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Com fortuna de R$ 14 mi, Cunha disse não poder pagar perícia de R$ 22 mil

Ex-deputado Eduardo Cunha move processo contra o escritor Ricardo Lísias pela obra "Diário da Cadeia" - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Ex-deputado Eduardo Cunha move processo contra o escritor Ricardo Lísias pela obra "Diário da Cadeia" Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/08/2022 18h02

Depois que o ex-deputado Eduardo Cunha (PTB-SP) declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) um patrimônio de R$ 14,1 milhões, o escritor Ricardo Lísias questionou por que o ex-parlamentar alegou não possuir, em 2018, R$ 22 mil para custear uma perícia de processo movido contra o escritor pela obra "Diário da Cadeia", assinada sob o pseudônimo de "Eduardo Cunha".

Em seu retorno ao cenário político como candidato a uma cadeira na Câmara após ter o mandato cassado em 2016 e posteriormente ser preso na Operação Lava Jato, Cunha informou à Justiça Eleitoral que seu patrimônio atual é de R$ 14,1 milhões. Esse valor significa um aumento de R$ 12,4 milhões ao apresentado por ele em 2014, quando concorreu ao posto de deputado federal pela última vez.

No Twitter, Lísias disse não compreender como Cunha pode ter uma fortuna milionária, mas ao mesmo tempo alegou à Justiça que não tinha condições para arcar com uma perícia solicitada por ele em 2018, no valor de R$ 22 mil, e, portanto, solicitou que o Estado cobrisse o valor.

Cunha processa Lísias por livro

Eduardo Cunha move processo na Justiça contra Ricardo Lísias desde 2017, ano em que o autor publicou pela editora Record o livro "Diário da Cadeia", assinado sob o pseudônimo de "Eduardo Cunha".

Naquele mesmo ano, uma liminar chegou a proibir a venda da obra, mas foi posteriormente derrubada por outra decisão, pois a Justiça entendeu que o livro é uma obra de ficção e afirmou se tratar de uma questão de liberdade de expressão.

No Twitter, Lísias se refere à ação movida pelo ex-deputado como "aventuresca e bizarra", além de ter "arruinado" sua obra, já que a intenção era de que ninguém soubesse que ele é o responsável pelo livro. Após a liminar judicial em 2017, a Record foi obrigada a revelar o verdadeiro nome do autor.

Segundo Lísias, ele tinha a pretensão de deixar Eduardo Cunha muito bravo, e conseguiu fazer isso. Inclusive, diz o escritor, chegou a prever "que talvez houvesse uma ação na justiça e estava preparado para ela".

O autor chegou a perder em primeira instância, quando foi determinado o pagamento de indenização no valor de R$ 400 mil. Ele recorreu e obteve outras vitórias nas instâncias superiores, inclusive no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal), o que, em tese, simbolizava o fim dos recursos para a defesa de Cunha.

Em 2018, os advogados do ex-deputado resolveram pedir uma perícia do livro e o valor ficou estimulado em R$ 22 mil, a serem pagos por Cunha, já que o pedido partiu dele.

De acordo com documentos obtidos pelo UOL, em 4 de julho de 2018, a defesa de Cunha disse estar "de acordo com o valor da proposta de honorários periciais", mas, sob a alegação de dificuldades financeiras, uma vez que o político "se encontra em situação de fragilidade econômica", pediu o parcelamento do valor em cinco parcelas mensais, o que foi acatado pela Justiça.

Pouco mais de um mês depois, em 18 de agosto de 2018, a defesa de Eduardo Cunha pediu à Justiça que o Estado custeasse o valor de R$ 22 mil da perícia, pois seu cliente não tinha condições para pagar o débito.

Segundo o pedido, o político buscou "reunir recursos financeiros para o pagamento da primeira parte dos honorários, no importe de R$ 7.334,00", mas justificou não possuir "condições de arcar com o pagamento dos honorários periciais, nem mesmo da primeira parcela". De acordo com o pedido, o político não tinha renda mensal e todos os seus bens e recursos estavam bloqueados cautelarmente no âmbito de processos judiciais.

"O montante de R$ 22 mil é um valor elevado, ainda mais para uma pessoa que, atualmente, não possui renda e está impossibilitada de gerir os seus próprios bens para obtenção de receita. [Assim], requer que lhe seja concedido o benefício da gratuidade de justiça, ao menos para o custeio da prova pericial", completou.

Ao UOL, Ricardo Lísias informou que a juíza responsável não autorizou a gratuidade da perícia e, por esse motivo, ela não foi realizada.

No ano passado, o TJ-RJ anulou uma outra decisão que havia sido favorável a Eduardo Cunha, que censurava o livro e determinava pagamento de indenização no valor de R$ 30 mil por danos morais. Agora, a defesa do ex-deputado recorre da não aceitação do processo já julgado por tribunais superiores.

Procurado pelo UOL, Eduardo Cunha disse que "não vai perder tempo" com Ricardo Lísias, mas ressaltou que processará o escritor "se encontrar algo de difamatório ou caluniador na sua mensagem".

Cunha diz que não teve aumento de patrimônio

Em relação ao aumento de R$ 12 milhões de seu patrimônio, Eduardo Cunha negou que tenha tido "qualquer aumento real" sobre sua riqueza. Segundo o ex-parlamentar publicou na internet, "houve um acréscimo da coluna de bens e direitos da minha declaração de imposto de renda, com igual acréscimo de dívida e ônus reais na mesma declaração".

Conforme Cunha, como a Justiça pega a declaração "somente de bens, passa a falsa versão de que houve acréscimo do patrimônio, o que efetivamente não ocorreu".

Em seu retorno à política, Eduardo Cunha trocou o MDB pelo PTB, e declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição. Conforme o político, o atual chefe do Executivo "representa" aquilo que ele "enfrenta", que é o PT.