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Filhos de Bolsonaro criticam ação contra empresários; oposição celebra

Filhos do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters
Filhos do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colaboração para o UOL

23/08/2022 13h10Atualizada em 24/08/2022 19h53

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filhos do presidente da República, criticaram a operação da Polícia Federal (PF) que cumpre, hoje, mandados de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas que defenderam um golpe caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito.

Eduardo, candidato à reeleição na Câmara, disse que a operação tem como objetivo intimidar posicionamentos políticos a favor do presidente Jair Bolsonaro (PL).

"PF em casa devido a mensagens de zap?! Qual crime? É operação claramente para intimidar qualquer figura notória de se posicionar politicamente a favor de Bolsonaro ou contra a esquerda. Isto é um ataque à democracia em plena campanha eleitoral. Censura. Não há outra palavra!", escreveu nas redes sociais.

Já Flávio ressaltou que as mensagens foram trocadas em uma conversa privada no WhatsApp e definiu a operação da PF como "insana".

"É insano determinar busca e apreensão sobre empresários honestos, que geram milhares de empregos, alguns conhecidos de ministros do STF (que sabidamente jamais tramariam "golpe" nenhum) por dizerem que preferem qualquer coisa ao ex-presidiário, numa conversa privada de WhatsApp", criticou.

"Essa operação foi a favor ou contra a democracia? Agora está sendo contra uma pessoa do seu lado, amanhã será contra você, seja empresário, empregado, parlamentar, jornalista? Conheço empresários com medo de se posicionarem nessas eleições. Que isso os una, pelo bem do Brasil!", afirmou o filho do presidente.

A deputada bolsonarista Bia Kicis (PL-DF) endossou o movimento a favor dos empresários alvos da PF e definiu a operação como antidemocrática.

"Se você não se indigna ao saber que a PF está fazendo busca e apreensão na casa de 8 grandes empresários brasileiros por ordem do Xandão em razão de mensagens trocadas em grupo de WhatsApp, vc não apoia a democracia".

Oposição a Bolsonaro celebra operação

Opositores do presidente Jair Bolsonaro comemoraram nas redes sociais a operação da PF que tem como alvo os empresários que defenderam um golpe de Estado em mensagens no WhatsApp.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), integrante da campanha de Lula à Presidência, foi um deles.

"Bom dia com defesa da democracia! Os que se acham donos de algo, inclusive atacando o Estado Democrático de Direito, hoje amanheceram tendo que dar satisfações de seus ataques. Eles não passarão!", escreveu.

O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), candidato ao Senado, também comemorou a operação. "O recado é claro: quem decide são os brasileiros, e o resultado das urnas será respeitado!", disse.

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) disse que o empresariado brasileiro tem "horror" à alternância no poder. "Uma parte do empresariado brasileiro, infelizmente, não aceita a democracia e tem horror à alternância republicana de poder entre partidos de esquerda/centro/direita que conquistamos por meio do voto popular soberano".

Entenda a operação da PF contra empresários

Segundo apuração do UOL, as medidas contra os empresários foram solicitadas pela PF. A operação foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes dentro do chamado inquérito das milícias digitais e envolve 35 policiais federais. As buscas estão sendo feitas em endereços de oito empresários em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. Entre os alvos estão:

  • Luciano Hang, da Havan - dois endereços em Brusque (SC) e um em Balneário Camboriú (SC)
  • José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan - no Rio de Janeiro
  • Ivan Wrobel, da Construtora W3 - no Rio de Janeiro
  • José Koury, do Barra World Shopping - no Rio de Janeiro
  • Luiz André Tissot, do Grupo Serra - em Gramado (RS)
  • Meyer Nigri, da Tecnisa - em São Paulo
  • Marco Aurélio Raimundo, da Mormaii - em Garopaba (SC)
  • Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu - em Fortaleza

Além dos mandados de busca e apreensão, Moraes também determinou a quebra dos sigilos bancários e telemáticos dos alvos, além do bloqueio de contas em redes sociais.

O que os empresários disseram

A reportagem do site Metrópoles mostra que José Koury, dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro, declarou preferir uma "ruptura" do que o retorno de petistas ao Palácio do Planalto. Segundo o empresário, se o Brasil voltasse a ser governado por uma ditadura militar, o país seguiria recebendo investimentos externos.

A mensagem de Koury foi uma resposta à discussão iniciada pela postagem de Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia, construtora de imóveis de alto padrão, atuante na zona sul do Rio de Janeiro.

Na sequência, Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, que é médico e dono da empresa de roupas e itens de surfe Mormaii, respondeu às mensagens de Koury:

  • Golpe foi soltar o presidiário
  • Golpe é o "supremo" agir fora da constituição
  • Golpe é a velha mídia só falar merd*.

Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury com uma figurinha de um homem dando "joinha".

No mesmo dia, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, declarou:

  • O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo.
  • [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais

Empresários se defendem

O empresário Luciano Hang não aparece nas mensagens reveladas pelo site endossando um golpe de Estado, apesar de integrar o grupo.

Ao ser questionado, Luciano Hang respondeu ao UOL:

'Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história. Em momento nenhum falei sobre os Poderes. Inclusive, quase nunca me manifesto nesse grupo. Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso

À coluna de Guilherme Amado, no site Metrópoles, José Koury, dono do Barra World Shopping, disse inicialmente não apoiar um golpe de Estado, porém, reforçou que "talvez preferiria" uma ruptura democrática ao retorno do PT ao poder.

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca Mormaii, respondeu ao site afirmando que não vai apoiar atos "ilegítimos, ilegais ou violentos".

Meyer Nigri, da Tecnisa, comentou que, mesmo tendo "repassado algum WhatsApp" que recebeu, "não significa que eu falei ou concorde".

Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury sobre preferir uma ruptura do que o retorno do PT com uma figurinha de um homem dando "joinha". Porém, o empresário afirmou nunca ter se manifestado a favor de condutas não democráticas.

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan explicou que o empresário José Isaac Péres está viajando e a assessoria responderia sobre o caso.

Por meio de nota, o empresário Ivan Wrobel disse que a informação de que ele defende uma ruptura institucional "trata-se de uma evidente fake news".

A comunicação do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, disse que o empresário André Tissot está viajando e não poderia responder a tempo da publicação da matéria do Metrópoles.

Já os empresários Carlos Molina e Vitor Odisio não responderam ao contato da matéria do Metrópoles. Em caso de manifestação, este texto será atualizado.

José Koury, dono do grupo Barra World, disse ao UOL entender "que o ministro Alexandre de Moraes tomou a decisão que lhe pareceu correta, após receber denúncias e tomar conhecimento das matérias publicadas na imprensa." Entretanto, Koury alega que "os prints exibidos pela mídia foram usados completamente fora do contexto em que foram postados."