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Grito dos Excluídos: "Nosso objetivo é matar a fome, não pregar o ódio"

No 28º Grito dos Excluídos, em São Paulo, manifestantes protestaram contra a fome e distribuíram alimentos - Caê Vasconcelos/UOL
No 28º Grito dos Excluídos, em São Paulo, manifestantes protestaram contra a fome e distribuíram alimentos Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

Do UOL, em São Paulo

07/09/2022 11h50

Com chuva e baixa temperatura, cerca de 200 pessoas se reuniram na manhã de hoje em frente à Catedral da Sé, no centro de São Paulo, para realizar o 28° Grito dos Excluídos. Para marcar o bicentenário da Independência do Brasil, o tema escolhido pelos organizadores neste ano foi: "200 anos de (in)dependência para quem?".

O combate à fome ganhou protagonismo no ato, com a distribuição de cerca de 3 mil kits de alimentos, realizada por movimentos sociais e por moradia durante toda a manhã.

"Nosso objetivo é matar a fome, não pregar o ódio. A população está com muita fome, diferente do que dizem candidatos, de que não existe fome", afirmou a cozinheira Maria Conceição Guimarães, 64, da União dos Movimentos por Moradia.

No fim de agosto, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) questionou dados que indicam que 30 milhões de brasileiros estariam na linha da pobreza. "Alguém vê alguém pedindo pão no caixa da padaria? Você não vê, pô", disse o presidente em entrevista à rádio Jovem Pan.

"Muitas famílias estão na rua porque o aluguel está caro. A gente pede moradia e eles falam que não precisa. Temos um presidente que exclui o pobre, que não olha para o pobre", completou a cozinheira, que participou da distribuição dos alimentos para a população em situação de rua.

"A população está com muita fome", diz a cozinheira Maria Conceição Guimarães, 64 - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
"A população está com muita fome", diz a cozinheira Maria Conceição Guimarães, 64
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

Com gritos de "fora, Bolsonaro", manifestantes protestaram contra o atual presidente durante todo o ato, que também teve falas a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Grito dos Excluídos é um ato nacional e popular que acontece tradicionalmente no dia 7 de setembro como contraponto às comemorações da Independência. Realizada desde 1995, a manifestação é liderada por entidades, igrejas e movimentos sociais.

O rapper e educador social Kric Cruz, 65 - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
O rapper e educador social Kric Cruz, 65
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

Trabalho, emprego e moradia. O rapper e educador social Kric Cruz, 65, fala da importância do ato.

"Temos que dar esse grito porque não podemos nos conformar com essa situação [da fome]. Não é pela independência, precisamos ter uma abolição verdadeira, com trabalho e moradia".

Para Roger de Jesus, 40, que está em situação de rua há 4 meses, a pandemia agravou a pobreza.

"Tem muita gente sem alimento, fuçando o lixo para comer. Com a pandemia aumentou bastante, tem mais gente na rua porque tem mais desemprego. Sem emprego formal, a gente continua na rua".

"O grito é um ato histórico que denuncia as violações e violências contra a população. Quando mais de um terço da população passa fome, o tema não poderia ser outro. Temos que trazer o grito das pessoas que estão sem os direitos mais básicos", definiu Rosângela Pezotti, coordenadora do Sefras (Serviço Franciscano de Solidariedade), uma das entidades organizadoras do ato.

Roger de Jesus, 40, durante o Grito dos Excluídos - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
Roger de Jesus, 40, durante o Grito dos Excluídos
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL