Bolsonaristas pedem 'picanha na cadeia' e 'intervenção já' em ato em SP
"Não podemos citar o governo para não causar problemas. Não podemos fazer as práticas que nós estávamos fazendo", pediu uma mulher a manifestantes em frente ao Comando na 2° Região Militar de São Paulo no início da tarde de hoje (2). Ao menos 10 estados tiveram atos em frente a quarteis militares nesta quarta-feira.
No local, próximo ao parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo), uma aglomeração crescente de pessoas ignorou a chuva para protestar contra a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.
A reportagem não identificou as lideranças que discursaram no alto de um caminhão com uma caixa de som acoplada. Eles prometiam que só deixariam o local quando "a situação fosse resolvida", em referência aos pedidos por uma "intervenção federal".
Ruas ocupadas. A manifestação se concentrou na rua Manoel da Nóbrega, desde o Monumento às Bandeiras até a avenida Marechal Estênio Albuquerque Lima, trecho de 1 km de extensão. A rua Sargento Mário Kozel Filho, uma das entradas do quartel, também foi completamente bloqueada, assim como outras ruas que cruzam a Manoel da Nóbrega.
Na região houve buzinaço e caixas de som que alternaram entre o Hino Nacional e do Hino da Bandeira. As praças da área foram tomadas pelo ato, que teve início por volta de 9h desta quarta-feira.
Intervenção federal. Vestidos com camisas da seleção brasileira, roupas verdes e amarelas e carregando a bandeira do Brasil, os manifestantes cobraram "intervenção federal" contra o resultado conquistado nas urnas neste domingo (30).
Diversas faixas pró-golpe pedindo intervenção militar, intervenção federal, o fim do STF (Supremo Tribunal Federal) e orações à nação foram vistas pela reportagem. Uma delas dizia que "jornalista defende bandido" e chamava a TV Globo de golpista. O helicóptero da emissora, que fazia imagens aéreas do protesto, foi vaiado e xingado pelos presentes.
"Sonhei que todos eram presos. Bolsonaro, Moro e Deltan. Se isso aqui não virar, eles vão presos mesmo. Por isso precisamos estar aqui", disse um manifestante de meia-idade a um amigo na entrada do quartel.
Gritos de "a nossa bandeira jamais será vermelha", "Lula ladrão" e "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor" foram entoados repetidas vezes.
Apoio aos caminhoneiros. Os manifestantes endossaram apoio aos bloqueios feitos por caminhoneiros nas vias federais, estaduais e municipais em protesto ao resultado das eleições.
Um grupo levou cavalos mecânicos — a parte da frente dos caminhões, onde ficam as cabines dos motoristas — e os posicionou na rua Manoel da Nóbrega. Diversas pessoas pediam para tirar fotos em frente ao local.
Chuva. No início da tarde, quando começou a chover, muitos foram embora e alguns grupos se abrigaram embaixo de árvores e marquises. Na esquina da rua Paulino Camasmie com a avenida Brigadeiro Luís Antônio, uma apoiadora de Bolsonaro reclamou: "O que é uma chuvinha perto da nossa liberdade? O pessoal não pode arregar agora."
Pai Nosso. "A gente devia fazer uma oração, né?", propôs uma manifestante em frente ao quartel. Várias vezes grupos distintos puxaram coros de "Pai Nosso" e algumas pessoas se ajoelharam para rezar.
Próximo ao Monumento às Bandeiras, um homem de terno segurava a Bíblia e lia trechos de passagens bíblicas aos manifestantes.
Fake news. A reportagem ouviu de alguns manifestantes que os atos de hoje eram decisivos para o futuro da nação. "As eleições podem ser revogadas em até 72 horas", disse uma mulher. Em outro ponto, um grupo reclamava da falta de sinal no celular e apontava o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva como o culpado.
"Cortaram o nosso sinal aqui. Já estão cortando o sinal, olha só", disse uma mulher. Um dos manifestantes que passava tentou explicar que o motivo do fraco sinal era o excesso de gente na área, o que leva à sobrecarga dos serviços de telefonia móvel. Mas não foi ouvido pelos companheiros. "Isso está muito estranho", observou uma gestante enquanto comprava pipoca na avenida Brigadeiro Luís Antônio.
Picanha. Um grupo começou a gritar "picanha na cadeia" ao ver ambulantes vendendo espetinhos de carne no local. A fala é uma menção à promessa de Lula de que a população voltará a comer picanha e carne vermelha no seu governo.
Patrulha canina. Diversos manifestantes levaram seus cachorros para o ato. Um labrador preto foi parado por um grupo que pediu ao tutor dele para fotografá-lo. O animal usava uma bandana com a bandeira do Brasil.
"Ele não vai virar picanha, não vamos deixar", disse um dos manifestantes.
O UOL ouviu frases semelhantes repetidas por tutores de cães em mais de uma ocasião. Bolsonaro tem repetido, sem provas, que na Venezuela os cachorros de estimação estão virando comida da população que passa fome. Isso tem sido propagado em grupos de apoiadores do presidente: o youtuber bolsonarista Gustavo Gayer publicou, no dia da eleição, que disse à sua cadela que ela não viraria refeição.
Camisas de Neymar à venda. Diversas araras contendo camisetas da seleção brasileira com o nome do atacante Neymar nas costas estavam à venda. O jogador é apoiador de Bolsonaro.
Os preços variam entre R$ 95 e R$ 115, sendo o modelo mais barato uma polo e o mais caro o estilo dry fit, utilizado pelos próprios jogadores.
Já as bandanas com a bandeira do Brasil saem mais em conta, em torno dos R$ 25.
Cavalgada. Um apoiador de Bolsonaro saiu com seu cavalo do bairro Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte de São Paulo, até a região do Ibirapuera, na zona sul da cidade. Ele cavalgava sobre o animal em frente ao Monumento às Bandeiras e também recebeu diversos pedidos de fotos com outros manifestantes.
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