Aceno de Lula a pacificação com BC é visto como vitória de Haddad
Depois de duas semanas de clima tenso, a relação entre o governo federal e o Banco Central dá sinais de calmaria. Isso está sendo encarado no Ministério da Fazenda como uma vitória do ministro Fernando Haddad.
Em meio a um conflito interno no PT e no governo sobre como lidar com a taxa de juros, uma atribuição do BC, o presidente Lula (PT) indicou que vai parar com as declarações duras e deixar que a Fazenda faça a interlocução com o órgão. Haddad, a ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Roberto Campos Neto, presidente do banco, almoçaram ontem (17) e selaram a paz.
Lula quer que a atual taxa básica de juros, a Selic, seja reduzida. Nas últimas semanas, tem falado publicamente que 13,75% é "uma vergonha" e que "só prejudica o povo".
Além disso, pessoas próximas ao presidente dizem que Lula não confia em Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL), e teme sabotagem por parte da autoridade monetária —desconfiança que ele faz questão de deixar clara.
A estratégia de levar o debate a público é fruto de um racha dentro do PT e das pessoas mais próximas de Lula. Isso tem sido endossado pela presidente do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), que já acusou Campos Neto de estar "desconectado da realidade brasileira".
Mais discreto, mas igualmente adepto às críticas, o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, diz que não é seu papel falar sobre juros, mas afirma que em seu banco as taxas ficarão baixas.
Do outro lado, está Haddad. Polido, ele tem insistido que Lula abandone as provocações públicas e deixe o ministro ser o interlocutor com o BC na tentativa de reduzir os juros.
Nas duas últimas semanas, o grupo que defendia levar o debate a público estava vencendo, mas, desde ontem, a maré parece ter virado a favor de Haddad.
Em entrevista à CNN Brasil, Lula acenou para uma pacificação. Disse que Haddad "tem toda a disposição" para conversar com Campos Neto e que isso deve ser feito "todo dia, toda hora".
Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central, que eu pouco conheço, eu vi ele uma vez."
Lula, na sexta, em entrevista à CNN Brasil
Para a Fazenda, foi uma indicação de que Lula ouviu o que Haddad vinha pleiteando há um tempo: ser o elo entre o governo e a autarquia.
Na tarde de ontem, ele, Tebet e Campos Neto se reuniram para a primeira reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) do novo governo. A reunião durou menos de 30 minutos e, como previsto, não deliberou sobre a Selic.
Antes, no entanto, fizeram um almoço de pacificação. Sem nem os assessores na sala, os três conversaram por duas horas. Segundo relatos, o papo teve cobranças de "ambos os lados", mas acabou com clima leve e descontraído.
De olho em 2026
Mais do que os juros, o caso evidencia disputas internas por protagonismo dentro do PT. Após a vitória nas eleições, as rusgas já voltam a aparecer, segundo petistas e apoiadores do governo.
Pupilo do presidente, Haddad é um dos nomes fortes para sucedê-lo em 2026 —embora não o único. Já o grupo de Gleisi, mais tradicional no PT, quer mudança, sob o argumento de que o ex-prefeito de São Paulo vem de três derrotas eleitorais seguidas.
Mercadante também estaria insatisfeito com o cargo do banco com sede no Rio de Janeiro, afastado de Brasília. Mas isso é algo que ele nega ao dizer que fica até mais perto dos netos, em São Paulo.
Por ora, parece uma vitória de Haddad, mas amanhã tudo pode mudar. Embora ouça conselheiros, Lula costuma tomar as decisões que julga conveniente na hora em que julga conveniente, sem avisar a ninguém sobre a girada no timão.
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