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Bolsonaro comenta mortes no Alemão: "Você se solidariza com essas pessoas"

Do UOL, em Brasília

22/07/2022 13h08Atualizada em 22/07/2022 14h26

"Você se solidariza com essas pessoas, tá ok". Assim o presidente Jair Bolsonaro (PL) comentou hoje as mortes que ocorreram no Complexo do Alemão durante uma operação policial que a Polícia Militar realiza na região desde ontem (21).

O governante lamentou o óbito do cabo PM Bruno de Paula Costa, atingido em confronto armado com traficantes. Já sobre as demais vítimas, ele preferiu desconversar.

Repórteres mencionaram então que, entre as pessoas que perderam a vida em decorrência dos tiroteios no conjunto de favelas situado na região da Penha, na zona norte do Rio, há o caso de uma mãe de três filhos que, segundo relato do jornal Voz das Comunidades, foi atingida por disparos. Bolsonaro retrucou:

"Olha, eu não vou entrar em detalhes... Se essa mãe é inocente... Se eu ligar para todo mundo que morre todo dia, eu estou, né... Esse fato deu repercussão", comentou.

Letícia Marinho do Sales, 50, estava na casa do namorado, morador do Complexo do Alemão, quando foi alvejada. Segundo apuração do Voz das Comunidades, o casal estava parado em um sinal de trânsito da estrada do Itararé —via que margeia vários acessos ao conjunto de favelas. O carro teria sido então alvo de disparos efetuados por policiais. A PM não confirmou as circunstâncias relatadas ao jornal comunitário.

Moradores e vizinhos do Complexo do Alemão descrevem os momentos da ação policial como "um cenário de guerra".

Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército e construiu carreira na política tendo forças policiais e militares como base do seu eleitorado, fez ainda uma homenagem ao cabo da PM fluminense morto ontem.

O presidente chamou Bruno de Paula Costa de "irmão" e mencionou o fato de a vítima era paraquedista —atividade que Bolsonaro executou nos tempos em que integrou as Forças Armadas.

É um cabo paraquedista. É meu irmão. E ponto final. (...) Parabéns para a Polícia Militar lá
Jair Bolsonaro

Ontem, em sua live semanal, Bolsonaro comparou a operação no Rio a um "filme de caubói no passado, quando alguém cometia um crime nos Estados Unidos e fugia. Quando chegava no México, a patrulha americana não podia entrar naquele estado e ele estava em paz no México". Ele prestou homenagem ao cabo morto e, assim como hoje, ignorou as demais vítimas.

O presidente da República chamou o óbito de Bruno de "um fato lamentável" e disse que o PM foi "vitimado por bandidos". "A fotografia dele, quando vi aqui até me emocionei, meu colega paraquedista", disse o presidente ao relembrar o tempo na mesma atividade.

19ª vítima

A 19ª vítima da operação foi confirmada hoje, segundo dia de tiroteios na região do Complexo do Alemão. Uma moradora foi baleada na favela Nova Brasília e deu entrada morta no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Ontem, ao menos 18 óbitos foram contabilizados.

De acordo com a unidade de saúde responsável pelo atendimento, Solange Mendes da Silva, 49, foi confirmada assim logo após ter dado entrada na emergência. Familiares da vítima estão no hospital e são acompanhados por equipe composta de psicólogas e assistentes sociais.

As circunstâncias da morte de Solange ainda não foram esclarecidas. A PM informou que agentes foram atacados hoje no Alemão assim como a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Nova Brasília, mesma localidade onde Solange foi atingida. Segundo a corporação, o policiamento no Complexo do Alemão foi reforçado na manhã de hoje. Também houve relatos de tiroteios em localidades como Canitar e Matinha.

18 mortos no 1º dia de operação

No primeiro dia de operação —realizada em conjunto pela PM e pela Polícia Civil— 18 pessoas foram mortas, entre elas o cabo Bruno de Paula Costa, baleado durante um ataque à UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Nova Brasília.

Letícia Salles, 50, foi atingida dentro de um carro na Estrada do Itararé, um dos acessos ao complexo de favelas. Ela morava no Recreio dos Bandeirantes, mas foi ao local visitar o namorado. Familiares afirmam que ela foi baleada no peito dentro do carro por policiais em um dos acessos à comunidade.

Outros 12 mortos já foram identificados pela Polícia Civil, de acordo com registros de ocorrência obtidos pelo UOL.

Durante todo o dia de ontem, moradores desesperados usaram carros particulares para levar corpos abandonados na comunidade para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Alemão. Os mortos eram transportados enrolados em lençóis.

Veja quem são os mortos na operação:

Bruno de Paula Costa, 38 anos

O Portal dos Procurados oferece recompensa por informações sobre os assassinos do cabo da PM Bruno de Paula Costa, morto durante operação no Complexo do Alemão - Divulgação/ Portal dos Procurados - Divulgação/ Portal dos Procurados
O Portal dos Procurados oferece recompensa por informações sobre os assassinos do cabo da PM Bruno de Paula Costa, morto durante operação no Complexo do Alemão
Imagem: Divulgação/ Portal dos Procurados

Bruno era cabo da Polícia Militar e foi baleado durante um ataque à base da UPP. Levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, não resistiu aos ferimentos

Letícia Salles, 50 anos

Moradora do Recreio, ela visitava o namorado no Complexo do Alemão. Familiares afirmam que ela foi baleado no peito dentro do carro por policiais em um dos acessos à comunidade

Fernando Nascimento Silva, 28 anos

Roberto de Souza Quimer, 38 anos

Emerson de Sousa Teixeira, 26 anos

Bruno Neves Leal, 28 anos

Gabriel Farias da Silva, 23 anos

Anderson Luiz Bezerra Fonsêca, 21 anos

Diego Barbosa da Silva, sem idade informada

Marcs Paulo Nascimento da Silva, 22 anos

Wellington Moura da Silva Junior, 17 anos

Luiz Claudio Rozendo Lopes Junior, 28 anos

Bruno Luis Soares da Silva, 32 anos

Jhonatan Vitor Ferreira Nunes, 21 anos