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Senador propõe convocar Arthur do Val, mas falta de colegas impede votação

O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) - Reprodução/Youtube/mamaefalei
O deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP) Imagem: Reprodução/Youtube/mamaefalei

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

07/03/2022 16h08Atualizada em 07/03/2022 16h11

O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), propôs hoje um requerimento de convocação do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (Podemos) para que ele explique as falas sexistas relativas a mulheres ucranianas divulgadas em áudios gravados durante viagem à Ucrânia. Do Val disse que as ucranianas "são fáceis, porque são pobres", entre outras declarações de cunho machista similar.

No entanto, o pedido para convocar do Val não foi votado, porque não houve senadores suficientes marcando presença na reunião de hoje da comissão. Apenas 7 dos 18 atuais titulares do colegiado registraram presença, fora uma senadora dos 15 atuais suplentes. Havia a possibilidade de que a presença fosse apenas virtual.

O mínimo necessário para que houvesse votação era de 10 senadores. Nenhuma outra pauta foi votada também. As análises ficarão para as próximas reuniões da comissão.

Arthur do Val viajou à Ucrânia, no último dia 28, com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), para acompanhar o conflito após a invasão da Rússia. Ele afirmou que a viagem tinha como objetivo conhecer a situação da guerra entre Rússia e Ucrânia e arrecadar dinheiro para ajudar os refugiados. Na Ucrânia, disse ter ajudado a fazer coquetéis molotov. Do Val e Renan Santos já retornaram ao Brasil.

Ao desembarcar no Brasil no sábado (5), o deputado estadual afirmou que as falas foram um "erro, em um momento de empolgação".

"A missão que outrora foi justificada pela necessidade de apoiar um povo castigado diuturnamente pelos reflexos da guerra, agora está sendo evidenciada pela misoginia de uma sociedade patriarcal que ainda enxerga a mulher como objeto a ser dominado pelo homem. As falas do deputado escancaram a incompreensão de um grupo político brasileiro que não tem dimensão do que é o sofrimento humano. A história nos mostra que a violência sexual é continuamente utilizada como forma de desmoralizar as mulheres", afirmou Humberto Costa na justificativa para o pedido de convocação.

"É inadmissível que alguém que um representante do povo agrida vítimas de guerra de forma tão brutal. Não podemos, ainda, permitir que as ações covardes e desumanas praticadas pelo parlamentar sejam compreendias como uma agressão do próprio Brasil. As atitudes de Arthur do Val não podem ser confundidas com a índole do nosso povo, que é solidário aos ucranianos e, especialmente, às mulheres vítimas dessa terrível guerra", acrescentou.

Humberto Costa disse que pretende aprovar a convocação de Arthur do Val mesmo se ele for cassado do mandato de deputado estadual. Já foram protocolados 10 pedidos de punição a do Val na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) até o momento. Diante da repercussão negativa das falas, do Val desistiu da pré-candidatura a governador de São Paulo e sofre procedimento disciplinar dentro do Podemos, que pode culminar em sua expulsão do partido.

Senadores da sigla defendem que o deputado seja expulso. Um dos que reiteraram o pedido hoje na comissão foi Flávio Arns (Podemos-PR).

"O que ele realizou, na verdade, é algo inaceitável, sob qualquer ponto de vista - do ponto de vista das mulheres ucranianas, passando por todo tipo de dificuldade, mas também em relação a qualquer mulher -, como menosprezar, desconsiderar, diminuir, desvalorizar, se aproveitar, e todas as outras palavras que queiram ser usadas. [...] O Podemos não pode aceitar, de maneira alguma, uma figura dessa natureza nas suas fileiras, tanto que nós já pedimos a expulsão sumária desse sujeito do partido Podemos", declarou, ao defender ainda a cassação do mandato do correligionário.

Ao longo de toda a reunião da Comissão de Direitos Humanos hoje, somente Costa e Arns se manifestaram. Costa chegou a ler trecho de carta escrita pelo colunista do UOL Jamil Chade para Arthur do Val sobre a condição feminina na guerra e na paz.

O presidente da comissão ainda pretende encaminhar uma moção de repúdio contra Arthur do Val para a Alesp. No documento, ele pede a apuração dos fatos e a aplicação das sanções cabíveis. Para ele, a moção é um "pedido de que isso que nós consideramos um crime não fique impune".