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Leia a mensagem em que delegado da PF aponta interferência no caso Ribeiro

Sede da Polícia Federal, em Brasília - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Sede da Polícia Federal, em Brasília Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Eduardo Militão e Paulo Roberto Netto

do UOL, em Brasília

23/06/2022 17h42Atualizada em 23/06/2022 18h49

O delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini, responsável pelo pedido de prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, afirmou em mensagem enviada a colegas que houve "interferência" na condução do caso e disse não ter "autonomia investigativa" no inquérito.

A mensagem foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo e obtida pelo UOL. Após a divulgação, a PF informou que instaurou um procedimento apuratório para verificar a "eventual ocorrência de interferência".

A colegas da corporação, Calandrini relata que Milton Ribeiro, detido ontem em São Paulo, foi tratado com "honrarias não existentes na lei" e que apesar do empenho da equipe em levá-lo para Brasília, o ex-ministro foi transferido para a Superintendência da PF na capital paulista, onde ficou até ser solto hoje.

"O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional", disse Calandrini.

O delegado diz que procurou seu superior após tomar conhecimento que Ribeiro não seria transferido para Brasília. "E, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial".

Fontes ouvidas pelo UOL relataram que normalmente o preparo para o deslocamento de presos sensíveis, como o ex-ministro, é avisado à cúpula da PF.

Há, porém, a avaliação que Calandrini ficará exposto e fragilizado por ter divulgado a mensagem a um grupo de colegas com o objetivo de vazar a conversa. Uma opção dita seria o delegado ter oficializado o MPF da situação.

Procurado, Calandrini não respondeu aos contatos do UOL.

Milton Ribeiro foi preso ontem por suspeita de participar de esquema de corrupção na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação). O ex-ministro foi solto hoje a tarde por decisão do desembargador Ney Bello, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região).

Leia a íntegra da mensagem:

Muito obrigado a todos pelo empenho na execução da Operação Acesso Pago.

A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro.

Vejo a operação policial como investigação na essencia e o momento de ouro na produção da informação/prova.

O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP * é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo *não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional.

Falei isso ao Chefe do CINQ ontem, após saber que, por decidão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial.

As equipes de Gyn, Brasília, Belém e Santos, que cumpriram a missão de ontem, trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados durante a Operação Acesso Pago, literalmente se esforçaram 24/7 e foram aguerridos em capturar todos os alvos. Faço referência especial às equipes de GYN que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a SR/PF/DF, incontinenti.

No entanto, o principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do emoenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília,

Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?

É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial feceral.

Abraço"