Depressão e legítima defesa: O que se sabe sobre a morte do 'Hipster da PF'
O policial federal Lucas Valença, 36, morreu na noite de quarta-feira (2) após tentar invadir uma casa na região rural de Buritinópolis, em Goiás. Valença ficou conhecido como "Hipster da Federal" e "Lenhador da Federal" em 2016, ao escoltar o ex-deputado Eduardo Cunha no momento de sua prisão.
Informações do boletim de ocorrência ao qual o UOL teve acesso indicam que ele invadiu a residência de uma família em Buritinópolis e desligou disjuntor de energia. O morador do local pediu para que o invasor saísse, mas ele resistiu. O homem atirou contra o policial e disse que estava agindo em legítima defesa.
De acordo com a polícia, o autor dos disparos pagou fiança e responderá ao crime em liberdade. Ele teria sido ameaçado de morte antes de reagir à invasão do policial, usando uma arma adaptada.
Surto psicótico e depressão
Segundo relatos de amigos e parentes, Valença estava em surto psicótico desde o dia 2 de março. O UOL entrou em contato com a Polícia Federal para saber se ele estava afastado das funções e foi informado que a corporação não divulga "informações pessoais e funcionais de servidores." A Polícia Federal ainda disse que "acompanha as investigações e presta todo apoio."
A advogada da família de Valença, Sindd Lopes, afirmou que ele estava em tratamento após ser diagnosticado com depressão profunda no início da pandemia de covid-19, em 2020. Além disso, havia suspeita de que Valença sofresse de bipolaridade, mas o diagnóstico ainda não havia sido confirmado por seu terapeuta.
Assassinato ou legítima defesa
Em entrevista ao jornal carioca O Globo, Sindd Lopes disse que, apesar do quadro de depressão, o surto de ontem foi o primeiro de Valença, ao fazer uma caminhada noturna nos arredores de uma casa da família, onde estava hospedado, desarmado e sem celular. Após o passeio, ele não teria encontrado o caminho de volta para a chácara, entrando em crise.
"A família foi totalmente pega de surpresa. Não entendemos que houve um assassinato e, sim, legítima defesa. Mas ele não arrombou a casa. Ele achava que aquele era o rancho dele. Por isso, tentou entrar na residência. Estava perdido e em surto", afirmou Sindd, ao jornal.
Invasão
Em boletim de ocorrência da Polícia Militar, ao qual o UOL teve acesso, o morador da casa de Buritinópolis que atirou em Lucas Valença afirmou estar com a esposa e a filha de 3 anos quando escutou barulhos ao redor da casa e uma pessoa gritando que "havia um demônio" no imóvel.
Valença teria desligado o disjuntor de energia e conseguido arrombar a porta. O morador ainda relatou que, no escuro, pediu para que o homem fosse embora, mas a movimentação continuou.
O morador diz ter efetuado um disparo de espingarda na direção do invasor, sem saber se havia acertado, alegando agir em legítima defesa. Foi apenas após ligar novamente a energia que ele percebeu ter atingido a região do peito de Valença.
A Polícia Militar foi acionada por volta das 23h30. Uma ambulância chegou para o socorro, mas a morte de Valença foi constada no local.
Posse irregular de arma
Apesar de ter efetuado disparo, as informações da polícia são a de que o morador de Buritinópolis não tinha autorização para posse de arma. A arma em questão é uma espingarda de pressão adaptada para receber balas de calibre 22.
Ela foi recolhida pela Polícia Militar e o homem foi encaminhado para a delegacia responsável, prestou depoimento e foi liberado depois. O delegado responsável pelo caso, Adriano Jaime, informou que o autor dos disparos pagou fiança e responderá ao crime em liberdade.
Ameaça de morte
Ainda, segundo Jaime, o morador teria sido ameaçado de morte antes de reagir à invasão do policial, usando uma arma adaptada.
"Saiam todos da casa, se não vou entrar e matar", teria dito o policial, segundo o delegado. "Neste momento, temendo pela sua vida e da sua família, ele pegou a sua arma."
O delegado afirmou que o morador ainda avisou ao policial para não entrar na residência, pois estava armado. "Mesmo assim, a vítima entrou e foi para cima do autor, que desferiu um único tiro. Depois do tiro, a vítima começou a gritar que era policial. Nesse instante, o autor ligou imediatamente para a polícia militar solicitando uma ambulância", explicou Jaime.
Família não deve buscar condenação por assassinato
Valença e o morador da residência em que foi morto se conheciam e não possuíam desavenças, segundo Sindd Lopes.
A advogada comentou que o policial frequentava a região desde a infância e costumava visitar a chácara para cuidar de sua coleção de bonsais e dos cachorros que resgatava e enviava ao local, antes de encaminhá-los para adoção.
Sindd destacou que a família de Valença não pretende seguir com um processo por assassinato contra o vizinho que disparou contra o policial, por considerar que ele agiu em legítima defesa, diante do surto e da invasão de Valença.
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