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Direita militante recua nas redes após fala de Bolsonaro a embaixadores

18.jul.2022 - Jair Bolsonaro em reunião com embaixadores no qual atacou de novo sem provas as urnas eletrônicas - Clauber Cleber Caetano/PR
18.jul.2022 - Jair Bolsonaro em reunião com embaixadores no qual atacou de novo sem provas as urnas eletrônicas Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Camila Turtelli

Do UOL em Brasília

28/07/2022 13h46Atualizada em 28/07/2022 13h46

Público cativo das redes sociais, a direita miltante reduziu suas manifestações políticas na internet após a reunião realizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores para atacar sem provas as urnas eletrônicas. É o que mostra levantamento feita pela .MAP, agências de análise de dados e mídias, na semana entre os dias 19 e 25 de julho.

No recorte, a opinião pública não militante liderou as manifestações no período com 33% do total das postagens. A análise é realizada com base em uma avaliação qualitativa de uma amostra em um universo de 1,4 milhão de posts no Facebook e Twitter.

A diretora-geral da .MAP, Marília Stábile, afirma que essa opinião pública continua focada na agenda social. "As pessoas estão mais preocupadas com o seu cotidiano e a defesa de direitos voltados à diversidade. Se afastam da polarização política - que não traz soluções", afirma.

Para ela, o crescimento das manifestações da opinião pública sem militância e a queda da direita nas redes, embora não se possa definir ainda como tendência, aponta para um engajamento maior das pessoas em "defesa da qualidade de vida, se distanciando do fla-flu do cenário político-eleitoral deste ano".

Os perfis alinhados à direita, especialmente os militantes bolsonaristas, responderam por 31% das publicações no período analisado, segundo a .MAP, após já terem alcançado 42% em abril quando detinham a liderança nas redes. Entre os motivos para o recuo, "a falta de espaço para defender temas críticos levantados pelo presidente como o ataque às urnas eletrônicas ou a corrupção no MEC (Ministério da Educação) no governo Bolsonaro", afirma Marilia Stabile.

No último dia 18, um dia antes do início da análise da .MAP, Bolsonaro reuniu embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em Brasília para uma reunião na qual atacou a Justiça, questionou com acusações infundadas as urnas e, segundo especialistas, cometeu crimes de responsabilidade.

Antes da reunião, Bolsonaro prometeu que compartilharia provas sobre fraudes no sistema eleitoral brasileiro, porém o presidente apenas repetiu o discurso de um ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nas eleições de 2018 — a corte sustenta que o ataque hacker não levou risco à integridade das eleições naquele ano. Ele exibiu um vídeo editado que supostamente mostra uma urna eletrônica com defeito, mas as imagens foram desmentidas pela Justiça Eleitoral. Agências de verificações de fatos do Brasil também já classificaram o vídeo como falso.

Bolsonaro, que está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais mais recentes, foi criticado por vários políticos, inclusive outros presidenciáveis, pela exposição no Alvorada.

O que foi mais comentado

O tema de eleições ficou em sétimo lugar entre os assuntos mais comentados, atrás de ideologia de gênero, polícia civil e varíola dos macacos. Segundo a .MAP, nas redes sociais, a defesa da igualdade de gênero, combate ao racismo e segurança pública para a população são as principais manifestações.

A pauta da opinião pública sem engajamento político, os chamados "nem nem", nas redes sociais, nesta última semana de julho, manteve foco prioritário nos temas do cotidiano. Exemplo de apoio à diversidade foi o vídeo de uma adolescente influencer com a cantora Luísa Sonza reivindicando banheiro para os não binários. O vídeo registrou 6 milhões de visualizações. O debate sobre ideologia de gênero respondeu por 40,31% das postagens dos internautas sem engajamento político com 100% de apoio.

Outro exemplo foi o vídeo que viralizou na internet, com mais de 1 milhão de visualizações, condenando um parque temático nos EUA por racismo, após um personagem da Vila Sésamo ignorar crianças negras. O racismo somou quase 8% das publicações nas redes, nesta última semana, com 99,4% de reprovação.

Na segurança pública, a repercussão das 19 mortes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, alcançou 6,27% de participação e aprovação crítica de 25% das publicações, mesmo já incluindo elogios à ação da polícia em eliminar quadrilhas de criminosos.