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Rio: Ato bolsonarista pró-golpe tem festa, oração e ataques a Lula

Do UOL, no Rio

02/11/2022 12h48

Estimuladas por correntes distribuídas por aplicativos de mensagens, milhares de pessoas se concentram desde o início da manhã de hoje (2) em um protesto pró-golpe em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do CML (Comando Militar do Leste), no centro do Rio de Janeiro. Em clima de euforia, pedem por um golpe liderado pelas Forças Armadas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além do clima de festa e de pedidos por golpe, os manifestantes —que não têm liderança clara— fazem ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao processo eleitoral. Um grupo de mulheres se ajoelhou em cima de uma bandeira do Brasil que e orou para que Deus "salvasse o Brasil".

Sem intervenção do Batalhão de Choque, que enviou ao menos oito viaturas para o local, os manifestantes entraram no meio do tráfego e fecharam progressivamente as pistas da avenida Presidente Vargas, a principal do Centro do Rio. Ao meio dia, apenas a pista lateral no sentido Candelária tem trânsito de veículos.

Apelos ao Exército e oração. A todo o momento, os cantos dos manifestantes pediam que o Exército liderasse um golpe de Estado contra o resultado das eleições. O preferido era "intervenção federal", mas também é frequente o brado "Forças Armadas, salvem o Brasil".

De frente para o Pantheon de Caxias —conjunto arquitetônico que inclui uma estátua do patrono do Exército— três mulheres evangélicas se ajoelharam sobre uma grande bandeira do Brasil e começaram a orar. "A tua justiça para o teu povo, senhor", dizia a líder do grupo, entre gritos de "glória" e "aleluia". Outra falava em línguas, enquanto uma manifestante —percebendo que diversas pessoas filmavam o clamor— posicionou um cartaz atrás das evangélicas com os dizeres "Queremos intervenção federal já".

Teorias da conspiração. O protesto foi convocado por meio de correntes espalhadas no WhatsApp e no Telegram. Nas mensagens havia a informação de que após 72 horas da mobilização iniciada ainda na noite da eleição, com os primeiros bloqueios de rodovias federais, as Forças Armadas sairiam dos quartéis para liderar uma "intervenção federal", ressoando a velha campanha de desinformação bolsonarista a respeito de um suposto poder moderador dos militares por meio do artigo 142 da Constituição.

Como solicitado nessas correntes, os manifestantes evitaram usar camisas, faixas e adesivos em alusão à candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, derrotada no segundo turno por Lula. Quase todos usam camisas da seleção brasileira e bandeiras do Brasil.

Nas rodas de conversa, circula todo tipo de teoria da conspiração. A mais frequente, segundo observou a reportagem, era de que as autoridades tinham cortado a internet no local do protesto. Na verdade, as redes de dados estão instáveis pela grande concentração de pessoas, da mesma forma que ocorre em outros eventos, como desfile de blocos de carnaval, jogos de futebol e festivais de música.

"Querem esconder, mas o povo sabe que estamos aqui", reclamou uma mulher negra de meia idade ao chegar ao local, se referindo à falta de sinal.

Em um dos grupos que chegavam ao local por volta das 10h30, uma mulher estimulava os demais a contestarem o resultado da eleição. "Roubado não leva", repetia ela efusivamente.

Apesar dos discursos, nunca foi provada nenhuma vulnerabilidade no sistema de votação eletrônico, implantado em 1996. No dia do segundo turno, lideranças pró -Lula e grande quantidade de usuários nas redes sociais viram uma tentativa de manipular o resultado das eleições para beneficiar Bolsonaro nas operações realizadas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) contra veículos que transportavam eleitores —sobretudo no Nordeste, onde Lula venceu com grande vantagem.

Durante todo o dia, uma chuva esparsa prejudicou a manifestação. Por volta das 14h15, passou a chover forte e muita gente decidiu ir embora.