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Gabinete de Moraes vê Hang como possível financiador de ato antidemocrático

Presidente Jair Bolsonaro (PL) e empresário Luciano Hang.                              - Reprodução/Instagram
Presidente Jair Bolsonaro (PL) e empresário Luciano Hang. Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em Brasília e São Paulo

29/08/2022 19h20

O juiz Airton Vieira, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal), apontou o empresário Luciano Hang como um dos "prováveis empresários financiadores" de atos antidemocráticos. Em documento que foi tornado público hoje, Hang é citado como elo entre o chamado "gabinete do ódio" e a organização de manifestações bolsonaristas em 7 de setembro do ano passado.

A referência ao dono das lojas Havan está em uma manifestação do juiz a favor da operação da PF (Polícia Federal), na semana passada, contra um grupo de empresários que defendeu um golpe de Estado em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As conversas de WhatsApp do grupo, reveladas pelo site Metrópoles, serviram de base para a ação da PF.

O que afirma a manifestação do STF? Assinada pelo juiz Airton Vieira, magistrado instrutor do gabinete de Moraes, a manifestação de 121 páginas faz uma conexão entre a operação da PF na semana passada, que mirou empresários bolsonaristas, e cinco inquéritos supervisionados por Moraes desde 2019.

Na conclusão do documento, Vieira afirma que "as provas e indícios existentes nas várias investigações apontam a existência real de um núcleo de notícias fraudulentas e de atos antidemocráticos". Hang e o empresário Afrânio Barreira, dono da rede de restaurantes Coco Bambu, são citados como possíveis financiadores desse núcleo.

Esta manifestação, assim como o pedido da PF contra os empresários e o despacho de Moraes autorizando as buscas e apreensões, estavam em sigilo, que foi derrubado hoje.

Qual o papel de Hang? A manifestação do auxiliar de Moraes aponta indícios de ligação de Hang com o chamado "gabinete do ódio", grupo da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), e com a mobilização de atos antidemocráticos no feriado de 7 de setembro do ano passado.

Segundo Vieira, as suspeitas de que Hang financiou o gabinete do ódio estão em mensagens reveladas em setembro do ano passado. Nelas, o jornalista Allan dos Santos, hoje foragido nos Estados Unidos, afirma ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL) que o dono da Havan havia prometido patrocínio a um programa do canal Terça Livre, mantido por Santos.

O documento também liga Hang, por outro lado, ao empresário Marlon Bonilha, dono da fábrica de motopeças ProTork, que forneceu pelo menos 14 caminhões para os atos bolsonaristas contra as instituições em 7 de setembro do ano passado.

Na ocasião, os veículos entraram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e foram mantidos em frente ao Supremo durante as manifestações. O auxiliar de Moraes aponta possível participação de Hang no episódio devido às relações comerciais entre a ProTork e a Havan.

Qual a justificativa para a operação contra os empresários? Segundo o STF, a proximidade dos atos de 7 de setembro deste ano e as relações entre os investigados tornou necessária uma ação preventiva contra os empresários.

"É de conhecimento geral o que esse tipo de conduta pode causar, em termos de gravidade, para a manutenção da ordem pública, porque se trata, em linhas gerais, de situação muito semelhante à ocorrida no dia 7 de setembro de 2021", afirma um trecho do relatório do auxiliar de Moraes.

O que diz Hang? O UOL pediu a Hang um comentário sobre as suspeitas levantadas no documento do Supremo, mas não teve resposta até a publicação da reportagem. Desde a operação da PF, na semana passada, o empresário tem negado que defendeu ou articulou um golpe de Estado.

"Sigo tranquilo, pois estou ao lado da verdade e com a consciência limpa. Desde que me tornei ativista político prego a democracia e a liberdade de pensamento e expressão, para que tenhamos um país mais justo e livre para todos os brasileiros", afirmou Hang.

"Eu faço parte de um grupo de 250 empresários, de diversas correntes políticas, e cada um tem o seu ponto de vista. Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu NUNCA, em momento algum falei sobre golpe ou sobre STF. Eu fui vítima da irresponsabilidade de um jornalismo raso, leviano e militante, que infelizmente está em parte das redações pelo Brasil", completou.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o nome do juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes no STF é Airton Vieira, e não Airton Veiga. O texto foi corrigido.