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Bloqueio de rodovia em SC tem gospel e churrasco diante de povo parado

Caminhoneiros servem churrasco de linguiça com pão a apoiadores - Abinoan Santiago/UOL
Caminhoneiros servem churrasco de linguiça com pão a apoiadores Imagem: Abinoan Santiago/UOL

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Palhoça (SC)

01/11/2022 17h32

Enquanto bloqueiam a passagem de milhares de pessoas em direção ao sul de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, grupos que não aceitam a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas fazem churrasco e escutam música gospel. O ato, na BR-101, em Palhoça (SC), também é embalado pelos hinos da Bandeira e Nacional.

O ato "é de família", dizia um dos participantes do bloqueio em um microfone, ao pedir que o grupo não consumisse cerveja. A interdição impedia um homem de visitar a mãe, internada às pressas em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Churrasco de linguiça com pão francês e refrigerantes eram servidos nesta terça-feira aos apoiadores do bloqueio, que se concentravam em frente à loja Havan, de Luciano Hang, aliado de primeira hora de Bolsonaro. Durante a tarde, novos grupos chegaram à região.

Duas churrasqueiras foram montadas na beira da estrada e o almoço desta terça-feira (1) foi arroz com linguiça e pão de forma. No meio da concentração, era possível ouvir conversas com termos como pedido de "intervenção militar" e "eleições limpas".

As eleições presidenciais deram a vitória para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por uma diferença de 2 milhões de votos em relação a Bolsonaro. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), afirmou nesta terça-feira que dará início à transição.

Logo depois da apuração, na noite de domingo, grupos inconformados com os resultados passaram a bloquear rodovias na tentativa de impedir a posse de Lula.

Em Palhoça, um carro de som era usado para dar ordens ao movimento, como pedidos para as pessoas usarem as redes sociais —sobretudo, WhatsApp e Telegram— para convocar mais gente a participar do ato. Na trilha sonora, sertanejo, moda de viola e música gospel.

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Protesto em Palhoça ocorre frente à loja da Havan, em Santa Catarina
Imagem: Abinoan Santiago/UOL

Também era possível ver cartazes com frases em inglês, que traduzidas para português diziam "nós queremos eleições sem fraude". Ao contrário do que afirmam os grupos que bloqueiam as estradas, não houve qualquer irregularidade nas eleições.

Uma das maneiras de barrar a circulação era a montagem de barracas. A reportagem constatou caminhoneiros acampando entre os vãos dos caminhões. Alguns apoiadores também levaram cadeiras de praia para sentar na rodovia.

Motoristas de carros parados próximos à região eram orientados a não seguir viagem para outros municípios ao Sul do estado porque os bloqueios não seriam liberados. Ambulâncias e caminhões com suprimentos perecíveis conseguiam passar, mas outros veículos permaneciam impedidos.

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Grupos pró-Bolsonaro pedem intervenção militar em SC
Imagem: Abinoan Santiago/UOL

Bolsonaro diz que direito de ir e vir deve ser preservado

O presidente Jair Bolsonaro (PL) rompeu nesta terça à tarde o silêncio, que durava quase dois dias, desde que foi derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O pronunciamento ocorreu no hall de entrada do Palácio da Alvorada, a residência oficial da chefia do Executivo federal, e durou 2 minutos e 3 segundos.

Bolsonaro se referiu aos bloqueios nas estradas, atos promovidos por apoiadores do governo que não aceitam a derrota, como "movimentos populares", que seriam "fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral".

Depois, mudou o tom e afirmou que "manifestações pacíficas são bem-vindas", mas que "o direito de ir e vir" da população deve ser preservado.

Aval para transição. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), dará início à transição de governo junto ao vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB). Ele disse ter sido autorizado por Bolsonaro a assumir a função.