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Invasor foi detido perto do STF dias antes de 8/1; grupo tinha faca e rádio

Do UOL, em São Paulo

28/01/2023 04h00

Na noite de Natal do ano passado, um dia depois de uma bomba ser desarmada em um caminhão de combustível em Brasília, oito pessoas foram detidas pela Polícia Militar a caminho do STF (Supremo Tribunal Federal). Com elas, havia estilingues, rádios comunicadores e uma faca. Apesar do clima de tensão na capital federal e dos objetos apreendidos, todas foram soltas no mesmo dia.

Duas semanas depois, na tentativa de golpe bolsonarista de 8 de janeiro, pelo menos uma dessas pessoas conseguiu invadir o STF: Diego Ventura, liderança de um grupo de extrema direita presente no acampamento do Quartel-General do Exército em Brasília.

O UOL identificou Ventura em vídeos do lado de fora do Supremo, chutando grades de contenção logo antes do início da invasão. Também encontrou imagens do militante dentro do prédio depredado, comemorando o que ele chamou de "missão cumprida".

Junto dele estava Ana Priscila Azevedo. Conhecida entre radicais bolsonaristas, ela vinha divulgando áudios e vídeos em que pregava a tomada dos três Poderes no dia 8. Desde 10 de janeiro, está presa.

Já Ventura não constava na lista de detidos pelos ataques até sexta (27). A reportagem tentou falar com ele em três números de celular, tanto por ligação como por mensagens em aplicativos de conversas. Todos os telefones estavam indisponíveis.

Em uma de suas fotos de perfil, Ventura veste uniforme do 56º Batalhão de Infantaria do Rio. Seu nome já constou em lista de seleção para serviços de manutenção da unidade militar. O Exército não confirmou se tem vínculo com Ventura.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal também não se manifestou sobre a soltura do grupo em que estava Diego Ventura no dia do Natal. Levados para uma delegacia, os detidos assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência e foram liberados.

Diego Ventura, de camiseta amarela no centro, foi filmado dentro e fora do STF no dia dos ataques - Reprodução - Reprodução
Diego Ventura, de camiseta amarela no centro, foi filmado dentro e fora do STF no dia dos ataques
Imagem: Reprodução

Ventura recebia doações para cozinha do QG

Aos 38 anos, Ventura se posicionava como liderança da Abrapa 01, uma dissidência da Associação Brasileira de Patriotas. No Telegram, ainda administra grupos do movimento.

Já no Instagram e no Facebook, postava nas páginas do grupo "Direita Limpa Campos", de Campos dos Goytacazes (RJ), onde vive. Os endereços foram desativados após 8 de janeiro.

As últimas postagens mostravam uma cozinha supostamente administrada pela Abrapa 01 no acampamento do Quartel-General do Exército em Brasília, que fornecia alimentação gratuita. Também eram feitos pedidos de doação em um número de Pix atrelado ao nome e CPF de Ventura.

Relatório diário de doação da Direita Limpa ao QG de Brasília. Precisamos de 9 k [R$ 9.000] para 1 caminhão de água. Segue o pix para quem desejar e puder"

QG 01 Brasília! Atendemos a todos do acampamento que precisam de apoio para alimentação da melhor forma"

Brasília. A cozinha da Abrapa 01. Primeira cozinha do QG onde iniciou o grito de SOS Forças Armadas no Brasil"

Em outra postagem, o nome de Ventura aparece junto ao de Wellington Macedo, apontado pela polícia como um dos responsáveis por plantar a bomba no caminhão de combustível na véspera de Natal. Macedo está foragido.

Somente os fortes!!! Diego Ventura (Rio de Janeiro) e Wellington Macedo (Ceará)".

Histórico de organização de atos golpistas

Desde 2021, Ventura faz convocações para manifestações bolsonaristas, grande parte de cunho golpista.

"Você [ministro Alexandre de Moraes] dobrou a aposta, e o povo vai cobrir. Vamos parar tudo", disse em vídeo de 20 de novembro de 2022, gravado no QG de Brasília, convocando para bloqueio de rodovias pelo país.

"A direção [do movimento] é formada por representantes de dezenas de grupos de ativistas de direita conservadora e não um grupo de amigos querendo se promover. Agora são os da linha de frente a frente de tudo", postou no Twitter sobre a manifestação convocada para 31 de março de 2022, para celebrar o golpe militar de 1964.

Em 7 de setembro de 2021, quando caminhões e ônibus invadiram a Esplanada dos Ministérios com intenção de chegar ao Supremo, Ventura também fez vídeo convocando para resistir à polícia: "Venham para cá."

Homens usaram comunicadores antes dos ataques

Além de Ventura, outros dois homens acompanharam Ana Priscila Azevedo em 8 de janeiro. Como o UOL mostrou, eles usavam rádio comunicadores pouco antes da invasão aos três Poderes.

Em um vídeo obtido pela reportagem, é possível ver os dois homens se aproximando de Ana Priscila durante a marcha rumo ao Congresso, no início do dia 8. A bolsonarista pediu "cobertura" para se juntar à manifestação e os homens concordaram em fazer a escolta.

Diego Ventura se juntou a eles. Em diversos vídeos, o grupo aparece junto, antes e após as invasões aos três Poderes. Os dois homens não foram identificados.