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Bolsonaro reclama que digam que assassino é seu apoiador e cita Adélio

Hanrrikson de Andrade e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

11/07/2022 09h13Atualizada em 11/07/2022 12h57

O presidente Jair Bolsonaro (PL) citou hoje Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra o então candidato à Presidência em 2018, para tentar contestar o fato de que o homem que matou a tiros um militante do PT, ontem (10), em Foz do Iguaçu, era seu apoiador.

"Vocês viram o que aconteceu ontem, né, a briga de duas pessoas lá em Foz do Iguaçu? Bolsonarista, não sei o que lá... Agora, ninguém fala que o Adélio era filiado ao PSOL, né?", declarou hoje o governante, em conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Apesar da insatisfação do presidente, investigação da Polícia Civil paranaense indica que, de fato, o crime foi cometido por motivação política. Bolsonarista, o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho invadiu a festa de aniversário do guarda municipal Marcelo Arruda, militante do PT, e o assassinou a tiros. A vítima, que também estava armada, conseguiu reagir e alvejar o agressor. Ele sobreviveu e está hospitalizado em estado grave.

Já em relação ao caso da facada sofrida por Bolsonaro em setembro de 2018, apuração da Polícia Federal concluiu que Adélio não tinha vínculo com o PSOL na ocasião da autoria do crime e agiu sozinho, sem motivação política. Ele foi filiado ao partido entre 2007 e 2014.

A PF instaurou dois inquéritos para investigar o episódio do atentado a faca, sendo o último encerrado em 2020. Ante às conclusões da polícia, que até hoje são contestadas por Bolsonaro —o presidente diz acreditar na ideia de que há uma conspiração por trás do crime—, o Ministério Público de Minas Gerais se manifestou pelo arquivamento do segundo inquérito.

Adélio foi declarado inimputável por ter doença mental e cumpre medida de segurança por tempo indeterminado no presídio federal de Campo Grande (MS).

'Aqui é Bolsonaro'

Segundo o boletim de ocorrência, ao invadir a festa, o atirador gritou "aqui é Bolsonaro". Nas redes sociais, Guaranho demonstra apoio ao presidente e às pautas defendidas por seu governo. Guaranho foi alvejado e está hospitalizado.

Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT e com foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Deixa mulher e quatro filhos.

Ontem, Bolsonaro usou as redes sociais para comentar o crime. Em vez de prestar solidariedade à família da vítima, o chefe do Executivo federal e pré-candidato à reeleição disse que dispensa apoio de quem pratica violência e que é a esquerda que é violenta.

"Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", escreveu Bolsonaro no Twitter. O texto é reciclado de uma mensagem publicada por Bolsonaro durante as eleições de 2018.

Ainda no Twitter, Bolsonaro disse que "é o lado de lá [esquerda] que dá facada, cospe, destrói patrimônio, solta rojão em cinegrafista, protege terroristas internacionais, que desumaniza pessoas com rótulos e pede fogo nelas".

No entanto, são episódios de violência contra a esquerda, e não pela esquerda, que estão se acumulando na pré-campanha eleitoral. Na última quinta-feira (7), uma bomba caseira com fezes foi lançada contra o público que acompanhava ato de Lula na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro

Neste mesmo evento, Lula usou colete a prova de balas, sinal de um recrudescimento da segurança do pré-candidato.

No mesmo dia, o carro do juiz responsável por mandar prender o ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, foi vandalizado com fezes de animais, estrume, terra e ovos.

Em 15 de junho, um drone atirou substância com forte odor em um ato de Lula em Uberlândia (MG).