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Por ordem de Moraes, PF faz ação contra empresários que defenderam golpe

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

23/08/2022 08h36Atualizada em 24/08/2022 19h53

A Polícia Federal cumpriu na manhã de hoje (23) mandados de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas que, em um grupo de WhatsApp, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro de 2022. As mensagens foram reveladas pelo colunista Guilherme Amado, do site Metrópoles.

Segundo apuração do UOL, as medidas contra os empresários foram pedidas pela PF. A PGR (Procuradoria-Geral da República) foi intimada pessoalmente ontem (22), às 14h41. A operação foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes dentro do chamado inquérito das milícias digitais e envolveu 35 policiais federais. As buscas foram feitas em endereços de oito empresários em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. Entre os alvos estão:

  • Luciano Hang, da Havan - dois endereços em Brusque (SC) e um em Balneário Camboriú (SC)
  • José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan - no Rio de Janeiro
  • Ivan Wrobel, da Construtora W3 - no Rio de Janeiro
  • José Koury, do Barra World Shopping - no Rio de Janeiro
  • Luiz André Tissot, do Grupo Sierra - em Gramado (RS)
  • Meyer Nigri, da Tecnisa - em São Paulo
  • Marco Aurélio Raimundo, da Mormaii - em Garopaba (SC)
  • Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu - em Fortaleza

Além dos mandados de busca e apreensão, Moraes também determinou a quebra dos sigilos bancários e telemáticos dos alvos, além do bloqueio de contas em redes sociais.

Em relação a Hang, o ministro Moraes autorizou buscas na residência e no escritório dele, ambos em Brusque (SC), e também em uma casa de veraneio em Balneário Camboriú (SC). A assessoria de imprensa do empresário disse que ele estava trabalhando em sua empresa quando a Polícia Federal chegou às 6h. O celular de Hang foi recolhido.

O empresário e presidente da varejista Havan, Luciano Hang, ao lado do presidente Jair Bolsonaro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O empresário Luciano Hang, dono da Havan, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Facebook

Na semana passada, quando a reportagem foi publicada, juristas pediram que Moraes, que também preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), investigasse o grupo. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também acionou o STF contra os empresários.

O UOL procurou a assessoria de imprensa dos oito empresários citados e aguarda retorno. Veja as respostas já recebidas:

Luciano Hang, da Havan: "Sigo tranquilo, pois estou ao lado da verdade e com a consciência limpa. Desde que me tornei ativista político prego a democracia e a liberdade de pensamento e expressão, para que tenhamos um país mais justo e livre para todos os brasileiros.

Eu faço parte de um grupo de 250 empresários, de diversas correntes políticas, e cada um tem o seu ponto de vista. Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu NUNCA, em momento algum falei sobre Golpe ou sobre STF. Eu fui vítima da irresponsabilidade de um jornalismo raso, leviano e militante, que infelizmente está em parte das redações pelo Brasil."

Luiz André Tissot, do Grupo Sierra: A defesa do empresário informou que "a empresa e o presidente da companhia não irão se manifestar sobre o tema".

Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu: "Estou absolutamente tranquilo, pois minha única manifestação sobre o assunto foi um "emoji" sinalizando a leitura da mensagem, sem estar endossando ou concordando com seu teor. Confio na justiça e vamos provar que sempre fui totalmente favorável à democracia. Nunca defendi, verbalizei, pensei ou escrevi a favor de qualquer movimento anti-democrático ou de "golpe". Assim, sou a favor da liberdade, democracia e de um processo eleitoral justo."

Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii: "O Morongo foi contatado hoje pela Polícia Federal, ainda desconhece o inteiro teor do inquérito, mas se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos."

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da Mormaii - Divulgação - Divulgação
Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da Mormaii
Imagem: Divulgação

Ivan Wrobel, da Construtora W3: O empresário endossou nota enviada à época da divulgação da matéria. "O cenário não mudou, o Sr Ivan tem um histórico de vida completamente ligado à liberdade. Em 1968 foi convidado a se retirar do IME por ser contrário ao AI5. Nada na vida dele pode fazer crer que o posicionamento daquele momento tenha mudado. Colaboraremos com o que for preciso para demonstrar que as acusações contra ele não condizem com a realidade dos fatos."

Meyer Joseph Nigri, da Tecnisa: "Em investigação para apurar supostos crimes contra o Estado Democrático de Direito conduzida pelo STF, o empresário Meyer Nigri, mesmo sem ter tido acesso aos autos do inquérito, como era seu direito, concordou em ser ouvido nesta manhã para colaborar com as investigações. Respondeu a todas as perguntas formuladas pela autoridade e rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado. Ao contrário, reafirmou sua firme crença na democracia e seu respeito incondicional aos poderes constituídos da República."

José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan: "Ele esclarece que sempre teve compromisso com a democracia, com a liberdade e com o desenvolvimento do país."

José Koury, dono do grupo Barra World, disse ao UOL entender "que o ministro Alexandre de Moraes tomou a decisão que lhe pareceu correta, após receber denúncias e tomar conhecimento das matérias publicadas na imprensa." Entretanto, Koury alega que "os prints exibidos pela mídia foram usados completamente fora do contexto em que foram postados."

Apoio a um golpe de Estado

A reportagem do Metrópoles mostra que José Koury, dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro, declarou preferir uma "ruptura" do que o retorno de petistas ao Palácio do Planalto. Segundo o empresário, se o Brasil voltasse a ser governado por uma ditadura militar, o país seguiria recebendo investimentos externos.

Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo."
José Koury, dono do shopping Barra World

José Koury, dono do Barra World Shopping - Divulgação - Divulgação
José Koury, dono do Barra World Shopping
Imagem: Divulgação

A mensagem de Koury foi uma resposta à discussão iniciada pela postagem de Ivan Wrobel, dono da W3 Engenharia, construtora de imóveis de alto padrão, atuante na zona sul do Rio de Janeiro.

Na sequência, Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, que é médico e dono da empresa de roupas e itens de surfe Mormaii, respondeu às mensagens de Koury:

  • Golpe foi soltar o presidiário
  • Golpe é o "supremo" agir fora da constituição
  • Golpe é a velha mídia só falar merd*

Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury com uma figurinha de um homem dando "joinha".

No mesmo dia, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, declarou:

  • O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo.
  • [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais.

O que disseram os empresários citados na reportagem:

  • Luciano Hang, dono das redes Havan

O empresário Luciano Hang não aparece nas mensagens reveladas pelo site endossando um golpe de Estado, apesar de integrar o grupo.

Ao ser questionado, Luciano Hang respondeu ao UOL:

Vejo que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história. Em momento nenhum falei sobre os Poderes. Inclusive, quase nunca me manifesto nesse grupo. Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso.

  • José Koury, Barra World Shopping

À coluna de Guilherme Amado, no site Metrópoles, José Koury, dono do Barra World Shopping, disse inicialmente não apoiar um golpe de Estado, porém, reforçou que "talvez preferiria" uma ruptura democrática ao retorno do PT ao poder.

Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país.
José Koury, ao Metrópoles

  • Morongo, dono da marca Mormaii

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca Mormaii, respondeu ao site afirmando que não vai apoiar atos "ilegítimos, ilegais ou violentos".

Sem acesso ao conteúdo ou à matéria que referes, informo que não apoiei, não apoio e não apoiarei qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento, e destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida.
Marco Aurélio Raymundo, ao Metrópoles

20.ago.2012 - Meyer Nigri, da construtora Tecnisa - Zanone Fraissat/Folhapress - Zanone Fraissat/Folhapress
20.ago.2012 - Meyer Nigri, da construtora Tecnisa
Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress
  • Meyer Nigri, fundador da Tecnisa

Meyer Nigri, da Tecnisa, comentou que, mesmo tendo "repassado algum WhatsApp" que recebeu, "não significa que eu falei ou concorde".

Já estou deixando claro que não afirmei nada disso. Só repassei um WhatsApp que recebi.
Meyer Nigri, ao Metrópoles

O empreiteiro encaminhou uma mensagem em oito de agosto com ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal). O texto, que não foi escrito por ele, tinha a chamada de "leitura obrigatória" e iniciava a mensagem com a frase: "O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil".

Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, com o presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2020 - Divulgação/Isac Nóbrega - Divulgação/Isac Nóbrega
Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu, com o presidente Jair Bolsonaro em agosto de 2020
Imagem: Divulgação/Isac Nóbrega

  • Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu

Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, defensor do presidente Bolsonaro publicamente, comentou a mensagem de Koury sobre preferir uma ruptura do que o retorno do PT com uma figurinha de um homem dando "joinha".

Porém, o empresário afirmou nunca ter se manifestado a favor de condutas não democráticas.

Nunca me manifestei a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Fico surpreso com a alegação de que eu seria um apoiador de qualquer tipo de rompimento com o processo democrático, pois isso não corresponde com o meu pensamento e posicionamento.
Afrânio Barreira, ao Metrópoles

  • José Isaac Peres, dono da administradora de shoppings Multiplan

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan explicou que o empresário José Isaac Péres está viajando e a assessoria responderia sobre o caso.

7.dez.2017 - O empresário José Isaac Peres, da Multiplan  - Danilo Verpa/Folhapress - Danilo Verpa/Folhapress
7.dez.2017 - O empresário José Isaac Peres, da Multiplan
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Ele [Peres] esclarece que sempre teve compromisso com a democracia, com a liberdade e com o desenvolvimento do país. Neste momento, ele está tratando de projeto empresarial no Rio Grande do Sul, onde a estimativa é de gerar investimentos de bilhões de reais e milhares de empregos.
Assessoria do grupo Multiplan, ao Metrópoles

Segundo a reportagem, o administrador de diversos shoppings no Brasil criticou as pesquisas eleitorais e as classificou como "manipuladas".

"O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação."

  • Ivan Wrobel, da construtora W3

Por meio de nota, o empresário Ivan Wrobel disse que a informação de que ele defende uma ruptura institucional "trata-se de uma evidente fake news".

"Transmitir fake news a respeito de pessoas que levam uma vida correta, pagam seus impostos e contribuem com a sociedade não parece que seja um caminho que se deva perseguir", afirmou.

  • André Tissot, do Grupo Sierra

A comunicação do Grupo Sierra, empresa que fabrica móveis de luxo, disse que o empresário André Tissot está viajando e não poderia responder a tempo da publicação da matéria do Metrópoles.

Já os empresários Carlos Molina e Vitor Odisio não responderam ao contato da matéria do Metrópoles.