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Com Michelle e machismo, Bolsonaro ataca pesquisas e evita confrontar STF

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

07/09/2022 09h12Atualizada em 07/09/2022 15h08

Depois de participar do desfile militar na Esplanada dos Ministérios na manhã de hoje, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou em um comício em que atacou pesquisas de intenção de votos, fez comentários machistas, mas evitou embate com o STF (Supremo Tribunal Federal).

Com direito a pedido de votos, o presidente iniciou seu discurso em tom eleitoral.

"Vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", disse o Bolsonaro, antes de atacar as mulheres de outros candidatos ao usar a primeira-dama como modelo feminino.

"Podemos dar várias comparações, até entre as primeiras-damas. Ao meu lado uma mulher de Deus e ativa na minha vida. Ao meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente", disse.

Eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de serem infelizes: procurem uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes ainda!"
Jair Bolsonaro, em Brasília

A ideia machista cria distinções nas funções sociais entre homens e mulheres. "O machismo considera que, por suas diferenças, homens e mulheres desempenham papéis diferentes na sociedade. Às mulheres cabem os cuidados com a casa e às pessoas dependentes; aos homens, a gestão da vida pública, como a política, ciência e o trabalho remunerado", explicou à Ecoa Bruna Cristina Jaquetto Pereira, especialista em gênero e raça e doutora em sociologia pela UnB (Universidade de Brasília).

O presidente também ironizou as pesquisas de intenção de voto ao agradecer a presença de apoiadores em Brasília.

"Nunca vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela", disse. "Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso data povo. Aqui é a verdade, aqui é a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador."

Mesmo repetindo o mote da luta do bem contra o mal nesta eleição, Bolsonaro moderou o tom, mas provocou os opositores.

"É obrigação de todos jogarem dentro das 4 linhas da Constituição", disse. "Com uma reeleição, traremos para dentro das 4 linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas."

Mais cedo, durante café da manhã no Alvorada, Bolsonaro também provocou o STF ao receber —além de ministros, parlamentares e o pastor Silas Malafaia— empresários investigados pelo Supremo, como o dono da Havan, Luciano Hang, mais tarde posicionado ao lado do presidente durante o desfile militar.

Ainda no café da manhã, Bolsonaro citou rupturas para dizer que "a história pode se repetir".

Queria dizer que o Brasil já passou por momentos difíceis, mas por momentos bons, 22 [revolta tenentista], 35 [intentona comunista], 64 [golpe militar], 16 [impeachment de Dilma Rousseff (PT)], 18 [eleição presidencial] e agora, 22. A história pode repetir, o bem sempre venceu o mal. Estamos aqui porque acreditamos em nosso povo e nosso povo acredita em Deus" Jair Bolsonaro

"Tá aí uma certeza: que com perseverança, fazendo tudo aquilo que pudermos fazer aqui na terra, Ele decidiu que fará para nós o que for possível para a nação", disse Bolsonaro.

E continuou: "Assim sendo, eu tenho certeza que aqui há uma segunda terra prometida, um paraíso um pouco maravilhoso, uma terra inigualável em todo mundo. Continuaremos nos orgulhando do futuro que deixaremos para essa criançada que está aqui".

Hang foi um dos empresários alvos de uma operação da Polícia Federal, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, após mandar em um grupo de WhatsApp mensagens a favor de um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença Bolsonaro nas eleições de outubro deste ano.

Hang também acompanhou o presidente no desfile cívico-militar. Na cerimônia, ele se posicionou entre Bolsonaro e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. O empresário investigado fez também o próprio desfile e cumprimentou apoiadores do governo que esperavam o início do desfile. Nos arredores do evento, bolsonaristas protestavam contra o STF e, em faixas, pediam o impeachment de ministros, como o de Moraes.

O vídeo do discurso de Bolsonaro foi compartilhado no Instagram pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho "01" do presidente, também presente no café da manhã no Alvorada.

Chamada para atos. Também no Alvorada, Bolsonaro usou uma entrevista para o canal público TV Brasil para chamar a população a comparecer aos atos do 7 de Setembro.

"O povo que hoje está indo às ruas para festejar 200 anos de independência e uma eternidade de liberdade. O que está em jogo é nossa liberdade, é o nosso futuro, e a população sabe que ela que nos dá um norte para nossas decisões", declarou.

Todos do Brasil, compareçam às ruas de verde e amarelo para festejar a terra onde vivemos —uma terra prometida, aqui é um grande paraíso, ninguém tem o que temos presidente Jair Bolsonaro em transmissão da TV Brasil

O uso da TV pública pelo presidente já foi contestado por parlamentares de oposição, que argumentam que ele estaria usando uma estrutura pública em benefício próprio.

A transmissão de compromissos do presidente é legítima, mas o uso eleitoral do canal poderia ser enquadrada como abuso de poder político e dos meios de comunicação social.

A expectativa entre bolsonaristas para a comemoração do Dia da Independência é grande. O próprio presidente vem convocando apoiadores para os atos. Ele deverá participar de eventos em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo —nesta última, fará um discurso remoto para apoiadores na avenida Paulista.

Desfile em Rolls-Royce. Bolsonaro seguiu à Esplanada dos Ministérios para o desfile em comemoração ao Bicentenário da Independência do Brasil. Ele chegou ao local da parada militar por volta de 8h45, acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, desfilam em Rolls-Royce - 7.set.2022 - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo - 7.set.2022 - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, desfilam em Rolls-Royce
Imagem: 7.set.2022 - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Ele seguiu por um trecho no Rolls-Royce presidencial com a esposa, o filho Flávio e netos. Ao desembarcar, ao lado de seguranças e aliados, foi cumprimentar apoiadores. O chefe do Executivo foi recebido aos gritos de "mito", e percorreu um trecho da Esplanada dos Ministérios para saudar o público.

No início do evento, a esquadrilha da fumaça fez um show aéreo para celebrar os 200 anos de Independência e foram tocados os hinos nacional e da Independência pela banda dos Dragões da Independência e cantados por alunos do Colégio Militar de Brasília.

Apoiadores chegaram à Esplanada por volta das 7h. As vias foram fechadas desde segunda-feira (5) para reforçar a segurança na região central da capital federal.

Presença de ministros. Os ministros General Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Paulo Guedes (Economia) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) participam da cerimônia.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, e o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, Walter Braga Netto, também estão no local e chegaram por volta de 8h30. Braga Netto foi até a grade cumprimentar apoiadores.

Sem Fux, Lira e Pacheco. Bolsonaro foi o único chefe de Poder brasileiro a ir ao evento. Isso porque os presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidiram não acompanhar o evento.

A aliados, Pacheco disse durante a semana que não participaria do desfile se o ato tivesse teor eleitoral, com discurso de Bolsonaro.

Hoje, ele fez uma postagem no Twitter dizendo que as manifestações do Sete de Setembro "precisam ser pacíficas, respeitosas e celebrar o amor à pátria, à democracia e o Estado de Direito".

Já Lira, aliado do Palácio do Planalto e líder do Centrão, ficou em Alagoas, onde se concentra em sua campanha à reeleição.

Nas redes sociais, celebrou a data. "Há 200 anos, começava a nascer o Brasil de hoje, com um futuro de desafios, decisões difíceis mas necessárias e grandes conquistas a alcançar."

Com empresários alvo do Supremo. Quem compareceu ao café da manhã no Palácio do Alvorada antes do desfile, e na cerimônia da Esplanada, foi Luciano Hang, dono da varejista Havan, a convite do presidente Bolsonaro. Vestindo um terno verde, ele foi aclamado por apoiadores aos gritos de "Luciano, Luciano" ao chegar no evento.

Luciano Hang ao lado de Bolsonaro durante desfile do Sete de Setembro - Reprodução/TV Brasil - Reprodução/TV Brasil
Luciano Hang ao lado de Bolsonaro durante desfile do Sete de Setembro
Imagem: Reprodução/TV Brasil

Hang foi um dos empresários alvo de uma operação da Polícia Federal após mandar em um grupo de WhatsApp mensagens a favor de um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de outubro deste ano.

Ontem, Hang entrou com um recurso na Suprema Corte para recuperar acesso às contas bancárias e perfis de redes sociais. Por meio de sua assessoria de imprensa, o empresário afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a ação de busca e apreensão feita pela PF, cometeu um "erro" e que as decisões foram para deixá-lo calado.

Autoridades estrangeiras. Participam também do evento o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, além de outras autoridades estrangeiras, como José Maria Neves, presidente de Cabo Verde; general Umaro Sissoco Embaló, presidente da Guiné-Bissau; doutor Zacarias Albano da Costa, secretário-executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Constantino Alberto Bacela, ministro de Moçambique para Assuntos da Casa Civil.

Segurança reforçada. Apesar da pressão de Bolsonaro para liberar o acesso de caminhões à Esplanada dos Ministérios, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), não liberou a entrada dos veículos, como medida de segurança combinada com o STF (Supremo Tribunal Federal) e com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

No ano passado, caminhoneiros bolsonaristas romperam as barreiras de segurança na véspera do 7 de Setembro e pressionaram para invadir o prédio do STF. Essa era uma das principais preocupações do presidente da Suprema Corte, Luiz Fux.