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Sem dados, Bolsonaro minimiza efeito da inflação e compara Brasil ao Canadá

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

11/05/2022 12h38Atualizada em 11/05/2022 17h03

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a minimizar o impacto da inflação —que bateu 1,06% no último mês, a maior para abril desde 1996 (1,26%)— ao afirmar, sem apresentar dados, que "o Brasil foi um dos países que menos subiu o preço das coisas".

De acordo com o governante, "a crise é no mundo todo", e a perda do poder de consumo no país tem levado a "acusações injustas" contra a chefia do Executivo federal.

Em diálogo com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, Bolsonaro interagiu com uma mulher que disse ter sido residente no Canadá. O presidente comparou a situação dos dois países, em especial no que diz respeito ao preço da carne.

Durante a conversa, Bolsonaro chegou a dizer que "o quilo de picanha aqui" custaria "menos da metade do preço que está lá fora [no Canadá]".

Como comparação, o salário mínimo federal no Canadá é de 15,55 dólares canadenses por hora. Em um mês, considerando uma jornada de 8 horas diárias ao longo de 22 dias de trabalho, isso representa um total de 2.736,80 dólares canadenses — ou R$ 10.836,63, pelo câmbio de hoje. O salário mínimo brasileiro é de R$ 1.212 por mês.

Brasil foi um dos países que menos subiu o preço das coisas

Jair Bolsonaro

"Quando eu cortei o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], por exemplo... Ia subir muita coisa. Veículos, motocicletas, linha branca... Quando eu baixei o IPI, não quer dizer que, na ponta da linha, baixou o preço da mercadoria. Mas não subiu. Infelizmente, o Supremo derrubou... O Supremo não, o Alexandre de Moraes derrubou parte do IPI", completou.

"A crise é no mundo todo. Aqui no Brasil está caro? Está. Agora, alguns me acusam injustamente. Inclusive, o Brasil... Quanto está o quilo de picanha aqui? Menos da metade do preço que está lá fora... Está caro? Está. Por que isso aí? Vocês lembram do 'fica em casa, a economia a gente vê depois'. Quem mandou ficar em casa que é o responsável por isso. Não só mandou, não. Mandou e vigiou. Colocou a polícia em cima, o guarda municipal", comentou.

Na semana passada, um relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou que o Brasil tem a terceira maior inflação entre os países do G20, grupo das maiores economias do mundo, atrás apenas da Turquia e Argentina.

Puxado pelos alimentos e combustíveis, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial no Brasil, acumula alta de 4,29% e, nos últimos 12 meses, de 12,13%. Na Turquia, o índice é de 61,1% e na Argentina, 55,1%.

No conjunto de países da OCDE — são 38 no total — a inflação em 12 meses chegou a 8,8% em março, em comparação com 7,8% em fevereiro e 2,4% em março do ano passado. Segundo a organização, foi o aumento mais acentuado desde outubro de 1988.

Além disso, os números no país estão muito acima da meta do Banco Central para a inflação neste ano, de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, variando entre 2% e 5%.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.