Topo

Oposição bolsonarista se diz fortalecida e mira aliado de Pacheco na CCJ

1º.fev.2023 - Rogério Marinho, candidato derrotado à presidência do Senado apoiado por Bolsonaro - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
1º.fev.2023 - Rogério Marinho, candidato derrotado à presidência do Senado apoiado por Bolsonaro Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL em Brasília

02/02/2023 04h00

Apesar da derrota de Rogério Marinho (PL-RN) na disputa para a presidência do Senado, parlamentares que o apoiavam viram no placar de 32 votos um fortalecimento da oposição ao governo Lula.

Para esses senadores, o grupo ganha corpo e deve bater de frente em questões, como barrar uma possível permanência de Davi Alcolumbre (União-AP) no comando da principal comissão do Senado.

Alcolumbre foi um dos principais articuladores da reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teve 49 votos. Segundo fontes, um dos acordos para garantir a recondução de Pacheco envolveu a permanência de Alcolumbre na CCJ, e bolsonaristas já sinalizam descontentamento.

Acho que é um desgaste muito grande para começar uma nova gestão [manter Alcolumbre na presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)]. Não tenho nada contra o Alcolumbre, mas o fato é que a CCJ não funcionou.
Senador Carlos Portinho (PL-RJ)

Já para os governistas, o placar de votos para Marinho —maior do que o número de senadores no bloco de partidos que sustentaram sua candidatura (PP, PL e Republicanos com 23 senadores)— é apenas "circunstancial".

Na disputa, Marinho representava a força política do ex-governo de Jair Bolsonaro (PL), enquanto Pacheco teve o amplo apoio do atual Executivo petista.

"O bloco tinha 23 senadores e agora com mais nove senadores, somando 32 que tivemos em votos nessa eleição, obviamente que isso nos fortalece, embora tenhamos perdido para um governo que tem instrumentos. Não ganhamos, mas mostramos que somos 32", afirmou ao UOL Portinho, ex-líder do governo Bolsonaro no Senado.

"A oposição mostrou força, foi um placar expressivo", afirmou o senador Sergio Moro (União-PR).

O candidato derrotado Rogério Marinho (PL-RN) disse ao UOL que fará uma oposição "vigilante" e "propositiva".

"Ficou muito clara qual é a forma como queremos atuar aqui no Parlamento, em defesa das prerrogativas do Congresso Nacional, mas também na defesa de um legado econômico que não pertence apenas ao governo Bolsonaro ou ao governo do presidente Temer. Estamos preocupados com as ameaças feitas pelo presidente eleito", afirmou Marinho, sem detalhar a o que se referia.

O placar também deu à oposição o vislumbre de um poder de CPI. Isso porque, para pedir a abertura de um colegiado desse tipo, é necessário o apoio de ao menos 27 senadores antes da decisão final do presidente da Casa.

"Sempre que houver um fato que justifique a instalação de uma CPI, nosso papel é se debruçar sobre ela. Mas isso vai acontecer de acordo com as circunstâncias. Não vou me antecipar, mas já dissemos publicamente que, sobre os fatos de 8 de janeiro, somos favoráveis a uma ampla investigação", disse Marinho.

Governo não vê ameaça

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o placar de Marinho não significa que haverá 32 votos da oposição no Senado aos projetos prioritários para o governo Lula.

Segundo ele, há disposição de a oposição aprovar as propostas de interesse do país. Padilha relatou a jornalistas que, ainda antes da votação, disse a Marinho que o governo quer diálogo com ele e com a oposição e que não haverá perseguição a opositores.

O ministro afirmou que o governo não interferiu na votação no Senado. Ele rebateu a informação de que parlamentares ganharam cargos para votar em Rodrigo Pacheco.

Padilha disse que os eleitores do presidente do Senado reeleito já haviam indicado cargos na administração —portanto, esse argumento não teria sentido. Ao mesmo tempo, o ministro disse que a ideia é manter uma boa relação com o Congresso.

O ministro disse que a "máquina de conflitos" que existia no Palácio do Planalto durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) "foi desligada".

Para o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os votos de Marinho "são circunstâncias que serão resolvidas".

A reportagem do UOL perguntou se o comando da CCJ, prometido a Alcolumbre, era uma dessas circunstâncias. Randolfe respondeu: "Circunstâncias que serão resolvidas" e riu, encerrando a entrevista.