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Com votação recorde, Arthur Lira é reeleito presidente da Câmara

Do UOL, em Brasília, Rio, São Paulo e colaboração para o UOL, em Salvador*

01/02/2023 19h36Atualizada em 01/02/2023 21h42

Com uma ampla gama de apoios que vai do PT ao bolsonarismo, Arthur Lira (PP-AL) foi reeleito presidente da Câmara dos Deputados com a maior votação da história da Casa. Ele teve 464 votos, contra 21 de Chico Alencar (PSOL-RJ) e 19 de Marcel Van Hattem (Novo-RS).

Lira articulou sua reeleição antes mesmo do resultado da eleição presidencial, que terminou com a vitória de Lula (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) —ele era um dos aliados mais próximos do ex-presidente.

Os 464 votos de Lira superam com sobras o recorde anterior na eleição para o comando da Câmara: Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), presidente em 1991 e 1992, e João Paulo (PT-SP), 2003 e 2004, tinham até então as vitórias mais folgadas, tendo ambos obtido o apoio de 434 parlamentares.

Após a vitória, Lira foi cercado por dezenas de deputados do Centrão ao assumir novamente a cadeira de presidente da Câmara. Chamou atenção que parlamentares do PT ou próximos ao governo Lula não tiveram a mesma atitude, assim como bolsonaristas raiz.

Como Lira construiu votação recorde?

Mesmo tendo sofrido um revés importante ao ver o STF considerar o orçamento secreto ilegal, Lira manteve sua força e não teve nenhum candidato com musculatura como adversário. Pesou para isso o fato de ter sido a primeira autoridade a reconhecer a vitória de Lula, ainda na noite de 30 de outubro.

Com o gesto, pavimentou o caminho para uma aliança com o atual governo, mesmo com as trocas de farpas com Lula durante a campanha eleitoral.

O chefe da Câmara pediu o suporte de Lula em troca de ajuda na aprovação da PEC da Transição para manter o pagamento de R$ 600 do Bolsa Família, uma das principais promessas do petista durante a campanha eleitoral.

A articulação também envolveu benesses para os deputados. Na semana passada, o alagoano fez gestos de aceno aos membros da Câmara para conseguir apoio.

Ele concedeu aos colegas o dobro do valor do auxílio-moradia, reajuste na verba para gasolina e mais gastos com passagens aéreas.

Os eleitos para a Mesa Diretora da Câmara são:

Presidente - Arthur Lira (PP/AL)
1ª vice-presidência: Marcos Pereira (Republicanos-SP) - 458 votos
2º vice-presidência: Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) - 385 votos
1ª Secretaria: Luciano Bivar (União-PE) - 411 votos
2ª Secretaria: Maria do Rosário (PT/RS) - 371 votos
3ª Secretaria: Júlio César (PSD/PI) - 467 votos
4ª Secretaria: Lúcio Mosquini (MDB/RO) - 447 votos

'Sem subordinação'

Após a vitória, Lira condenou atos golpistas e prometeu agir contra quem atentar contra a democracia (leia a íntegra do discurso).

Neste Brasil não há mais espaço para aqueles que atentam contra os Poderes que simbolizam nossa democracia. Esta Casa não acolherá, defenderá ou referendará nenhum ato, discurso ou manifestação que atente contra a democracia. Quem assim atuar, terá a repulsa deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e os rigores da lei. Para aqueles que depredaram, vandalizaram e envergonharam o povo brasileiro haverá o rigor da lei.

Antes da votação, Lira afirmou querer um pacto com os demais Poderes.

Quero estabelecer com o Poder Executivo não uma relação de subordinação, mas de um pacto para aprimorar e avançar nas políticas públicas a partir da escuta cuidadosa e de sugestões das nossas comissões.
Arthur Lira (PP-AL)

Lira também defendeu a liberdade de expressão, mas rebateu o uso desse argumento contra a democracia.

Faço a defesa firme do nosso sagrado direito à liberdade de expressão, desde que não represente uma ameaça ao único regime que nos concede esse direito, que é a nossa democracia.

Ele também apontou qual será sua posição em relação ao STF.

Quero destacar aqui que se o Plenário fala pela vontade da maior parcela de deputados, se eleito, jamais concordarei passivamente com a invalidação de atos, por recursos da minoria, em Tribunais Superiores.

Foco no TCU. Nos corredores da Câmara, banners e panfletos eram expostos com o nome dos candidatos à Mesa Diretora. O foco da campanha também é a eleição de um nome a ser indicado pela Câmara para o TCU (Tribunal de Contas da União), marcada para quinta-feira (2).

Um olho lá, outro cá. Com a disputa praticamente resolvida na Câmara, deputados consultavam assessores e atualizavam a página do Senado —no celular— durante a sessão para saber o andamento da eleição na outra Casa.

A cada atualização do placar, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) informava seus correligionários petistas, como Zeca Dirceu (PT-PR). Em outra fila para a cabine de votação, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também acompanhava.

Torcida forte. Bolsonaristas fizeram campanha pelo senador Rogério Marinho (PL-RN), que alcançou 32 votos contra 49 de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A deputada Bia Kicis (PL-DF) acompanhou a leitura dos discursos no Senado.

Aliados e amigos. Os ex-integrantes do governo Bolsonaro se sentaram juntos durante os discursos antes da eleição na Câmara. Eduardo Pazuello (PL-RJ), Mário Frias (PL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) passaram todo o tempo conversando. O trio aplaudiu o discurso do candidato Marcel Van Hattem (Novo-RS), que criticou o governo petista.

*Com reportagem de Gabriela Vinhal, Leonardo Martins, Igor Mello, Lola Ferreira e Pedro Vilas Boas