante participação no UOL News, apresentado pela jornalista Fabíola Cidral.

Bolsonaro embarca hoje em direção a Moscou, onde terá agendas com o presidente russo, Vladimir Putin, empresários e líderes locais nos próximos dias. A viagem ocorre em meio a clima de tensão internacional em razão da possibilidade de a Rússia iniciar um conflito armado com a Ucrânia e levanta preocupação de aliados estrangeiros do Brasil.

Em entrevista à rádio Tupi, de Campos dos Goytacazes (RJ), no sábado (12), o presidente confirmou que manteria a viagem à Rússia. "A gente pede a Deus para que reine a paz no mundo para o bem de todos nós", declarou Bolsonaro.

"Essa fala em particular do Bolsonaro é constrangedora. Evidencia o desconforto que ele próprio está em fazer esse discurso. Dá para perceber que ele não acredita muito no que está dizendo e desconhece inclusive as particularidades dessa agenda, que são muito complexas", afirmou Fernanda.

"Além de tudo, esse fim foi típico do que temos acompanhado no bolsonarismo: a simplificação de problemas complexos em torno de ideias que são no mínimo ingênuas."

Desejar a paz mundial soa mais como um concurso de miss do que como uma manifestação de um presidente à uma viagem oficial." Fernanda Magnotta, colunista do UOL

A colunista opinou que o Brasil, por sua tradição diplomática multilateral, deveria se abster da discussão sobre a Rússia e Ucrânia. "O conflito com a Ucrânia nada tem a ver com os interesses imediatos do Brasil", explicou.

"O Brasil tem relações com a Rússia, sobretudo no campo dos fertilizantes, mas também tem relações de estratégias com a Ucrânia, com quem assinou vários acordos recentes, inclusive no campo de defesa e segurança. Por isso, o Brasil não tem razões para tomar partido", completou.

Fernanda Magnotta também explicou que a viagem por si só não seria um problema, pois outros presidentes brasileiros já foram à Rússia.

"Essa é uma viagem que tem finalidade eleitoral, que tenta reverter essa percepção de isolamento do Brasil e que, no final do dia coloca, o Brasil como uma espécie de ator conveniente para a Rússia."

"Todo esforço que a Rússia tem feito nessa crise é para mostrar que o ocidente não está unido, que o bloco ocidental está fragmentado. Na medida que o Brasil contribui nessa narrativa, também está se prestando a um papel que não é digno de uma diplomacia tão qualificada quanto a nossa", concluiu.

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