Imagens inéditas de drone mostram STF desprotegido no início dos ataques
Um drone registrou o STF (Supremo Tribunal Federal) sem nenhuma barreira policial no início da invasão do Congresso Nacional, por volta das 14h50 de 8 de janeiro. As imagens, inéditas, foram compartilhadas em grupos de Telegram bolsonaristas.
O drone estava posicionado acima do Congresso. Após registrar o gramado, a rampa e o teto do Legislativo tomados por invasores, o equipamento fez um giro e flagrou o STF desprotegido. O próprio teto do Congresso tem uma conexão com a via que leva ao Supremo.
As imagens foram distribuídas no Telegram com a narração de um homem, sem identificação, que diz ter sido o responsável pelo drone.
"Filmei todas as invasões e filmei a retirada do povo também, tudo isso aí eu tenho filmado de cima. Não invadi nada, porque eu tava ali, dá para ver do ar eu filmando, longe de tudo. O meu drone foi em tudo o que é lugar e filmou tudo o que aconteceu", conta ele.
O STF foi a última sede dos Poderes a ser invadida, por volta das 15h40. Outras imagens mostram que, nesse momento, forças de segurança já haviam sido deslocadas para proteger o local, mas não conseguiram conter os extremistas.
As imagens mostram claramente que as forças de segurança não tinham efetivos suficientes para fazer o controle dos distúrbios civis provocados pelos golpistas e agiram a reboque dos acontecimentos.
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Já imagens das 17h54, após a retomada do STF pelas forças de segurança, mostram um cenário totalmente diferente, com presença maciça de tropas:
- O prédio do STF estava cercado por 100 policiais.
- Uma barreira de 35 agentes defendia o estacionamento na lateral do prédio.
- Mais 15 membros da cavalaria fechavam a via de acesso do Congresso para o Supremo.
- Uma barreira de cerca de 20 policiais protegia a diagonal do prédio.
- Duas tropas adicionais com cerca de 10 pessoas cada estavam posicionadas nos entornos.
A Polícia Militar, responsável pela segurança externa do Supremo, não se manifestou. Já o STF, que tem uma Polícia Judiciária para defender o interior do prédio, disse que "conta com um esquema de segurança reforçado desde 7 de setembro de 2022", quando havia a expectativa de ataques ao prédio, como havia ocorrido em 7 de setembro de 2021.
O UOL analisou quase 260 vídeos, que totalizam mais de 30 horas de imagens. São registros feitos por circuitos de segurança de prédios públicos, câmeras usadas junto ao corpo por agentes da Polícia Legislativa durante a invasão do Congresso e até filmagens compartilhadas pelos próprios bolsonaristas em grupos de mensagens e nas redes sociais.
A maioria das gravações dura menos de 1 minuto. Porém, analisadas em conjunto, elas ajudam a entender o que aconteceu em Brasília no último dia 8 de janeiro.
Vídeos também mostram Planalto sem proteção
Imagens gravadas por invasores do Congresso também mostram o Palácio do Planalto desprotegido no início dos ataques.
Em um dos vídeos, um homem filma um bolsonarista ferido na perna ao lado do teto do Congresso, a apenas 250 metros da entrada de visitantes do Planalto.
É possível ver que não havia nenhuma barreira de contenção policial na sede do Executivo, apenas cinco viaturas distribuídas na via. Naquele momento, o Legislativo já estava completamente tomado e um grupo de extremistas avançava em direção ao Planalto.
Outro trecho do vídeo de drone também mostra a inexistência de cordão policial para defender a sede do Executivo.
Polícia foi forçada a recuar, pelo menos, sete vezes
Imagens analisadas pelo UOL mostram que as forças de segurança, inicialmente empregadas em pequeno número e sem equipamento adequado para contenção de distúrbios, foram forçadas a recuar em, pelo menos, sete ocasiões no dia 8 de janeiro:
1) No começo da tarde de 8 de janeiro, bolsonaristas romperam uma barreira formada por mais de 30 policiais militares, no começo da Esplanada dos Ministérios.
2) Às 14h43, golpistas romperam outra barreira de cerca de 30 policiais militares, que atravessava a Esplanada dos Ministérios, a cerca de 200 metros do Congresso. O objetivo deste bloqueio era impedir que os radicais acessassem os três Poderes. Não deu certo. Foi o início da invasão.
3) Dois minutos depois, os invasores chegaram à rampa que dá acesso ao teto do prédio do Congresso e à passarela para a entrada principal. Ali, havia apenas duas viaturas e dois agentes da Polícia Legislativa, que disparam jatos de spray de pimenta contra a multidão. Um dos policiais aparentemente tem o spray de pimenta roubado e chutado para longe. Vários bolsonaristas se amontoam sobre ele. O outro entra na viatura, mas logo os extremistas se aglomeram no entorno do carro. Os policiais e as viaturas, em seguida, recuam para a lateral do Congresso. Uma das viaturas cai no espelho d'água.
4) Por volta das 15h, uma pequena tropa de policiais avançou pelo teto do Congresso, disparando bombas de gás lacrimogêneo. Mas foi forçada a recuar.
5) Por volta das 15h10, bolsonaristas desceram do Congresso em direção ao Planalto e encontraram uma barreira de cerca de 10 policiais posicionada perto da entrada do estacionamento do Palácio. A multidão passou pela tropa e avançou para o prédio. Uma segunda barreira com número semelhante de policiais estava posicionada no interior do estacionamento, mais próxima ao prédio, e também teve que recuar diante da invasão dos bolsonaristas.
6) Após a invasão do Planalto, sete policiais militares a cavalo tentaram subir a rampa, mas foram rechaçados pelos invasores, que atiraram uma garrafa d'água e outros objetos e gritaram: "Desce, desce". A cavalaria recuou.
7) Por volta das 15h40, o STF já havia recebido reforço de segurança, mas não foi suficiente para evitar a invasão.
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