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Novo comandante do Exército suspende nomeação de ex-assessor de Bolsonaro

Colunista do UOL, em Brasília, e do UOL, em São Paulo

24/01/2023 17h57Atualizada em 25/01/2023 08h28

O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid entregou hoje pela manhã um requerimento ao novo comandante do Exército, general Tomás Paiva, pedindo adiamento de comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia (GO) — ambos conversaram sobre a decisão.

O general Tomás recebeu o documento horas antes da primeira reunião do Alto Comando presidida por ele — cuja principal pauta era a situação do ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL). O comandante aceitou o pedido de afastamento, e agora deve designar um novo oficial para o posto.

No requerimento, Cid diz que está se defendendo de acusações na Justiça e que, por isso, não quer assumir. A decisão de Cid de tomar a iniciativa foi vista como "bastante adequada" por generais do alto comando, tirando um peso das costas do novo chefe do Exército.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou incomodado com a situação do antigo ajudante de ordens de Bolsonaro e pediu ao ministro da Defesa, José Múcio, para que a situação fosse resolvida.

A recusa do último comandante, Júlio César de Arruda, em desfazer a nomeação de Cid a foi a gota d'água para sua demissão — a primeira baixa do governo petista.

Tomás chegou com o desafio de atender o pedido de Lula sem amplificar ainda mais a crise com os militares. Justamente por isso, o novo comandante teria que convencer o Alto Comando na reunião de hoje de que o ex-homem de confiança de Bolsonaro não poderia chefiar o batalhão.

Na caserna, havia resistência por parte de alguns militares, que alegavam que Cid não poderia ser condenado apenas por estar sendo investigado.

A nomeação de Cid para o posto já estava decidida desde maio do ano passado quando foi publicada a designação dele e de todos os outros comandantes nomeados para o biênio 2023-24.

Caso assumisse o comando agora em fevereiro e as investigações avançassem, o peso para a Força seria maior.

Um general, no entanto, destacou que o pedido de afastamento de Cid não indica que o tenente-coronel ficará impedido de assumir o comando no futuro. Caso ele seja absolvido, no ano que vem ele poderia assumir este ou outros batalhões.

Considerado o braço direito de Bolsonaro e um de seus principais conselheiros, Mauro Cid foi indiciado pela Polícia Federal sob acusação de produzir desinformação disseminada pelo ex-presidente.

Em dezembro, a PF concluiu que Bolsonaro associou, falsamente, a vacina contra a covid-19 e o vírus HIV em uma live feita em outubro de 2021. Na mesma transmissão ao vivo, Bolsonaro disse, sem apresentar provas, que a maioria das vítimas de gripe espanhola não teria morrido da doença, mas de "pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscara".

A investigação indica que Mauro Cid levantou as informações e, por isso, ele foi indiciado por dois crimes:

  • Art. 141 da Lei de Contravenções Penais: Provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar ato capaz de produzir pânico ou tumulto;
  • Art. 286 do Código Penal: Incitação ao crime.

Segundo reportagem do site Metrópoles, o militar também teria coordenado um suposto caixa 2 no gabinete de Bolsonaro. Cid é apontado ainda como responsável pela produção da apresentação de Bolsonaro a embaixadores, na qual o então presidente novamente questionou as urnas.

Em campanha para reeleição no ano passado, Bolsonaro se exaltou em live ao defender seu ajudante. Ele atacou o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e o acusou de ter "vazado" informações da quebra de sigilo de Cid para a imprensa.

"Quebrar o sigilo do meu ajudante de ordem é uma covardia, covardia. Por que ele quebrou o sigilo do ajudante de ordem? 'Ah, ele que abastece o Bolsonaro com fake news' [...] Quem vazou foi você, seja homem",afirmou.

  • As investidas de Bolsonaro ocorreram após a publicação de uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre mensagens encontradas pela PF no celular de um assessor.
  • Isso renovou as suspeitas a respeito das movimentações financeiras da família, em especial de Michelle Bolsonaro. A quebra de sigilo bancário de Cid foi autorizada por Moraes, a pedido dos investigadores.