Topo

Com Lula, Alckmin ganha nova roupagem e vira incógnita para empresários

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) fala na Fiesp durante debate com ex-presidente Lula (PT) e o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da federação, em São Paulo - Ricardo Stuckert
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) fala na Fiesp durante debate com ex-presidente Lula (PT) e o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da federação, em São Paulo Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em São Paulo

11/08/2022 04h00

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) tem intensificado o diálogo com empresários de diferentes setores. Apesar de respostas cada vez mais positivas, para representantes dos negócios há um entendimento de que a imagem do ex-governador, que sempre foi alinhada à deles, tem, hoje, novos contornos.

Alçado na campanha como interlocutor entre empresários, igreja e esferas mais conservadoras, o ex-governador continua próximo desses grupos —mas há, entre o setor de negócios, um questionamento sobre a nova roupagem e posicionamentos que Alckmin vem assumindo.

Nesta semana, a chapa participou de um debate com industriais na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Alckmin tomou café da manhã com empresários do varejo. Como vice de Lula, ele foi amplamente aplaudido nos dois eventos e os comentários posteriores, positivos. Mas, para os ouvintes, ainda há pontos a serem esclarecidos.

Nova roupagem, novas expectativas: Na segunda (9), Alckmin foi definido pelo presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, como alguém "que sempre teve um carinho muito grande" pela federação.

Alguns empresários do corpo diretor comentaram, no entanto, que, embora sigam tendo apreço por ele, notaram que alguns dos seus posicionamentos "mudaram totalmente". Sob este raciocínio, o homem e político que estava nos dois eventos já não é visto por eles da mesma forma que o governador que os recebeu no Palácio dos Bandeirantes por tantos anos.

Eles citam exemplos como o teto de gastos, que Lula promete revogar, e a nova reforma trabalhista proposta pela campanha —antes, temas apoiados por Alckmin—, além da recente proximidade com movimentos caros a Lula, mas que nunca foram seu foco, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Interlocutores ouvidos pelo UOL dizem entender o movimento, mas argumentam que negócios "precisam ser vistos de forma mais pragmática que a política".

Alckmin, por sua vez, é considerado pela campanha e pelos setores de negócios como peça-chave para lidar com parte do empresariado e com os setores da agricultura e pecuária, em especial em São Paulo, Centro-Oeste e Sul.

Geraldo Alckmin participa de inauguração de fábrica de laticínios do MST em Andradina (SP) - Rodrigo Ferrari/UOL - Rodrigo Ferrari/UOL
Geraldo Alckmin participa de inauguração de fábrica de laticínios do MST em Andradina (SP)
Imagem: Rodrigo Ferrari/UOL

Próximos passos: Isso não significa que os empresários não acreditam no ex-governador ou que as recentes mudanças sejam motivo para não apoiar a campanha petista. A adesão de Alckmin segue sendo vista como um aceno de Lula ao centro, mas é um movimento que já foi assimilado —depois de causar grande impacto no início deste ano.

Agora, dizem, está na hora de olhar o programa de governo que está sendo proposto e qual a contribuição do ex-governador nesse texto. Por isso, o que foi apresentado tanto no debate na Fiesp quanto no café da manhã com o varejo —que Lula não pôde comparecer—, foi elogiado.

Nos dois eventos, a sensação passada foi de previsibilidade —uma das principais intenções do discurso de Lula. Empresários dizem ter ouvido do petista a mensagem que esperavam ouvir e que conseguiram levantar as pautas que acham importantes.

Pedidos e propostas: Nos encontros desta semana, o principal ponto levantado pelo empresariado foi a realização de uma reforma tributária —que consta entre as diretrizes do programa de governo petista. Resta saber como será feita.

A proposta de Lula é promover mudanças baseadas em discussões tripartites: empresas, trabalhadores/sindicatos e governo. Segundo representantes das indústrias e do varejo, ainda não há consenso, entre eles, em relação ao modelo ideal.

Enquanto os dois grupos ouvidos demandaram modernização na tributação de produtos e setores, a campanha trouxe à pauta taxação de dividendos e de grandes fortunas.

Agenda com empresários: Lula e Alckmin têm se dedicado a encontros e conversas com empresários desde o início do ano. Integrantes da campanha dizem que o PT nunca chegou a se afastar dos setores, mas alguns buscaram distância após a Operação Lava Jato e, depois, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Agora, o diálogo está cada vez mais aberto —seja pelos maus indicadores econômicos do Brasil, seja pelo bom desempenho de Lula nas pesquisas —e a frequência de reuniões tem aumentado.

Com o início oficial da campanha, na semana que vem, é esperado que os apoios públicos se intensifiquem. Gestos como o manifesto pela democracia promovido pela Fiesp, que deverá ser lida nesta manhã, já mostram isso.

Alckmin cumprimenta a empresária Luiz Helena Trajano, entusiasta da chapa, no encontro com varejistas - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
Alckmin cumprimenta a empresária Luiz Helena Trajano, entusiasta da chapa, no encontro com varejistas
Imagem: Ricardo Stuckert

Presidenciáveis: Lula não foi ao café da manhã com empresários do varejo por causa de uma "indisposição estomacal", segundo sua assessoria. O encontro, em um hotel de luxo da capital, faz parte de uma iniciativa do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) em convidar presidenciáveis para uma conversa com o setor, mas o ex-presidente acordou indisposto e prometeu remarcar. Além de Alckmin, ele foi representado pelo coordenador do programa de governo, Aloízio Mercadante (PT).

Já a postura de Bolsonaro tem desagradado empresários. O presidente cancelou em cima da hora tanto o encontro na Fiesp quanto o café da manhã com o varejo. Para interlocutores, a falta de diálogo é uma postura ainda menos interessante do que apresentação de ideias que ele discordam.