Topo

Esse conteúdo é antigo

Senadores de base de Sergio Moro pedem expulsão de Arthur do Val do Podemos

21.dez.2021 - O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (Podemos) em encontro com o deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP). Moro disse ter rompido com o antigo aliado após falas sexistas - 21.dez.2021 - Reprodução/Twitter/SF_Moro
21.dez.2021 - O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (Podemos) em encontro com o deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP). Moro disse ter rompido com o antigo aliado após falas sexistas Imagem: 21.dez.2021 - Reprodução/Twitter/SF_Moro

Do UOL, em Brasília*

06/03/2022 14h56Atualizada em 06/03/2022 14h56

Senadores do Podemos pelo Paraná pediram a expulsão do deputado estadual Arthur do Val (SP) do partido. O estado do Paraná é a base eleitoral do ex-juiz federal, ex-ministro e agora pré-candidato à Presidência da República, Sergio Moro, principal nome do Podemos para o pleito de outubro deste ano.

Do Val, conhecido também como "Mamãe Falei" desistiu ontem da pré-candidatura ao governo de São Paulo após a divulgação de áudios em que afirma que mulheres ucranianas "são fáceis, porque são pobres". Em meio a críticas, a avaliação até de aliados é que a situação se tornou insustentável.

Depois da divulgação das mensagens, Sergio Moro disse ter rompido com do Val, seu aliado político.

Arthur do Val viajou à Ucrânia, no último dia 28, com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), para acompanhar o conflito após a invasão da Rússia. Eles já retornaram ao Brasil.

O líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR), afirmou ontem que "nossa posição é de pedir à Executiva Nacional do Podemos uma atitude urgente e rigorosa, de rompimento". "Nós não podemos conviver com o inacreditável. Porque é inacreditável alguém que postula cargo de governador de São Paulo dizer bobagens dessa grandeza", acrescentou.

O senador Alvaro Dias (Podemos-PR), em entrevista ao UOL e à Folha, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) é o líder do partido no Senado
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que, "mesmo que o deputado Arthur do Val estivesse fazendo gracinhas com um amigo íntimo que o traiu expondo uma brincadeira entre dois amigos, ainda assim deve ser expulso do partido com a máxima urgência".

"Infâmias como estas não podemos aceitar nem de brincadeira", reiterou.

O colega senador Flávio Arns (Podemos-PR) classificou as declarações de do Val sobre as mulheres ucranianas como "inaceitáveis". "Não admitimos o desrespeito a qualquer mulher. É uma questão de valores, ética e dignidade. Por isto, o Podemos deve expulsá-lo do partido."

A presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), classificou como "gravíssima e inaceitável" a conduta do deputado e anunciou a abertura de um procedimento disciplinar para investigar as falas sexistas dele.

Pré-campanha de Moro vive fase de ''separação de corpos'

Um jantar no restaurante do Hotel Intercontinental, na Bela Vista, em São Paulo, encerrou o dia de gravações de peças publicitárias do presidenciável do Podemos, Sergio Moro, em 25 de fevereiro. A refeição no ambiente praticamente vazio, que fez acompanhado apenas da mulher, a advogada Rosângela Moro, simbolizou, em certa medida, a rotina do ex-juiz na pré-campanha — marcada nos últimos meses por eventos pouco concorridos e sem a presença de líderes partidários.

Desde que se filiou e se lançou na corrida ao Palácio do Planalto, Moro permanece na faixa de 10% nas pesquisas de intenção de voto. Sua agenda de pré-campanha também não deslanchou. O ex-juiz tem participado de eventos com público reduzido, nos quais fala, basicamente, para antigos apoiadores e fãs da Lava Jato. E ainda não conseguiu arregimentar apoios relevantes.

Moro enfrenta desgastes internos no Podemos. Diante dessa situação, ele se cercou de um grupo de confiança, apartado da cúpula do partido. A exemplo do ex-juiz, alguns dos integrantes desse núcleo são novatos em eleições.

Sergio Moro cumprimenta seu então aliado Arthur do Val - Reprodução/Arquivo Pessoal - Reprodução/Arquivo Pessoal
Sergio Moro cumprimenta seu então aliado Arthur do Val
Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

O presidenciável tinha delegado a articulação política à presidente do Podemos, Renata Abreu. Além do Movimento Brasil Livre (MBL), composto por entusiastas e correligionários de Moro, nenhum outro acordo relevante foi costurado. "Esses apoios, muitas vezes, são mais relevantes que os partidos", disse o ex-juiz, em evento do banco Credit Suisse. A relação com o MBL, porém, foi abalada pelos áudios vazados de Arthur do Val.

Segundo relatos colhidos com integrantes da pré-campanha e do Podemos, Moro tem resistido a potenciais acordos partidários. Recentemente, se esquivou de um encontro com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. A assessoria de Kassab informou que Renata Abreu o teria procurado — como parte de um esforço para falar com vários partidos —, mas a visita não se concretizou.

O PSD filiou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), com o objetivo de lançá-lo à Presidência. Pacheco indica que não vai disputar o Planalto, e Kassab tenta, agora, atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), fazendo dele o candidato presidencial do partido. A legenda, porém, pode abandonar a candidatura própria para se alinhar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Após um entusiasmo inicial, parte do Podemos passou a ver com reticências a candidatura de Moro. A direção da sigla tem sido pressionada por parlamentares a não destinar altas quantias à campanha presidencial. Líderes regionais e egressos do PHS - que foi incorporado pelo Podemos - preferem eleger deputados e engrossar a fatia da agremiação partido nos fundos partidário e eleitoral.

Renata Abreu chegou a admitir a possibilidade de Moro migrar para o União Brasil. Líderes do União Brasil, como Luciano Bivar, conversaram com o ex-juiz, mas as negociações não avançaram. Na bancada da nova sigla, que terá quase R$ 1 bilhão em recursos públicos para as campanhas, há resistência ao nome de Moro.

A deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP) é a presidente nacional da sigla - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
A deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP) é a presidente nacional da sigla
Imagem: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

A falta de sintonia na pré-campanha estimulou aliados do ex-juiz a iniciar a captação de recursos para custear futuras despesas. Moro se tornou inseparável do advogado Luis Felipe Cunha, de quem é amigo há mais de uma década. Cunha nunca se envolveu com campanhas, mas foi nomeado coordenador da pré-candidatura.

Cunha cumpre a tarefa de tentar atrair apoiadores de Moro entre empresários. Ao lado do ex-juiz, o advogado teve encontros com nomes do setor de equipamentos hospitalares. Os dois também se reuniram com o empresário do ramo educacional Wilson Picler. Em 2018, Picler doou R$ 800 mil ao PSL e apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro. Cunha ainda tem aproximado Moro de Paulo Marinho, empresário que rompeu com o presidente.

A interlocutores, o advogado tem dito que a meta é arrecadar R$ 25 mil por mês de um universo de aproximadamente 40 empresários. A ideia é ter R$ 1 milhão mensal para a campanha. A investida foi noticiada pelo portal Metrópoles e confirmada ao Estadão por agentes da campanha e do Podemos. Responsável pela comunicação do partido, Fernando Vieira afirmou que a legenda não "separou saldo ou conta apartada".

Partiram de Cunha as mudanças no marketing eleitoral. Vieira, primeiro marqueteiro a atuar com o ex-juiz, acabou descartado. Seu posto original ficou com Pablo Nobel. Tem se mantido próximo da pré-campanha também Paulo Vasconcelos, que trabalhou para Aécio Neves (PSDB) em 2014 e, depois, foi delatado por executivos da Odebrecht por supostamente receber doações via caixa 2 em 2014 e 2010.

Hoje, o Paulo está envolvido em um grande projeto no Rio de Janeiro. Mas, como fã do Moro, ele contribui com sugestões para a estrutura de comunicação da campanha", afirmou Cunha.

Integrantes do Podemos se dizem descontentes com as escolhas, uma vez que o partido já contratou marqueteiros. Um dirigente resumiu o atual momento da relação, ao afirmar que a legenda e a pré-campanha de Moro vivem uma "separação de corpos".

O advogado de Vasconcelos, Paulo Crosara, disse que as alegações dos delatores são "improcedentes". "Eles não podem provar o que estão falando, porque não aconteceu, são afirmações para conseguir a delação. Isso será provado na Justiça." A reportagem do Estadão não conseguiu contato com Paulo Marinho.

Pré-candidato tem eventos esvaziados e sem dirigentes

O afastamento de Sérgio Moro da cúpula do Podemos se reflete na agenda do presidenciável. Ele tem participado de diversos eventos com pouco público e, às vezes, sem nenhum dirigente partidário. Nem a presidente da sigla, Renata Abreu, comparece a algumas das reuniões.

Em São Paulo, em fevereiro, o ex-juiz esteve em encontro do movimento "Mulheres com Moro", que não é ligado ao partido. O público no Teatro Bibi Ferreira preencheu metade de cinco das 14 fileiras do teatro. O espaço na parte superior ficou vazio. Moro chegou a ter de falar sem o microfone, por causa de problemas técnicos no som.

O evento contou com representantes da "República de Curitiba", grupo que acampava na porta da Justiça e do Ministério Público Federal no Paraná para comemorar prisões da Lava Jato. O deputado Junior Bozzella (SP), uma das solitárias vozes no União Brasil que encampa a ida de Moro para o partido, estava ao lado do pré-candidato.

Em Juazeiro do Norte (CE), Moro recebeu o título de cidadão do município em evento com a presença do prefeito, Glêdson Bezerra (Podemos), também esvaziado.

*Com Estadão Conteúdo