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Gleisi diz que clã Bolsonaro fez 'transações estranhas': 'Deve explicação'

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante evento com movimentos populares em SP  - Reprodução
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante evento com movimentos populares em SP Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

30/08/2022 15h52Atualizada em 30/08/2022 16h24

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou hoje que o presidente Jair Bolsonaro (PL) "deve explicações" pela compra de 51 imóveis feitas com dinheiro em espécie por ele e seus familiares, conforme revelado em reportagem do UOL.

Levantamento realizado pelo UOL mostra que, desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis —dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. Em valores atualizados pelo IPCA, o montante equivale a R$ 25,6 milhões.

O assunto também foi alvo de comentários da oposição.

O uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias pode indicar operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio. O Senado discute um projeto de lei que sugere a proibição desse tipo de operação, mas o texto está travado há quase um ano, aguardando a designação de relator para que tramite na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania).

Por meio de sua assessoria, o UOL perguntou ao presidente Jair Bolsonaro qual a razão da preferência da família pelas transações em dinheiro, mas ele não se manifestou.

Quem acumula um patrimônio de R$ 25 milhões em imóveis, fazendo transações estranhas com fortes indícios de lavagem de dinheiro, não tem moral pra falar sobre corrupção nem sobre a honestidade alheia. Bolsonaro deve mais esta explicação ao país."
Gleisi Hoffmann, presidente do PT

Uma das coordenadoras da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gleisi faz referência ao último debate, em que o petista foi cobrado por Bolsonaro sobre acusações de corrupção, e desviou da resposta. Lula não comentou a reportagem.

"Qual o problema?" Bolsonaro se irritou hoje ao ser questionado pelo conteúdo da reportagem. Ele disse que não sabia "o que estava escrito na matéria", mas rebateu a imprensa, após participar de uma sabatina promovida pela Unecs (União Nacional do Comércio e dos Serviços), em Brasília.

Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo algum imóvel, eu não sei o que está escrito na matéria...Qual é o problema? O que eu tenho a ver com o negócio deles?"
Jair Bolsonaro, sobre reportagem do UOL

"Investiga, meu Deus do céu. Quantos imóveis são? Mais de cem imóveis... Quem comprou? Eu? A minha família? Meus filhos já foram investigados. Desde quando eu assumi, quatro anos de pancada em cima do Flávio, do Carlos, Eduardo menos... Familiares meus do Vale do Ribeira. Eu tenho cinco irmãos no Vale do Ribeira", completou Bolsonaro.

Metade em dinheiro vivo Os colunistas Thiago Herdy e Juliana Dal Piva apuraram que, desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã.

Levantamento em cartórios As compras registradas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, este montante equivale, nos dias atuais, a R$ 25,6 milhões.

Não é possível saber a forma de pagamento de 26 imóveis, que somaram pagamentos de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos) porque esta informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA).

25 negócios levaram a investigações Ao menos 25 deles foram comprados em situações que suscitaram investigações do Ministério Público do Rio e do Distrito Federal. Neste grupo, estão aquisições e vendas feitas pelo núcleo do presidente, seus filhos e suas ex-mulheres não necessariamente com o uso de dinheiro vivo, mas que se tornaram objeto de apurações como, por exemplo, no caso das "rachadinhas" (apropriação ilegal de salários de funcionários de gabinetes).