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Cassada, petista sofre ameaça: 'Só o primeiro passo. Vou cassar sua vida'

Maria Tereza e sua família foram ameaçados: "Você tem que morrer de pancada. Você e sua família de merda" - Reprodução Facebook
Maria Tereza e sua família foram ameaçados: "Você tem que morrer de pancada. Você e sua família de merda" Imagem: Reprodução Facebook

Do UOL, em São Paulo

06/02/2023 04h00Atualizada em 07/02/2023 12h37

Maria Tereza Capra (PT) perdeu o mandato de vereadora de São Miguel do Oeste (SC) numa sessão na sexta-feira (3) à noite. Mas, durante a tarde daquele dia, uma mensagem avisava que essa não deveria ser sua maior preocupação.

Cassar seu mandato é só o primeiro passo. Vou cassar sua vida depois, [xingamentos]. Você é tão feia que nem merece ser estuprada, tem que morrer de pancada você e sua família de merda."
Ameaça por e-mail

Embora a ameaça tenha sido contra Maria Tereza, o e-mail foi recebido pela vereadora de Joinville Ana Lúcia Martins (PT), que manifestara apoio à colega de partido.

Ana Lúcia registrou boletim de ocorrência e informou que os ataques partiam de um endereço eletrônico da Presidência da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste. O presidente da Câmara, Vagner Passos (União), declarou que a informação não procede e será divulgada uma nota de esclarecimento ao longo do dia.

Maria Tereza entrou na mira de bolsonaristas em 2 de novembro, após Lula vencer as eleições. Naquele momento, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que bloqueavam o trevo de acesso a São Miguel do Oeste apareceram em um vídeo com os braços esticados.

A petista afirmou que parecia uma saudação nazista. O Ministério Público de Santa Catarina também suspeitou e abriu investigação —no final, aceitou o argumento de que os manifestantes queriam emanar energias positivas.

Enquanto a apuração ocorria, Maria Tereza precisou sair da cidade. Ela passou 90 dias refugiada em Porto Alegre. Voltou a São Miguel do Oeste acompanhada por agentes da Polícia Federal, para a sessão que cassou seu mandato.

A agora ex-vereadora foi incluída no Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos do governo federal. Mas a escolta não significa tranquilidade.

Maria Tereza afirma que em São Miguel do Oeste tem medo de ir à padaria, ao supermercado ou ao restaurante. A preocupação diz respeito a ela e seus familiares porque o e-mail tinha um tom muito agressivo.

Não devia ter denunciado os patriotas por fazer a Saudação Romana diante do quartel, Maria Tereza. São Miguel do Oeste não é uma cidade nazista, é uma cidade NACIONAL-SOCIALISTA, mas você é burra demais para entender isso [xingamento]."
Trecho da ameaça

Ela era a única vereadora de esquerda da cidade e sempre se envolveu em embates com os colegas de Câmara Municipal.

"Recebia ataque por conta do Lula (PT), mas coisa da política. Atacavam Lula, eu atacava Bolsonaro. Depois ficou questão pessoal."
Maria Tereza Capra (PT-SC), vereadora cassada

jk, - Divulgação - Divulgação
A vereadora Ana Lúcia Martins é a primeira vereadora negra de Joinville
Imagem: Divulgação

A hostilidade escalou por causa do vídeo de 2 de novembro com vários militantes bolsonaristas de braços esticados. Influenciadores, políticos e jornalistas começaram a questionar se era uma saudação nazista.

Maria Tereza ecoou a pergunta. Na mesma noite, a Câmara Municipal aprovou uma nota de repúdio, e ficou claro que seria aberto um processo de perda de mandato.

As providências agradaram centenas de bolsonaristas que atenderem a uma convocação feita em grupos de WhatsApp e compareceram à sessão. Muitos deles participaram da manifestação em frente ao quartel que pedia intervenção militar —incluindo quatro vereadores.

No dia seguinte, a petista descobriu que alguém riscara seu carro. Com um objeto pontiagudo, foi feito um desenho para simular um alvo a ser eliminado.

Assim que melhorou de uma virose, em 6 de novembro, ela saiu da cidade. Ficou fora até a última sexta-feira, quando houve a sessão para cassar seu mandato.

A ex-vereadora diz que vai recorrer. Ela afirma que o presidente da comissão de cassação e o relator na Câmara estavam na manifestação com suposto gesto nazista.

Também reclama que usaram seu questionamento sobre ser uma saudação nazista para insuflar a cidade e transformá-la numa inimiga de São Miguel do Oeste.

Eles [vereadores], no afã de me cassar, colocaram como se eu tivesse acusado a cidade toda, e eu não acusei ninguém. A cidade não é nazista, a cidade não pode ser confundida com aquele grupo de pessoas."

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Maria Tereza, durante sessão na Câmara Municipal de São Miguel do Oeste
Imagem: Reprodução Facebook

O advogado da ex-vereadora, Fabio Tofic Simantob, está examinando a melhor forma de entrar com um recurso. Ele reclama que o Judiciário atua de forma tímida em questões desta natureza por causa do argumento de não intervir em outro poder. "Quando o legislativo corre solto, Câmaras Municipais abusam do poder da maioria e, acabam detendo um poder de vida e de morte sobre o mandato de minorias".

Enquanto a questão jurídica corre, Maria Tereza precisa resolver alguns dilemas. Advogada, ela tem escritório, carreira e uma filha na cidade. Além disso, considera um ultraje ser expulsa por ter orientação política diferente de pessoas que ameaçam usar a força para fazer sua vontade prevalecer.

"Seus dias e os dias de sua família estão contados [xingamento]", ameaçava outro trecho do e-mail.

A questão é se ela conseguirá viver tranquilamente em São Miguel do Oeste. Ainda mais depois do e-mail ameaçando familiares.

"Eu tenho medo de ser assassinada."

A ex-vereadora encaminhou o e-mail para a polícia e aguarda orientações do programa de proteção. Mas ela não esconde que seu estado de espírito foi abalado. "É assustador".