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Marcha para Jesus: Bolsonaro ignora investigações e cita fim da corrupção

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo*

09/07/2022 12h25

O presidente e pré-candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) voltou a dizer que o Brasil enfrenta uma "guerra" do bem contra o mal durante discurso de cerca de dois minutos durante a concentração da Marcha para Jesus, no centro de São Paulo, hoje (9). Horas depois, no palco principal, ele voltou a discursar e afirmou que seu governo "acabou com a palavra corrupção" — ignorando as investigações do caso MEC (Ministério da Educação).

"Tem uma coisa que nos faz vencer: a consciência tranquila. É o governo que acabou com a palavra corrupção, e sempre digo: se aparecer, ajudaremos a investigar. Isso não é virtude de um governo, é obrigação", disse, pouco antes das 13h.

Bolsonaro ignorou o fato de o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro ser investigado por suspeita de esquema de corrupção e tráfico de influência no MEC. O ex-integrante do governo e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos chegaram a ser presos no final do mês passado, mas foram liberados no dia seguinte. Treze dias antes da prisão, Ribeiro disse para sua filha, em conversa telefônica interceptada pela polícia, que Bolsonaro falou para ele sobre uma possível operação.

Bolsonaro chegou a afirmar que colocava a cara no fogo pelo então ministro. Na época, um áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou que Ribeiro disse atender as prefeituras indicadas pelos líderes religiosos a pedido do presidente da República.

Depois de falar no palco principal, Bolsonaro recebeu uma oração da bispa Sônia Hernandes. O evento chegou no Brasil em 1993 por ela e seu marido, Estevam Hernandes, que são líderes da Igreja Renascer. Em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que criou o Dia Nacional da Marcha para Jesus.

'Guerra' entre bem e o mal

O discurso de "guerra" entre o bem e o mal apareceu nas duas falas de Bolsonaro durante a Marcha para Jesus. "Somos a maioria no país, a maioria do bem. E, nessa guerra do bem contra o mal, o bem vencerá mais uma vez", disse, sem explicar quem seria o "mal".

Nas duas ocasiões, Bolsonaro voltou a defender pautas conservadoras. "Temos uma posição aqui: somos contra o aborto, somos contra a ideologia de gênero, somos contra a liberação das drogas, somos defensores da família brasileira."

O chefe do Executivo disse que "reza" todos os dias para que o país "não experimente as dores do socialismo". "Vejo como vivem nossos irmãos da Venezuela, como estão outros países como Argentina, Chile e Colômbia. Não queremos isso para nosso Brasil", afirmou, referindo-se a países que elegeram nos últimos anos líderes ligados à esquerda.

Ele subiu no trio da Marcha por volta das 10h e ficou ao lado de Tarcísio de Freitas, seu candidato a governador de São Paulo, do deputado Marco Feliciano e da deputada Carla Zambelli — todos do PL.

Bolsonaro também voltou a criticar o fechamento dos estabelecimentos na pandemia — medida usada para conter o avanço do coronavírus. "Vocês viram quem fechou as igrejas em todo o Brasil? Queriam deixar vocês em casa", disse.

"Vivemos em um país laico, mas o seu presidente é cristão", afirmou Bolsonaro.

Rapidamente, no trio, Tarcísio afirmou que a "família é um pilar da sociedade" e ao discursar disse ver "uma profecia se realizando". Depois do percurso, Bolsonaro ficou no palco, onde acontece os shows de cantores evangélicos. Ele chegou a descer do palco com o candidato ao governo de São Paulo para cumprimentar pessoas próximas do palco.

Tanto Bolsonaro, quanto Tarcísio fizeram questão de cumprimentar policiais que estavam no local. Tarcísio bateu continência.

Depois da Marcha, o presidente se deslocou para Uberlândia (MG), onde participou de uma motociata.

Datafolha mostra que 36% dos evangélicos pretendem votar em Bolsonaro

Enquanto seu principal concorrente, o ex-presidente Lula, mantém vantagem nos votos entre católicos (42%), Bolsonaro tem a preferência dos evangélicos (36%), segundo pesquisas do Datafolha.

O atual presidente tem a preferência de 20% dos católicos e o petista de 28% dos evangélicos. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

A base do eleitorado que se declara católico é maior do que a de evangélicos, de acordo com o Datafolha.

*Com informações da Agência Estadão