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Homem preso por destruir relógio de dom João 6° se cala em depoimento à PF

PF identifica suspeito de quebrar relógio raro no Planalto - Divulgação/Presidência da República
PF identifica suspeito de quebrar relógio raro no Planalto Imagem: Divulgação/Presidência da República

Vinícius Nunes

Colaboração para o UOL, em Brasília

24/01/2023 17h38Atualizada em 25/01/2023 05h48

Antônio Cláudio Alves Ferreira, 30, permaneceu em silêncio durante depoimento à Polícia Federal na noite de ontem (24) em Uberlândia (MG). Ele foi preso na cidade mineira e levado para uma delegacia da PF. De lá, foi transferido para o presídio Professor Jacy De Assis, onde passou a noite.

A PF informou que ele é investigado sob a acusação dos crimes de:

  • abolição violenta do Estado democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado;
  • associação criminosa;
  • incitação ao crime;
  • destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Segundo a polícia, não houve resistência no momento da prisão e Ferreira deve ser transferido para Brasília, onde é alvo da Operação Lesa Pátria. O ministro Alexandre de Moraes é quem está à frente dos inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal.

Na manhã desta terça, a PF fez uma operação de busca e apreensão na casa de Antônio Ferreira em Catalão (GO), a 250 km de Goiânia. Segundo a corporação, foram apreendidos na casa dele: um celular; um veículo e uma caderneta contendo anotações.

Quem é o golpista

Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o homem foi filmado pelo circuito interno do Palácio do Planalto, em Brasília, em 8 de janeiro, derrubando o relógio Balthazar Martinot, do século 17, presente da corte francesa para dom João 6º. Ele usava uma camiseta estampada com a foto do ex-presidente.

A Polícia Civil de Goiás confirmou a identidade de Ferreira no último domingo, quando ele passou a ser considerado foragido.

O bolsonarista tem outros dois processos na Justiça: ameaça, em 2014, e tráfico de drogas, em 2017. Segundo a Polícia Civil de Goiás, os casos estão arquivados, pois Antônio Ferreira já cumpriu as sentenças.

Relógio destruído por bolsonarista - Reprodução - Reprodução
Relógio destruído por bolsonarista
Imagem: Reprodução

Valor histórico e simbólico

O relógio de pêndulo destruído é atribuído ao famoso relojoeiro francês Balthazar Martinot. Embora Martinot tenha produzido várias peças para a corte francesa, apenas dois exemplares resistiram ao tempo — um deles é o que foi trazido ao Brasil em 1808. O outro está guardado no Palácio de Versalhes, em Paris.

Segundo o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, o valor material do relógio destruído é enorme, mas seu valor histórico e simbólico é ainda maior. Segundo Carvalho, é possível restaurar a peça, mas a eficácia do serviço é incerta.

Quem foi preso

Na sexta (20), Moraes manteve 946 golpistas presos preventivamente nos presídios da Papuda e Colmeia. Outras pessoas 464 obtiveram liberdade provisória e devem cumprir medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica.

Moraes está à frente dos inquéritos que correm no STF sobre o ato golpista de 8 de janeiro. Em um deles, a Corte apura as supostas responsabilidades de agentes públicos na facilitação para o vandalismo bolsonarista. Entre eles, Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF; e Ibaneis Rocha (MDB), governador afastado do DF.

Danos e prejuízos

A AGU (Advocacia-Geral da União) pediu hoje à Justiça Federal do Distrito Federal o bloqueio de bens de 40 pessoas presas em flagrante durante os ataques em 8 de janeiro.

Esta é a segunda ação do órgão contra envolvidos nos atos golpistas — a primeira, apresentada no último dia 12, envolveu 52 pessoas e sete empresas suspeitas de financiarem a ida dos radicais para Brasília. Agora, a pasta mira os executores dos ataques.

Na semana passada, a AGU subiu, para R$ 18,5 milhões o pedido de bloqueio de bens de financiadores do ato golpista de 8 de janeiro. O valor inicial solicitado à 8ª Vara Federal de Brasília era de R$ 6,5 milhões.

Todo o dinheiro será reservado para custear a restauração dos prédios do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal.

Segundo o último relatório da AGU, o valor da reforma pode chegar a R$ 18 milhões. A conta, no entanto, não inclui a restauração das obras de arte danificadas e presentes de chefes de Estado.