Bolsonaro defende PRF e diz querer 'justiça sem exageros' em caso Genivaldo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu hoje a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e disse querer justiça 'sem exageros' no caso da morte de Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos que foi sufocado durante ação de policiais rodoviários federais em Umbaúba, município no litoral sul de Sergipe, na semana passada.
O chefe do Executivo federal declarou que "vai ser seguida a lei" e que "lamenta muito o ocorrido", mas fez uma ponderação: 'Não podemos generalizar tudo o que acontece no Brasil". "A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós", completou.
"A justiça vai existir nesse caso e, com toda certeza, será feita a justiça né... Todos nós queremos isso aí. Sem exageros e sem pressão por parte da mídia, que sempre tem um lado: o lado da bandidagem. Como lamentavelmente grande parte de vocês [jornalistas] se comportam, sempre tomam as dores do outro lado. Lamentamos o ocorrido e vamos com seriedade fazer o devido processo legal para não cometermos injustiça e fazermos, de fato, justiça", disse o governante.
As declarações ocorreram durante uma entrevista concedida na manhã de hoje logo após sobrevoo pelas áreas afetadas pelas chuvas em Pernambuco. Entre sexta-feira (27) e ontem, o estado contabilizava 79 pessoas mortas em consequência do dilúvio e 3.957 desabrigados.
Na mesma entrevista, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou apenas que a "apuração será a mais breve possível" e que há procedimentos de investigação tanto na PRF, em âmbito interno, quanto na Polícia Federal. Segundo ele, não há o que comentar enquanto os procedimentos não forem finalizados.
Ex-capitão do Exército, Bolsonaro tem proximidade com as forças policiais em geral, uma parte fundamental da base eleitoral do pré-candidato à reeleição.
Com a PRF, em especial, o presidente criou vínculos nos últimos anos e até a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, chegou a ser fotografada com o uniforme da instituição —em claro sinal de prestígio. O chefe do Executivo também defendeu reajuste diferenciado para a categoria, o que levou a ameaças de greve de outros setores do funcionalismo público.
Na quinta (26), a PRF informou ter afastado os agentes envolvidos na abordagem violenta que terminou com a morte de Genivaldo.
A PF mandou a Sergipe quatro peritos federais do Instituto Nacional de Criminalística da Diretoria Técnica Científica. A expectativa é que o inquérito aberto seja finalizado em até 30 dias. O MPF (Ministério Público Federal) também acompanha o caso e abriu dois procedimentos, um cível e outro criminal, para investigar as circunstâncias da morte.
Câmara de gás improvisada
Genivaldo de Jesus Santos não resistiu após ser submetido a uma ação truculenta da PRF que, de acordo com vídeos e detalhes do boletim de ocorrência, mostram que os agentes usaram o que parecem ser bombas de gás lacrimogêneo para dominarem o homem. O crime ocorreu na quarta-feira (25).
A vítima foi colocada a força na parte de trás do carro policial, e os agentes seguraram a porta enquanto Genivaldo inalava o gás lançado na região do porta-malas. Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte foi "insuficiência aguda secundária a asfixia".
Segundo testemunhas, ele foi abordado em uma blitz na rodovia BR-101, enquanto pilotava uma motocicleta. Imagens de um vídeo gravado por uma pessoa que presenciou a cena mostram que a ação começa com três agentes que se lançam sobre o homem, na tentativa de o imobilizar ao encontrarem uma cartela de remédios com ele.
Pelas frestas da porta traseira, mantida semifechada, é possível ver fumaça escapando, enquanto se pode ver, na parte de baixo, as pernas do homem balançando em desespero, enquanto ele grita no interior da viatura.
Em alguns momentos, um dos policiais tenta segurar as pernas de Santos, enquanto o outro continua a bombear gás para dentro da viatura por uma das frestas.
Toda a cena é assistida por dezenas de populares que, segundo demonstram os vídeos, preferiram manter distância dos policiais. "Vai matar o cara aí dentro", diz um deles.
Assim que Santos parou de se debater e gritar, os policiais fecharam a porta traseira da viatura, entraram no carro e deixaram o local.
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