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Rivotril e picanha: o que sabemos sobre o cartão corporativo de Bolsonaro

Jair Bolsonaro chegou a dizer que nunca gastou um centavo com cartão - Mauro Pimentel/AFP
Jair Bolsonaro chegou a dizer que nunca gastou um centavo com cartão Imagem: Mauro Pimentel/AFP

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

24/01/2023 04h00

As notas fiscais relativas aos gastos do cartão corporativo do ex-presidente Jair Bolsonaro foram divulgadas ontem. Entre as novidades, está o detalhamento de quais alimentos e remédios foram comprados com o cartão.

As revelações são uma resposta a um pedido de informação feito pela agência de dados Fiquem Sabendo, especializada em LAI (Lei de Acesso à Informação).

Há duas semanas, as planilhas dos gastos do cartão corporativo de Bolsonaro se tornaram públicas, mas as notas fiscais, com o descritivo do que foi comprado, ainda não estavam disponíveis.

No início do ano, a Secretaria-Geral da Presidência divulgou que o ex-presidente gastou pelo menos R$ 27,6 milhões entre 2019 e 2022 no seu cartão corporativo. Segundo o Portal da Transparência, no entanto, as despesas totais ultrapassam R$ 75 milhões —quase o triplo do valor inicial.

Entre os destaques, estão os gastos com hospedagem, a maior fatia do que foi comprado com o cartão.

  • No total, foram R$ 13,7 milhões com hotéis
  • Somente no Ferraretto Hotel, no Guarujá, cidade do litoral paulista, foi pago R$ 1,4 milhão

Na alimentação, outra parcela significativa nos gastos gerais do cartão — R$ 10,2 milhões —, se destacam:

  • Os R$ 8.600 gastos em sorveterias.
  • Cerca de R$ 408 mil em peixarias.
  • Em padarias, Bolsonaro gastou R$ 581 mil ao longo do mandato.

Agora, com o detalhamento das notas fiscais, é possível saber que:

  • 14 notas fiscais foram de compras de picanha, com uma delas chegando ao valor de R$ 3.202,06.
  • Foram detalhados gastos com caviar, filé mignon, camarão, leite condensado e nutella.
  • Houve compra de medicamentos, como Rivotril -- usado contra depressão e ansiedade --, antibióticos e remédios para tratamento de úlceras gastrointestinais.
  • Houve ainda gastos com combustíveis para os veículos que participavam das motociatas que o ex-presidente organizou ao longo do mandato, segundo a Fiquem Sabendo.
  • Bolsonaro ainda pagou a hospedagem do filho Carlos com o cartão. O valor desembolsado foi de R$ 2,3 mil em maio de 2021.

Saques

Além disso, pelo menos R$ 38.075 foram sacados em dinheiro vivo nos cartões corporativos da Presidência da República entre 2019 e 2021, no governo Bolsonaro. Chamam a atenção saques com valores repetidos no mesmo dia.

  • Em 11 de janeiro de 2019, o servidor Vanerlei Silveira fez sete saques, que totalizam R$ 6.710
  • Em 11 de junho de 2021, o mesmo Vanerlei fez quatro saques idênticos de R$ 1.000
  • Em 16 de março de 2021, Valdira Claudino também sacou R$ 1.000 quatro vezes
  • Em 18 de fevereiro de 2019, Magda Carneiro fez seis saques idênticos de R$ 1.000.
  • No dia seguinte, ela fez quatro saques de R$ 1.000 e um de R$ 900. Ao todo, ela embolsou R$ 10.900 nesses dois dias.
  • Em 17 de janeiro de 2019, o motorista Alexandre Almeida também sacou R$ 8.000 no mesmo dia.

De acordo com a Fiquem Sabendo, ainda há mais notas fiscais a serem divulgadas pelo atual governo. Até agora, 2,6 mil documentos foram escaneados, um total de 20%.

Com a divulgação desses dados, o Ministério Público de Contas pediu ao TCU (Tribunal de Contas da União) a apuração do uso do cartão corporativo por Bolsonaro.

O cartão corporativo da Presidência é bancado por dinheiro público e deve ser utilizado para pagamento das despesas realizadas com compra de material e prestação de serviços, nos estritos termos da legislação vigente, conforme o decreto que rege o uso do meio de pagamento.

Bolsonaro negava uso de cartão corporativo

Durante o mandato, Bolsonaro negava o uso do cartão corporativo.

"A média [de gastos no cartão corporativo] está em R$ 3 milhões [...] Nunca gastei um centavo, eu posso sacar até R$ 25 mil por mês e tomar Tubaína, mas nunca usei
Bolsonaro, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, em janeiro de 2022

Na ocasião, o presidente explicou que os gastos eram em decorrência da quantidade de seguranças que o protegiam no dia a dia do mandato.